quinta-feira, 31 de março de 2011

Achado

Eu separei todos os emails que ele me mandou numa pasta dentro de cada 
uma das minhas caixas de email. Tem muitos de quando não estávamos juntos, 
muitos com fotos dele, das andaças na Europa e muitos emails coletivos 
com fotos do Matheus. Vezenquando, eu entro nessas caixas de email 
só pra lembrar do jeito dele, da forma como escrevia,  do "amo vc!" no final. 
E aí, hoje eu fiz a mesma coisa, e me deparei com esse email aqui. 
A música tem muito a ver e, mais uma vez, ele tinha razão:
"essas coisas NEM mesmo com o tempo se pode esquecer"...

Quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2006 0:28
De:
Para: "Marcele"
  
Oi, Cele!

Vc tá bem? hehehehe
Estava já deitado na cama, quando resolvi ligar novamente o computador e enviar pra vc essa música que tá me fazendo lembrar vc...
Acho q tô me apaixonando de novo pela Meritíssima... droga! hehehehe

Costumes

(Roberto Carlos & Erasmo Carlos)

Eu pensei
que pudesse esquecer
certos velhos costumes
Eu pensei
que já nem me lembrasse
de coisas passadas

Eu pensei
que pudesse enganar
a mim mesmo dizendo
que essas coisas da vida em comum
não ficavam marcadas

Não pensei
que me fizessem falta
umas poucas palavras
dessas coisas simples
que dizemos antes de dormir

De manhã
o bom dia na cama
a conversa informal
o beijo depois o café
o cigarro e o jornal

Os costumes me falam de coisas
de fatos antigos
não me esqueço das tardes alegres
com nossos amigos

Um final de programa
fim de madrugada
o aconchego na cama
a luz apagada
essas coisas
só mesmo com o tempo
se pode esquecer

E então eu me vejo sozinho como estou agora
e respiro toda a liberdade
que alguém pode ter

De repente ser livre
até me assusta
me aceitar sem você
certas vezes me custa
como posso esquecer dos costumes
se nem mesmo esqueci de você!!!

Então posso dizer que dessa vez Roberto Carlos errou: "essas coisas NEM mesmo com o tempo se pode esquecer"...

Que seu dia seja tão maravilhoso como os bons pensamentos que estou tendo agora...

Amo vc, morena!
Thi Castro


quarta-feira, 30 de março de 2011

A nóia

Tem uma série de ditados na cultura popular para falar desse sentimento, só lembro agora do "Cachorro mordido por cobra tem medo até de salsicha". Fato é que, depois do janeiro trágico, alguns traumas foram acrescentados à minha psique e à dos meninos. Por exemplo, Matheus não pode ouvir falar em batida de carro que pergunta logo quem morreu. E eu desenvolvi um certo pânico à falta de notícias. Se eu tento ligar para alguém próximo e o celular chama e ninguém atende, eu fico logo com uma pulga atrás da orelha. Se eu mando uma mensagem em seguida e continuo sem resposta, pronto, revira tudo por dentro, o coração começa a perder o ritmo, aquele frio congelante na barriga... Começo a ligar para terceiros para saber. Começo a pensar naquele celular que tocava, tocava, tocava... Começo a lembrar das inúmeras ligações minhas, não atendidas, que eu vi no visor do celular dele muitas horas depois. Voltam inevitavelmente aquelas sensações todas. E nem adianta dizer que faz só duas, três horas que eu encontrei/falei com a pessoa. Lá no janeiro trágico, eu tinha falado pouco mais de meia hora antes... Nem adianta dizer o tradicional "notícia ruim chega logo", porque eu não quero ter mais notícia ruim nenhuma! Não é nada racional, eu sei. Não faz o menor sentido. Eu também sei disso. Mas eu não consigo evitar. Fica passando na minha cabeça uma nova tragédia e tudo em mim sai do lugar, como se a gravidade sumisse e o de dentro, de repente, começasse a chacoalhar sem a força da pressão atmosférica. A tensão que esses pequenos sustos me causam pode levar algumas horas para ser dissolvida. E eu fico lá, com esse chilique panicoso a me torturar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Essência de sol

De preferência, que cada dor da gente não fira ninguém até poder se transformar em algum jeito de dádiva, porque grande parte delas se transforma. Que mesmo doendo, aqui e ali, a gente possa ter também valentia suficiente para não abrir mão da nossa capacidade de amar e nem da nossa sincera alegria diante da preciosidade charmosa e abundante da vida. Com tudo o que ela diz e, jardim permeado de sementes, ainda pode fazer florir.

Viver é rico demais, mas, não é raro, a gente esquece o acesso à própria fortuna. As nuvens, mesmo as mais densas, são transitórias. Nós, essencialmente, somos sol. (Ana Jácomo)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ali onde eu chorei qualquer um chorava. Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava.

