Eu fico cabriolando aqui com meus botões e me fazendo perguntas estapafúrdias e nada, nada, nada sensatas. Eu fico diminuindo a minha atitude, a minha importância, a minha presença. Eu uso eufemismos para expressar meus sentimentos, todo meu querer. Eu falo que não e meu corpo inteiro vibra que sim. Eu engulo a vontade de dizer muito mais, engulo em seco, engulo o sapo. Eu controlo as borboletas, os pensamentos, as vontades e saio arremessando cenouras como que em competição de arremesso de pesos. No meu caso, também sinto que venço à medida que consigo jogar o mais distante possível, a diferença é que eu corro para pegar a cenoura arremessada e, quando chego lá e consigo pegá-la, eu arremesso mais uma vez, mais distante ainda. Dez metros, cinquenta metros, cem metros... Numa corrida frenética que nunca tem fim e, vezenquando, me deixa cansada, exaurida, a ponto de desistir. Falta ar, a respiração é trôpega, cortada, asmática. Eu corro porque não quero parar mais para pensar no que dói, no que falta, no que preenche, no que sinto. Eu não quero refletir sobre nada. Vou correndo, atropelando tudo pelo caminho. Só faltava estar vendada, mas ainda assim não haveria muito problema porque, de todo modo, eu me guio pelo meu instinto. Esbarro em obstáculos, rasgo os joelhos, me arranho toda, fico tonta, hipoglicêmica e corro, corro, corro. Nenhuma dor poderá ser maior que a que eu senti. Nenhum sofrimento poderá ser capaz de me fazer fraquejar. Ninguém será capaz de magoar meu coração mais que a vida, por si mesma, tratou de fazer. Nada a temer. Eu corro. Muitas vezes, penso em desistir de mim, de ser quem eu sou, dessa intensidade e dessa urgência em chegar em algum lugar. Muitas vezes, há vontade de jogar tudo pra cima e vestir a camisa da insanidade e jogar o juízo num canto qualquer e dar um pause nas razões, nas buscas e nos quereres. Mas isso não seria eu. Eu corro, eu quero, eu faço, eu posso, eu sei que sou capaz e me obrigo. E, aí, num dia qualquer, no meio do nada, sem refletir, sem pensar muito nesse jeito meio troncho de sobreviver, eu descubro que nem era nada disso, descubro que eu só queria alguém que segurasse minha mão e apreciasse a paisagem comigo. Assim, eu poderia caminhar lentamente, respirar profundamente, e ir com calma.
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Muita gente nova chegando por aqui. Obrigada pela leitura e, principalmente, pelo carinho!
7 comentários:
Fiquei cansada só de ler rs
Cele,
Eu também me sinto assim, levo a vida de maneira acelerada tentando sucumbir sentimentos que me devoram. Não adianta. As vezes também, tudo que eu queria era ter alguém pra andar sempressa, de mãos dadas e apreciando a paisagem.
Beijos, Cele!
Lindo texto! É impressionante como consegue passar intensidade no que diz. Sempre mergulho nos seus textos e ao sair tenho a impressão de ter sentido sua dor.
Virei sua fã!
Cele, ambas procuramos o mesmo.
A gente brinca de mulher forte, de mulher maravilha. Mas no fim do dia a gente só queria ser o sexo frágil, ser afagada e mimada e apaziguada...
Um dia, eu espero. Um dia.
Olá Marcele,
Aabei de te "conhecer".
Depois de escrever esse comentario, certamente irei no primeiro post e farei a leitura completa de todo o blog.
Te digo que já estive algumas vezes como vc, buscando somente uma mão que pudesse segurar a minha... por outros motivos diferentes do seu, e não quero julgar que sejam mais fortes ou mais fracos...
Hj posso te dizer que me encontro segura, firme, tranquila, em paz.
Desejo conhece-la mais, se quiser vai no meu blog pra descobrir mais de mim tb.
Sinto que temos lindas experiencias a compartilhar.
Prazer, Mariana Brizeno, ou simplesmente Mari.
Muita gente disposta a fazer essa caminhada ao teu lado. Bjão!
Janaína
Cele, há uma fonte inesgotável de força na gente. Sonda com calma e um pouquinho de paciência que você encontra. Ela matou sua sede até aqui, e não vai te deixar desamparada. Bjim
Parazer, Mari.
Janaina, quem me dera ter esse monte de gente, viu?
Juju, agora que eu tô vendo sua foto aqui, lembro que adoooooro seu blog.
Beijos, querid@s leitor@s!
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