Houve um tempo em que eu tinha cer-te-za de muitas coisas que hoje me parecem conversa pra boi dormir.
Houve um tempo em que eu amparava meu passo no ombro amigo de quem hoje simplesmente não está.
Houve um tempo em que eu tinha a minha vida toda pela frente e isso dava uma liberdade absurda para tentativas e arrependimentos e me parece que em cinco anos a vida-toda-pela-frente passou.
Houve um tempo em que eu acreditava que eu podia fazer o que quisesse e bem entendesse, sem me preocupar com mais ninguém, até entender que me preocupar com as pessoas é a razão de ser.
Houve um tempo em que um sentimento latejava em mim com intensidade tal que lhe apregoava características de eterno até que acabou.
Houve um tempo em que eu acreditava ter cada coisa em seu lugar até que um menino mau virou de cabeça pra baixo meu castelo da Barbie, espalhando tudo pelo chão.
Houve um tempo em que eu acreditei que algumas amizades eram verdadeiras e aí eu cheguei no olho do furacão e vi que as amizades só são verdadeiras se houver um depois de ou um apesar de.
Houve um tempo em que eu achei que tinha uma vida perfeita até descobrir que a perfeição não existe.
Houve um tempo em que eu achei que o meu sofrimento era o maior do mundo e que este mesmo mundo deveria ser delicado comigo porque eu estava sofrendo, até descobrir que eu poderia sofrer mais (muito mais) e que não era a primeira, nem a única, nem a última, era só mais uma a aguentar os trancos e a encarar os barrancos.
Houve um tempo em que eu achei que eu era frágil até descobrir uma roupa de aço sob a pele.
Houve um tempo em que eu achava que tinha tudo de que precisava para a vida, até um acidente me mostrar que a gente não tem nada.
Houve um tempo em que eu acreditava que ser mãe era tarefa de casa sem fim, era abdicar, até descobrir que é abdicar pelo maior amor do mundo.
Houve um tempo em que eu achava que meu coração fosse empedrar e se trancar, até ver ele bater descompassado, desmanchado assim.
Houve um tempo em que eu pensei que o sorriso jamais voltaria ao meu rosto, que o ânimo de viver tivesse me abandonado, que a vida tinha perdido sentido e cor, que sobreviver era o que importava, até entender que sorrir ajuda a superar, devolve o ânimo e a cor.
Houve um tempo em que eu achava que era autossuficiente e descobri que preciso de gente ao meu redor.
Houve um tempo em que eu não queria mais viver, em que eu só queria que parasse de doer, até entender que dói de qualquer jeito e ainda assim vale a pena estar aqui.
Houve um tempo em que eu queria não sentir mais, até perceber que sentir é a forma mais completa de ser humana.
Houve um tempo em que eu não sabia nada, até que eu aprendi.