Passei o domingo esparramada na cama, crianças visitando a vovó e eu lá deitada com livros, séries, filmes, internet e meus próprios pensamentos. Não sei como eu comecei a sessão nostalgia, mas sei que ela me invadiu com pensamentos guardados muito profundamente, numa caixinha instável, que suporta muito mais do que é capaz e estava escondida no porão do de dentro, trancada e lacrada. Acho que talvez tenha sido por conta da ligação da Keka, perguntando se eu havia trocado meu nome quando do meu casamento, ela estava fazendo a lista dos convites do casamento dela com o Greg e precisava anotar. E aí, veio assim, as lembranças de quando começamos a namorar, da companhia deles dois, das nossas noites de sexta sempre no Picanha à moda. Veio a lembrança da certeza do sentimento que nos unia, da força e do turvamento que ele causava. Veio a sensação de segurança que ele insistia em me passar, da confiança que ele queria que eu tivesse, e eu, marcada e traumatizada por um relacionamento doentio anterior, não conseguia ter. Como eu era boba! Eu já sabia que ele seria a pessoa da minha vida, mas eu não sabia como segurar a onda. Eu via o cara bacana que ele era, o filho amoroso, o estudante exemplar, eu ouvia histórias de aluninhas suspirando por ele e de colegas de escola que paravam para vê-lo passar (quem não ia querer um cara como ele?) e aquilo me doía como se eu estivesse sempre com a faca no pescoço. Demorou tanto para eu entender que ele estava na minha, demorou tanto para eu me sentir tranquila, que eu nem sei bem como fomos capazes de superar tanto ciúme. Lembro bem de como a gente se demorava em incontáveis ligações noturnas e do quanto a gente gostava de escrever cartas, mensagens, emails. Cada data, cada dia, centenas de palavras amorosas cercavam a nossa história e eu me comovia e choraaaaava. Eram as palavras as nossas principais demonstrações de amor. Lembro da tranquilidade, da sensação de paz, do conforto que estar com ele me causava, lembro da vontade de estar sempre perto, mais perto, cada vez mais. Lembro de como era dolorido ter que se despedir e o quanto comemoramos quando fomos morar juntos, porque finalmente a gente não tinha mais que dormir separado, ele não tinha mais que me deixar em casa e seguir sozinho para casa dele, agora era nossa a casa. Eu tenho saudades de mil e uma coisas. Eu tenho saudade da curva do ombro, dos sinais no pescoço, da boca carnuda, do jeito carinhoso com que me chamava de princesinha desde todo sempre. Eu tenho saudade principalmente de estar ao lado, com aquela mão enorme, com dedos de salsicha - como diria o Saboia; segurando a minha. Eu tenho saudade do cafuné no meu cabelo antes de dormir e das conversas que a gente tinha, eu na cama e ele tomando banho no banheiro. Saudade da confiança mútua, do respeito, da admiração, do orgulho, da sensação de pertencimento, de ler o olhar, de entender antes que qualquer coisa seja dita, do conforto, da amizade, dos conselhos, dos planos que eram nossos e era tudo completamente recíproco. Lembro da mania de achar que tudo tinha jeito e do meu jeito desesperado de pensar que tudo vai dar errado. Lembro de como eu ficava tensa, exaltada, nervosa em muitos dias e ele abria os braços, dizendo: "Vai me engolir?". Lembro da chave girando na porta e de esperar sempre pela saudação dele, em alto e bom som, como aquele bom humor que, às vezes, me irritava. Lembro de brigar com ele porque ele não conseguia dizer não para as pessoas, para ninguém. Lembro das noites em que ele saía para o plantão e deixava o Matheus tomando conta de mim e do irmãozinho bebê, dizendo que ele era agora o homem da casa. Reflito sobre essas recomendações até hoje e acho que ela reverbera na mente do meu pequeno grandão, porque é perceptível o cuidado que ele tem comigo e com o Thomás. Lembro das ligações que ele me fazia do plantão, das conversas que tínhamos na noite em que ele não dormia em casa, e no quanto eu ficava feliz e relaxada por conseguir ficar deitada na cama assistindo TV, depois do fim de semana inteiro correndo com o marido hiperativo e pinguço para almoços, praias, bares, festas. Ele me ensinou muitas coisas e me cobrava muito também, que eu fosse uma dona de casa melhor, que eu fosse mais atenta, mais disciplinada, mas ele tinha uma admiração incrível pela pessoa que eu era, em todos os aspectos, e nunca deixou de repetir que eu me tornara a mulher que ele queria para a vida toda. A gente tinha um amor muito óbvio e bem inevitável, do tipo que virou o mundo, superou o tempo, o espaço, a distância e outras pessoas que até chegaram a fazer cosquinhas no nosso coração e se realizou, se expandiu quando as crianças nasceram. Para mim, mesmo no meio dos momentos difíceis porque passamos, era muito óbvio que tudo valia a pena porque existia esse AMOR, assim mesmo, em caixa alta. E, por ele, eu fui capaz de perdoar, de esquecer, de superar e, por causa dele, amadurecer. A vida ficou muito vazia e o meu mundo muito silencioso depois que ele se foi. No começo, era como se tudo em mim estivesse em carne viva e respirar doía, falar doía, pensar doía, viver doía demais. Ser feliz parecia uma coisa sem sentido algum, sem razão, sem porquê. O mundo não parou pra me ver tombar, o mundo não anunciou a minha história trágica no jornal, não recebi atendimento prioritário em lugar nenhum porque a dor que eu carregava me dobrava os joelhos, parecia que ninguém entendia que haviam extirpado meu coração, que eu estava sangrando, que eu estava esvaindo dentro de mim. Sentia como se tudo fosse ficar para sempre em preto em branco sem ele por perto. Sentia que eu nunca conseguiria me por em pé, respirar profundo, sorrir com vontade, sentir borboletas, amar de novo. Sentia que aquela perda definiria minha existência inteira e esta seria triste, arrastada, pesada, amarga até. Mas o tempo passou e mesmo não tendo esquecido nada disso tudo que eu vivi, mesmo doendo no peito ter perdido esse homem, eu percebo que eu posso ser plenamente feliz de novo, que aquela história teve um final trágico e muito triste, sim. Mas eu não quero viver despedaçada, eu não quero mais ser caquinhos, farelos, migalhas de uma pessoa que amou com tudo, profundamente. Eu quero viver de novo. E dentro de mim eu sinto que ele também ficaria feliz com a minha felicidade, mesmo que isso implique em outro alguém. Eu tenho saudades de tudo, ainda sim, sempre. E constato que esse amor venceu. Venceu, vencemos. E eu acabo de descobrir, simples assim, que eu nem quero me livrar desse sentimento, que quero conviver com ele, eu quero que ele se encaixe e tome assento, que caiba aqui dentro de mim, tenho que enfim parar de querer ganhar dele, parar de querer extingui-lo. Porque ele não se foi quando nos separamos, ele não se foi nas inúmeras dificuldades por que passamos e ele não irá agora. Ele é incrivelmente resistente e sobrevive. É isso: eu ainda amo, talvez para sempre. Mas não é por isso que eu vou deixar de ser feliz e de viver minha vida e de aproveitar as cosquinhas no meu coração. Não quero ser paralizada por esse amor, quero que ele me impulsione, que ele me recubra da sensação de que eu mereço muito mais ainda ser amada, ser inteira, tentar de novo. Amo ainda, é fato. Sem pressa, como se só saber que esse amor existe já me bastasse. Sabe, não é um sentimento egoísta, muito menos possessivo, nem depressivo, nem desesperado. Não é mais um sentimento que me deixa de joelhos, dobrada, envergada de dor, sem ar, sem esperança, sem conseguir respirar. É apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranqüila, bonita, saudável, de longe. E, quem diria: leve!

