quarta-feira, 30 de março de 2011

A nóia

Tem uma série de ditados na cultura popular para falar desse sentimento, só lembro agora do "Cachorro mordido por cobra tem medo até de salsicha". Fato é que, depois do janeiro trágico, alguns traumas foram acrescentados à minha psique e à dos meninos. Por exemplo, Matheus não pode ouvir falar em batida de carro que pergunta logo quem morreu. E eu desenvolvi um certo pânico à falta de notícias. Se eu tento ligar para alguém próximo e o celular chama e ninguém atende, eu fico logo com uma pulga atrás da orelha. Se eu mando uma mensagem em seguida e continuo sem resposta, pronto, revira tudo por dentro, o coração começa a perder o ritmo, aquele frio congelante na barriga... Começo a ligar para terceiros para saber. Começo a pensar naquele celular que tocava, tocava, tocava... Começo a lembrar das inúmeras ligações minhas, não atendidas, que eu vi no visor do celular dele muitas horas depois. Voltam inevitavelmente aquelas sensações todas. E nem adianta dizer que faz só duas, três horas que eu encontrei/falei com a pessoa. Lá no janeiro trágico, eu tinha falado pouco mais de meia hora antes... Nem adianta dizer o tradicional "notícia ruim chega logo", porque eu não quero ter mais notícia ruim nenhuma! Não é nada racional, eu sei. Não faz o menor sentido. Eu também sei disso. Mas eu não consigo evitar. Fica passando na minha cabeça uma nova tragédia e tudo em mim sai do lugar, como se a gravidade sumisse e o de dentro, de repente, começasse a chacoalhar sem a força da pressão atmosférica. A tensão que esses pequenos sustos me causam pode levar algumas horas para ser dissolvida. E eu fico lá, com esse chilique panicoso a me torturar.

8 comentários:

Idê Maciel disse...

Eu conheço tudo isso e nem de longe passei pelo tão trágico diretamente a mim vinculado, como tu. Imagina quando o filho sai para balada e chega 7 horas da manhã e nadica dele...Ainda mais se for pras banda da Washington Soares... affff

Anônimo disse...

Me descreveu!

kakkaka


Bjs

Anônimo disse...

E nessas horas de agonia nossa, de " nóias" ou " loucuras" ou medos mesmo, a gente se sente pequena, perdida, sozinha, engole seco, peito aperta e até respirar dóis. Sei o que é isso. E por mais terapia que eu faça, ameniza, mas não passa " nem que a vaca tussa " como diz o ditado popular.

Beijos Marcele,
Selma.

O Divã Dellas disse...

"Gato escaldado tem medo de água fria"...
Natural.. Ruim, mas natural!
Beijão,
Cinthya

http://odivaadellas.blogspot.com

Mariana Brizeno disse...

Se precisar de uma mão amiga, eis a minha.

Bjus, Marcele.

Lílian Holanda disse...

Eu sinto dizer, mas esse trauma dificilmente passará. Quando eu tinha 9 anos eu vi meu pai sendo esfaqueado em um assalto. Apesar das consequencias, meu pai, graças à Deus, escapou com vida. Até hoje eu congelo quando um estranho se aproxima...
Quando acho que eu (ou alguns dos meus)estou em situação de perigo, faço uma oração com fé e sempre dá certo: "Senhor, não sou digna que entreis em minha morada, mas dizeis uma só palavra e serei salva".

Anônimo disse...

Os traumas só se curam ou amenizam com o tempo.
Mas basta uma faísca para tudo voltar a estaca zero.
Eu também fiquei traumatizada por uma fase muito difícil por que passei.
Qualquer episódio que possa lembrar a tal fase basta, para que meu corpo estremessa e um arrepio gelado e dolorido percorra todo meu corpo.
Te endendo.
Fiquem com Deus.

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Todo trauma custa a passar, acho eu. Por mais que fiquemos calejados, sempre fica aquele frio na barriga.

Fazia tanto tempo que não vinha aqui que só agora vi como vc é linda!

beijão

deb