Hoje é dia de blogagem coletiva. Muitos blogs vão falar sobre maternidade real, sobre os desafios e delícias de ser mãe. Por ser um tema que toca profundamente e por ser essa tarefa a razão de ser da minha vida, eu não pude me esquivar de escrever.
Eu sempre fui o oposto do que se chama maternal. Eu via crianças correndo e pulando e chorando e sorrindo, eu via crianças calminhas e elétricas, eu via crianças e bebês fofos por todos os lados e elas não me despertavam o instinto, sabe? Eu me preocupava com minhas notas, com atividades revolucionárias (isso é assunto para outro post), com política, com paqueras, com festas e mais tarde, com meu futuro profissional. Eu tinha um histórico de ovário micropolicístico e útero retrovertido, o que, disseram, seria complicador quando eu desejasse engravidar, então, eu nem pensava nisso, não tinha a menor vontade.
Aí, como eu disse no post de ontem, num dia qualquer, num exame de rotina, numa consulta com um médico estranho, no último semestre da faculdade, aos 23 anos, no meio de um engodo com o ex-namorado, eu recebi a notícia de que estava grávida. E, apesar de não ser uma pessoa religiosa, apesar de ser pragmática e racional, apesar de sentir, naquele momento da notícia, o mundo mais ou menos sair da rotação normal, eu tive certeza de que o Matheus nasceria e que seria meu filho. Naquela oportunidade, eu achei que ele poderia ser minha única oportunidade de ser mãe e eu não estava nem um pouco preocupada com o que meus pais, meu ex-namorado-futuro-marido, minha família e a família dele iriam falar. Eu queria aquele bebê. E foi assim que a minha vida mudou completamente pela primeira vez.
Juntamente com a maternidade, eu me tornei uma profissional. Juntamente com a maternidade, eu me tornei esposa. Juntamente com a maternidade, eu me tornei dona de casa. E é por isso que eu digo que foi a primeira vez que minha vida mudou. Eu não queria perder nenhum aspecto daquilo que eu sempe fui e conciliar todas estas funções, que caíram sobre mim de uma vez só, foi um trabalho delicioso. Dois anos depois de descobrir a gravidez do Matheus, eu descobri que esperava o Thomás. E, com eles dois na minha vida, eu descobri que me tornei uma pessoa melhor, mais altruísta, mais sensível, mais solidária, mais amiga.
Ter filhos dá uma razão para viver, é ter por quem manter os pés no chão e a cabeça na lua. Ter filhos cria nós cegos na relação com quem você ama, fortalece, une, reforça. Ter filhos é ter todo dia motivo para sorrir, para se orgulhar de cada conquista, é descobrir o mundo de novo, é aprender a falar de novo, é descobrir sabores, gostos, cores, números, letras tudo de novo. Ter filhos é aprender muito mais que ensinar; é crescer muito mais que ajudar; é receber muito mais que se dá. Ter filho é vivenciar um amor que não tem limite, que não tem fronteira, que não tem fim, aquele que faz qualquer coisa, aquele que vara madrugada adentro insone e percorre qualquer caminho tortuoso. Ter filho é expandir, é progredir, é ir além do que se é.
Eu vivia tranquila e feliz essa vida à quatro: eu, ele e os dois pequenos. Até que um acidente fatal tirou ele do nosso convívio e a minha vida mudou completamente pela segunda vez. A dor que eu senti, a sensação de que puxaram meu tapete, de injustiça, de revolta, de irresignação não tem tamanho e já foram objetos de algumas dezenas de posts aqui. Aquelas funções de que eu falei, depois do janeiro trágico, dobraram e eu tinha, mais uma vez, que me adaptar a elas, só que dessa vez carregando dentro de mim uma dor que me dobrava, que dilacerava meu coração, que me revirava inteira por dentro e me causava a sensação de estar sufocando a cada inspiração.
Nesse segundo momento, ter filhos foi poder ter sanidade mental e motivo para prosseguir, enfrentar a burocracia, a papelada, as dificuldades de grana, responder perguntas de uma criança de três anos enlutada e sofrendo a falta do pai mais carinhoso do mundo que tinha. A maternidade fez coisas extraordinárias por mim nesse período, curou minhas feridas, enxugou minhas lágrimas, me arrancou gargalhadas quando os olhos ainda estavam vermelhos e inchados. A maternidade me colocou no prumo, me fez assumir o volante da nossas vidas, me fez permanecer com os pés no chão e me devolveu a esperança de que coisas boas ainda estão porvir.
Por isso tudo e por muito mais, eu tento diariamente ser a melhor mãe que eu posso ser, sem deixar de ser a mulher que eu sou, tentando ao máximo fazê-los indepentes, resolvidos, sem traumas significativos, sem dores... Todos os dias eu encho meus pequenos de amor para que eles se sintam seguros e inteiros, para que entendam que uma fatalidade nos tirou o pai deles, mas que ainda assim somos uma família feliz. Todos os dias eu me esforço para ensiná-los a ser gente e aprendo inúmeras lições, principalmente que as melhores coisas da vida são simples, são corriqueiras e estão aqui, ao alcance do nosso abraço.
12 comentários:
vc é uma mãe linda, leio seus posts e me encanto com cada linha.. continue assim... esses dois ainda vão te encher de orgulho ese orulhar muito por ter vc com eles...
paRABENS LINDONA
Beijos no coração
L@n
Sou a mãe do Léo e me senti contemplada, pois a gente cresce com a maternidade, mas é padecer messssssmo no paraíso.
Bjos
Lidiane
Amiga!!!
Também estamos fazendo parte dessa blogagem!
A nossa participação tá aqui ó:
http://diariodos3mosqueteiros.blogspot.com/2011/04/maternidade-real-mae-pode-querer-ser.html
Bjos e bençãos.
Mirys
As melhores coisas da vida estão aqui: ao alcance do nosso abraço.
AMÉM!!!!!
Nem vou falar que eu adorei porque você já deve estar cansada de ler isso, né?
Orgulho de ser sua amiga (ainda que só virtual).
Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com
O melhor post de todos os tempos!
Querida, sou Helena, mãe de Heitor, e vou lhe seguir, tá?. As tragédias só farão seus filhos - e você, também - maiores e mais fortes, mais cientes da força da vida e da importância dos laços... Acredito que é uma grande mãe, e um exemplo para mim. Forte abraço e beijo nos pimpolhos!
Texto lindo, como sempre.
Seus filhos tem uma mãe maravillhosa.
Beijos
Silvia
Lindo! lindo! Lindo!!!!
Vocé conseguiu definir o "ser mãe" de uma maneira encantadora!
Parabéns...
ps.
Sou amiga da Mirys, foi por ela que cheguei até você.
Seja bem vinda, Dani! A mirys é uma querida!
Ótimo post! Bjs e fiquem c Deus.
lindo, lindo, lindo... sem palavras...
hithala
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