domingo, 27 de março de 2011

Caio F. autor da minha vida VI

"No vácuo de mim eu me despenco. Porque seria preciso também abdicar de mim mesmo para novamente reconstruir-me. Tornar a escolher os gestos, as palavras, em cada momento decidir qual dos meus eus assumir. Já esfacelei meu ser, já escolhi as porções que me são convenientes, esquecendo deliberado as outras. E são elas - serão elas? - que agora se movimentam revoltadas, pedindo passagem em gritos mudos, na ânsia de transceder limites, violentar fronteiras, arrebentando para a manhã de sol. O tremular da chama é um aceno, convite para chegar à verdade última e íntima de cada coisa.

Não quero. Não posso restar nu, despojado de mim mesmo. Não posso recomeçar porque tudo soaria falso e inútil. As minhas verdades me bastam, mesmo sendo mentiras. Não é mais tempo de reconstruir.

Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não se assustar. Entrar nela significa viver.

Sôfrego, torno a anexar a mim esse monólogo rebelde, essa aceitação ingênua de quem não sabe que viver é, constantemente, construir, não derrubar. De quem não sabe que esse prolongado construir implica em erros, e saber viver implica em não valorizar esses erros, ou suavizá-los, distorcê-los ou mesmo eliminá-los para que o restante da construção não seja abalado. Basta uma pausa, um pensamento mais prolongado para que tudo caia por terra. Recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa única existência. Por isso me esquivo, deslizo por entre as chamas desse pequeno fogo, porque elas queimam. E queimar também destrói."

(Caio Fernando Abreu, Itinerário, in: Caio 3D - O essencial da década de 1970)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Descoberta

Eu fico cabriolando aqui com meus botões e me fazendo perguntas estapafúrdias e nada, nada, nada sensatas. Eu fico diminuindo a minha atitude, a minha importância, a minha presença. Eu uso eufemismos para expressar meus sentimentos, todo meu querer. Eu falo que não e meu corpo inteiro vibra que sim. Eu engulo a vontade de dizer muito mais, engulo em seco, engulo o sapo. Eu controlo as borboletas, os pensamentos, as vontades e saio arremessando cenouras como que em competição de arremesso de pesos. No meu caso, também sinto que venço à medida que consigo jogar o mais distante possível, a diferença é que eu corro para pegar a cenoura arremessada e, quando chego lá e consigo pegá-la, eu arremesso mais uma vez, mais distante ainda. Dez metros, cinquenta metros, cem metros... Numa corrida frenética que nunca tem fim e, vezenquando, me deixa cansada, exaurida, a ponto de desistir. Falta ar, a respiração é trôpega, cortada, asmática. Eu corro porque não quero parar mais para pensar no que dói, no que falta, no que preenche, no que sinto. Eu não quero refletir sobre nada. Vou correndo, atropelando tudo pelo caminho. Só faltava estar vendada, mas ainda assim não haveria muito problema porque, de todo modo, eu me guio pelo meu instinto. Esbarro em obstáculos, rasgo os joelhos, me arranho toda, fico tonta, hipoglicêmica e corro, corro, corro. Nenhuma dor poderá ser maior que a que eu senti. Nenhum sofrimento poderá ser capaz de me fazer fraquejar. Ninguém será capaz de magoar meu coração mais que a vida, por si mesma, tratou de fazer. Nada a temer. Eu corro. Muitas vezes, penso em desistir de mim, de ser quem eu sou, dessa intensidade e dessa urgência em chegar em algum lugar. Muitas vezes, há vontade de jogar tudo pra cima e vestir a camisa da insanidade e jogar o juízo num canto qualquer e dar um pause nas razões, nas buscas e nos quereres. Mas isso não seria eu. Eu corro, eu quero, eu faço, eu posso, eu sei que sou capaz e me obrigo. E, aí, num dia qualquer, no meio do nada, sem refletir, sem pensar muito nesse jeito meio troncho de sobreviver, eu descubro que nem era nada disso, descubro que eu só queria alguém que segurasse minha mão e apreciasse a paisagem comigo. Assim, eu poderia caminhar lentamente, respirar profundamente, e ir com calma.

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Muita gente nova chegando por aqui. Obrigada pela leitura e, principalmente, pelo carinho!

quarta-feira, 23 de março de 2011

De mudança

quarta-feira, 7 de Julho de 2010


De um universo a outro.

É difícil mudar de casa. Sair da casca. Deixar o quentinho do cobertor. Sair do banho e alcançar a toalha. Mudanças são contrastes de estados e, por isso, doloridas. É nascer de novo sair de uma relação para o vazio. Ou para outra. É preciso coragem e ruptura. É preciso acreditar. Comum permanecermos imóveis por mais que o suportável. Sair do banho e agachar enrolado na toalha, pensando na vida. Demorar um tempo até tomar coragem pra mudar de posição. Mudar é um parto, sempre. Mesmo que o novo mundo seja melhor. Diante do universo inteiro que se anuncia novo, ou de alguém que chegou de surpresa, muitas vezes nos acovardamos.

DAQUI: Amor e ponto
 
E num é que ela tem razão?

terça-feira, 22 de março de 2011

Só é meu o mundo que trago dentro da alma*

Peguei o livro "Estrela da Vida Inteira" para copiar lá no Céu Azul o meu poema favorito. Aí, ao abri-lo, eis que encontro a seguinte dedicatória:

"À minha estrela da vida inteira.
Com todos os amores do céu,
Thiago Castro de Moraes
23/07/02"

Um turbilhão de pensamentos e recordações me fazem cambalear. Desde coisas simples, como a lembrança das vezes sem conta em que ele chegara com um livro pra mim, assim do nada, só porque sabia que eu gostaria de ler, sabia da minha paixão; bem como a estranheza da dedicatória, que hoje parece fazer todo o sentido do mundo.

E mesmo cambaleante, eu sinto uma necessidade premente, urgente de não me deixar abater. E sigo feliz por ter vivido esta história, por ter tido essa pessoa na minha vida, por ser ele o pai dos dois pequenos, por poder dividir com vocês e, de alguma forma, poder ajudar alguém (de tanto que me falaram eu até me convenci de que o que eu escrevo serve para mais alguém).

Cada vez mais certa de que a vida é mesmo louca, mas o que vale é aquilo que a gente tem dentro e o que a gente faz diante do que nos é imposto. E, pra terminar, outro poema muito lindo que entitula essa postagem:

Um poema de Chagall

Só é meu
O país que trago dentro da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
Ele vê a minha tristeza
E a minha solidão.
Me acalanta.
Me cobre com uma pedra perfumada.
Dentro de mim florescem jardins.
Minhas flores são inventadas.
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas ruas.
As casas foram destruídas desde a minha infância.
Os seus habitantes vagueiam no espaço
À procura de um lar.
Instalam-se em minha alma.
Eis porque sorrio
Quando mal brilha meu sol.
Ou choro
Como uma chuva leve
Na noite.
Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que essas duas caras
Se cobriam de um orvalho amoroso.
Se fundiam como o perfume de uma rosa.
Hoje em dia me parece
Que até quando recuo
Estou avançando
Para uma alta portada
Atrás da qual se estendem muralhas
Onde dormem trovões extintos
E relâmpagos partidos.
Só é meu
O mundo que trago dentro da alma.

(Manuel Bandeira)

domingo, 20 de março de 2011

Fim de semana na serra



Eu tava lá na Serra vendo a lua nascer enorme. Eu tava com amigos queridos, com gente que cuida, que acompanha e que torce pela gente. Eu tava lá naquela casa que ele adorava e cujo dono dizia que parte do terreno era para a nossa construção. Eu tava lá e lembrei que o tempo passa, eu lembrei dos dias em que estive lá com ele, eu lembrei de como ele brincou com o pequeno grandão, eu lembrei de reclamar do frio e ele me abraçar apertadinho, eu lembrei de passar mal na subida e na descida da serra e ele me perguntando a cada cinco minutos se eu tava me sentindo bem. Eu lembrei de como ele enchia os ambientes e como ele fazia muitas programações e todas elas incluiam a gente. Eu lembrei do quanto ele gostava de beber com seu amigo Greg. Eu lembrei do quanto ele era feliz. Eu lembrei do quanto ele era meu destino, meu norte, meu porto seguro, minha sensação de paz e completude. E agora é só falta. Falta que completa quatorze meses. Falta que dói ainda, sim. Falta que parece ter tomado assento no meu sofá, fincado fundo o canivete no meu peito. Falta de tanto, falta profunda. Quatorze meses sem ele e ainda faz uma falta enorme.

E agora somos três...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Rindo com Matheus XXI

Matheus adora atender o telefone. Ele se sente gente grande. Como ele já está super falante, tem um vocabulário bem desenvolvido e fala de maneira bem compreensível. Eu deixo e, muitas vezes, até peço que ele atenda. Ontem a Lalá estava lavando a louça na cozinha quando o telefone tocou. Pelo horário, ela achou que fosse eu ou uma das avós ligando para saber notícias deles e aí pediu que o Matheus atendesse. Ele saiu correndo e atendeu o telefone.

Matheus: Alô
Interlocutor: Alô. Quem está falando?
Matheus: É o Matheus.
Interlocutor: Você é criança?
Matheus: Sou uma criança grande. Eu já tenho quatro anos!
Interlocutor: Sua mãe está?
Matheus: Não, ela foi trabalhar.
Interlocutor: O seu pai está?
Matheus: Não, ele já morreu.
Interlocutor: Você está com quem aí?
Matheus: Com o meu irmão Thomás.
Interlocutor: Ele é adulto?
Matheus: Não. Ele é neném. Ele tem dois anos.
Interlocutor: Ah, tá. ... Bem, eu queria falar com os seus pais.
Matheus: Mas eles não estão aqui.

E aí a ligação foi encerrada. Eu fiquei me acabando de rir pensando no que o interlocutor imaginou da situação, que uma mãe viúva e louca deixou o filho (inteligente e precoce) de 4 anos cuidando do irmão menor de 2 anos e foi trabalhar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A valsa do crioulo doido

Um passo para frente, dois pra trás, três pra frente, dois pra trás, dez passos pra frente, cinco pra trás... Nesse vai vem descoordenado e sem ritmo; nesse pra lá e pra cá sem nexo e sem ginga, acabo girando em círculos sobre mim mesma e desabando tonta no chão.

Perco o foco, devaneio, procuro um ponto de equilíbrio, um apoio, uma placa que me guie, que me oriente, mas as coisas passam apressadas pela minha visão e o cerébro não chega sequer a decifrar os códigos multicoloridos e completamente desfocados que percebe. Saio cambaleante, bêbada, trôpega e sigo ainda assim, porque há qualquer coisa aqui dentro que me impele.

De certo mesmo só o bater descompassado daquilo que guardo dentro do peito e a sensação fugidia de melhor ter isso que quedar inerte, seca, fria, vazia.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Hoje não dá

Gente, vocês me perdoem, mas um não sei o quê me atormenta hoje e eu não tô mais interessada em escrever sobre essas coisas tristes demais. Eu descobri que esse blog não é sobre luto, não é sobre dor, mas é sobre esperança, sobre fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Eu quero escrever sobre a felicidade que me acompanha e me aguarda, sobre a alegria que os pequenos me proporcionam, sobre o amor. Mas hoje não dá.

Eu volto. Prometo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Desatando nós

"Sei lá, a tua ausência me causou o caos. No breu de hoje eu sinto que o tempo da cura tornou a tristeza normal. Então, tu tome tento com meu coração, não deixe ele vir na solidão, encabulado por voltar a sós. Depois que o que é confuso te deixar sorrir, tu me devolva o que tirou daqui, que o meu peito se abre desatados nós." (Altar Particular – Maria Gadu)

Não percebo explicação melhor para a sensação. É exatamente CAOS. Diante da reviravolta toda, da confusão em que se foi jogado, é preciso se virar, e continuar a caminhar, e se acostumar com a dor, com a falta não premeditada, com a ausência dolorosa, pesarosa, mais ainda porque não há ranço qualquer, não há mágoa, não há a raiva que desvirtue o amor que se sentiu e se viveu. Há, pelo contrário, tão somente uma pilha gigantesca de boas recordações e de algumas briguinhas, alguns desentendimentos. Estes, por sua vez, diante do infinito de sentimento que nos ataca, parecem tão minúsculos, tão desimportantes...

Torci para que os dias corressem rápido. Não queria aquela dor sufocante me atravessando o peito, me partindo ao meio, me dobrando os joelhos e me fazendo perder o controle sobre minha própria razão por muito tempo. Eu ficava imaginando e me preparando para o futuro em que não seria sufocante, pesado, sobrecarregado assim. Eu queria que ele chegasse logo.

Ouvi muito dizerem que ia passar, que era questão de tempo, que era conformação e resiliência. Ouvi muito dizerem que eu superaria por ser jovem, por ter a vida inteira pela frente. Hoje eu percebo que não. Não passou. Ainda dói, ainda me revolta, ainda acho um absurdo, ainda caem lágrimas aqui se eu pensar em tudo que poderia ter sido. Mas né? Eu tinha que viver e é por isso mesmo que afirmo que não sou exemplo de nada. O que chamam de superação é apenas o que me restou fazer.

Ainda assim, eu vejo claramente a minha vida se expandindo agora, ganhando novas cores, abrindo espaços para o que é inteiramente novo. Todavia, depois de tudo que ocorreu, eu não sou mais a mesma (nem poderia ser). E por mais que paute minhas relações na mais absoluta autenticidade, e por mais que tente ao máximo ser verdadeira e transparente, há por aqui um instinto de proteção que me esconde, que me cala, que impede, que domina, que afasta, que foge e, para ser completamente franca, MOR-RE de medo.

Eu fico indo e vindo, numa valsa estranha e confusa, um passo para frente e dois para trás, três para frente e um para trás. Vou pisando com cautela, abrindo devagarzinho a caixa de Pandora em que escondi meu coração, pé ante pé para que a vida não dê mais nenhum looping. Dou por vistas as emoções radicais. Dou por visto o tempo de sofrimento e crescimento e amadurecimento. Dou por vista a sensação de se perder o chão. Vou arriscando baixo, apostando pouco, segurando no corrimão e completamente encantada com o precipício, se é que vocês me entendem.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Parabéns, Ti!

Quando o pior de todos os dias da minha vida aconteceu, duas pessoas estiveram comigo em absolutamente todos os momentos. Duas pessoas me seguraram pelo braço, não me deixaram fraquejar, não me deixaram desabafar, seguraram minhas mãos, meus cabelos, enxugaram minhas lágrimas, tomaram conta de mim, da minha casa, da papelada, da rotina, até que eu ficasse em pé de novo. Era um do lado e outro do outro. Eram meus dois guardiões. Foram as surpresas mais agradáveis no meio da situação mais triste. Foram meu porto seguro, foram peças chave. Ele foi o primeiro a cuidar das coisas práticas. Juntou documentos, desabou até Sobral, foi no IML, despachou tudo para que o velório e o enterro acontecessem aqui. Ele me ligava a cada hora dando notícias de como estava lá e mostrou o grande homem que é ao acalentar os outros parentes, ao segurar essa barra monstra, ao ficar comigo o tempo inteiro, do meu lado, mas é bem do lado mesmo. Ele foi gigantesco no momento em que eu me senti mais minúscula. Ele foi muito mais velho no momento em que eu me senti mais indefesa e perdida e sozinha no mundo. Ele foi companheiro, amigo, irmão. Meu irmão! Hoje ele faz aniversário e eu encho os olhos de lágrimas de pensar no que somos hoje, nós três, um para o outro.

Parabéns, Tiago! Muitas felicidades, muito sucesso, muito dinheiro, muito tudo que houver de bom para você!
Amo você!

Rindo com Matheus XX

Domingo à noite. A gente voltando pra casa depois de ter passado o dia todo na casa da mamãe.

_ Mãe, amanhã tem escola?
_ Tem sim!
_ Mãe, amanhã você trabalha?
_ Sim, sim!
_ Ah, mãe, vai demorar pra chegar o Carnaval de novo?!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Rindo com Thomás VII

A gente tá tentando desfraldar o Thomás. Não é fácil. Ele é neném e gosta de ser neném. Não larga o bubu (chupeta) e faz questão de ser todo dengoso.

Hoje de manhã caiu um temporal aqui em Fortaleza. Matheus acordou com uma tosse bem rouca (e bem desesperadora) e reclamando de dor na garganta e eu achei melhor nem levá-los à escola. Mediquei o Matheus e pedi que a Lalá deixasse o Thomás sem fraldas. Tava com medo porque os dois estavam assistindo a uns desenhos na minha cama, mas eu conversei com o Thomás antes e pedi que ele não fizesse xixi na cama da mamãe, que quando ele estivesse com vontade, fosse ao banheiro, igual ao irmão.

Aí, eu estava lá me maquiando para vir trabalhar, chega o Thomás, todo molhado e sorridente:

_ Mamãe, plonto, eu fiz xixi banheilo.

(No chão, sem tirar a cuequinha, mas no banheiro como eu pedi!)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Das cinzas

Fica muito fácil perceber que a vida da gente não segue um script depois que acidentes acontecem. Fica muito mais fácil entender que é tênue, que é mínima a distância entre o que é certo e o que simplesmente não existe. É muito mais fácil relativizar as coisas, minimizar o tamanho dos problemas, concentrar no que efetivamente é prioridade e viver mais tranquilamente.

É impressionante perceber a sensação de liberdade que a gente conquista depois de superar o pior de todos os momentos. Liberdade que permite que se arrisque mais, que se despoje de preconceitos e contra-argumentos, que se desfaça das algemas do medo, que se jogue fora as armaduras e as máscaras e seja simplesmente o que se é. E, sendo o que se é, seja também muito mais feliz e inteira em cada momento vivido.

Depois que a gente lida com a morte de perto, principalmente com a morte repentina, passa a viver com muito mais intensidade cada segundo, passa a se dedicar com muito mais afinco a cada oportunidade de felicidade que aparece, passa a aproveitar com mais vigor os momentos bons e a entender que a gente precisa mesmo de coisas simples e corriqueiras, porque afinal é isso que importa, é isso que efetivamente conta.

Pode ser só um encontro com amigos ou um sorvete no calor da tarde; pode ser só um banho de piscina com os filhos ou um abraço apertado; pode ser um cineminha no fim do dia ou mãos dadas à beira mar, pode ser qualquer coisa desde que faça bem, desde que deixe a sensação de que se vive, desde que traga junto um pouquinho de quero mais, de vale a pena. Pode ser mínimo e máximo ao mesmo tempo agora. Pode ser único e inesquecível. Pouco importa.

Não se deve deixar passar as oportunidades de ser feliz que aparecem, não se pode deixar correr o tempo sem viver os sentimentos que surgem, não se pode simplesmente descartar essas pequenas epifanias que devolvem à gente o sentido de todas as coisas. É para isso que estamos aqui e só por isso.

sexta-feira, 4 de março de 2011

So no one told you life was gonna be this way...

...your job's a joke, you're broke, your love life's D.O.A.
It's like you're always stuck in second gear.
Well, it hasn't been your day, your week, your month or even your year.
But I'll be there for you when the rain starts to pour
I'll be there for you like I've been there before
I'll be there for you cause you there for me too.

E aí, independente de como a vida tenha sido com você, independente de por quais infortúnios e puxadas de tapete e problemas se esteja passando agora, independente de ânimo, ritmo e vontade, deixe que um pouco dessa alegria gratuita que se espalha pelas ruas te contamine. Experimente o sorriso e o peito aberto. Permita alguns passos e deixe se levar. Junte-se aos que estão there for you e seja feliz só por hoje. No mínimo, será mais leve. No mínimo, será mais fácil. No mínimo, você conseguirá repetir só por hoje todo dia.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Rindo com Matheus XIX e Rindo com Thomás VI

A gente lá, na festinha de aniversário da mamãe. Com pessoas queridas e conversas que rendem muito, nem vi o tempo passar. Quase 22:30, chegam os pequenos do meu lado:

Matheus: Mamãe, num já tá na hora da gente dormir, não?
Thomás: Amanhã tem "icola"

Disciplinados demais, não?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Contatos

Acredito que a melhor coisa que fiz em relação ao blog foi colocar meu email pesssoal aí na barra lateral. Todos os dias recebo emails de gente de todo lugar do mundo dizendo que se comoveu com minha história, que torce pela gente, que sabe que o melhor está na frente e muitas outras declarações carinhosas. São pessoas que nem me conhecem, que sequer me viram na vida, mas que se sentem impulsionadas a me escrever para me dar uma palavra de apoio, de força e, muitas vezes, de fé. Vocês, autores desses emails e leitores, não fazem ideia do quanto isso é bom de ver, ouvir, ler, sentir; do quanto isso me anima e do quanto me ajudou a superar.

Hoje cheguei aqui no trabalho e encontrei um email de uma pessoa do passado, que compartilhou alguns momentos lá atrás comigo, que durante um breve espaço de tempo era presença constante; que, depois de anos sem contato, soube do que aconteceu na minha vida e resolveu me escrever. Um email super carinhoso, com elogios ao blog e à minha conduta. Nem tanto pelas palavras, mas muito mais pelo fato desse carinho superar a distância, a falta de contato, os rumos que se tomou e se prolatar no tempo; eu fiquei muito emocionada. Gente que a gente sempre quis bem e por quem nutre esse bem querer, a despeito de não se estar mais perto, sabe? Gente por quem a gente torce e deseja todo o melhor do mundo. Gente de quem, durante um bom tempo, só se teve notícias esparsas ou por meio das redes sociais. Melhor de tudo é saber que é um bem querer recíproco.

Fiquei feliz, ó! :D

terça-feira, 1 de março de 2011

Muito do que eu sou

Ela é a mãe mais filha que eu conheço, vivemos continuamente, eu e a Manu (minha irmã) tentando chamá-la à razão. E a Manu cuida de tudo, leva a casa nas costas, porque ela é aérea demais. Acho que cansou de ser responsável, depois que todo mundo cresceu e resolveu relaxar. Ela faz perguntas absurdamente indevidas a pessoas estranhas, a pessoas conhecidas e a pessoas íntimas. Ela conta toda a história da vida para os vendedores das lojas de sapatos (e não efetiva a compra!). Ela é curiosa demais, bisbilhota papéis, internet, redes sociais, correspondências. Ela quer ser amiga de todos os nossos amigos. Ela quer participar de cada mínimo acontecimento e se mete em todas as conversas. Ela perde hooooras do dia jogando cartas online ou na fazenda do orkut, e acha que isso é compromisso importante. Ela escreve um blog também. Ela tem orkut, facebook e MSN. Um amigo me diz que ela é uma cyber mãe.

Ela tem uma fé inabalável e eu tenho fé na vida, fé nos homens e fé no que virá, como diz a letra da canção. Acho que as letras sejam uma paixão herdada geneticamente. Acho que a espontaneidade pra falar de sentimentos também é arquivo genético, além dessa explosão de carência que vezenquando me acomete. Tenho certeza de que há muito aqui do que vi, ouvi, senti  e instrospectei dessa convivência e dessas lições. Sei também do coração que bate cheio de orgulho ao me ver ser exatamente do jeito que eu sou, sem poréns, sem apesares. Percebo o amor que transborda nos pequenos. Eu sei de tudo isso e muito mais.

Depois que eu cresci, percebo a influência que a personalidade dela teve na moldura da minha. Percebo que cada característica que salta aos olhos em mim está relacionada à contra-mão do que salta aos olhos nela. Percebo a negativa do espelho e entendo cada percalço e leão e montanha que fez ser exatamente o que é. Não foi fácil carregar três pequenos. Não foi fácil tornar gente o que era pedra bruta. Não foi fácil fazer de nós o que somos: humanos, solidários, honestos, gente do/de bem. A maior lição que eu tiro desses quase vinte e nove anos de convivência é exatamente o que me manteve de pé no pior de todos os momentos: é preciso seguir em frente a despeito de todas as coisas e é importante ser sincero consigo e com os outros.

E aí, entendo perfeitamente que não importa grana, bens, viagens, emprego, festa. Entendo que não é preciso grandes feitos, grandes realizações, grandes conquistas. Entendo que não é preciso viajar o mundo todo, subir ao topo do Everest, vencer uma corrida internacional, fazer parte do primeiro escalão de qualquer coisa. Importa mesmo é ter quem a gente quer bem assim perto, assim ao redor. Entendo que o importante é ver alegria em simplesmente viver e ter saúde. E não se trata de conformismo, comodidade, estagnação. É apenas uma forma de encarar o mundo, a vida, com leveza e simplicidade, segurando no que é mais firme, quando no olho do furacão, e protegendo o que vale mais.

Sei que eu só cheguei aqui por causa de você, porque foi você que acreditou em mim em cada um dos desafios do meu caminho, foi você que apostou quando o mundo disse não, foi você que confiou quando eu achei que não fosse ser capaz e muito da minha força, da minha garra, da minha fortaleza, da minha capacidade de superação e da minha resiliência veio das lições que eu recebi dentro de casa. Não foi fácil e nem sempre será doce, mas estamos juntos, vivos, saudáveis e tocando em frente. Você é o cerne disso tudo, mãe.

Parabéns por todos estes anos de vida (não vou dizer quantos, né?)!!!