Eu preciso do meu silêncio, eu preciso da reclusão e dos meus botões para colocar as ideias no lugar. Quando os pés abandonam a terra firme e resolvem me levar para planar por aí, eu puxo as correntes que me seguram ao mundo real e volto ao solo, à minha solidão. Eu preciso dessa reclusão para entender os mecanismos que me movem. Eu preciso dessa ausência de todo mundo para perceber o que me habita. E, com a cabeça mais ou menos em ordem, escolho algumas poucas pessoas para compartilhar o que penso e o que sinto. Elas ouvem meus dramas, colhem minhas lágrimas, escutam a minha voz embargada e seguram minha mão.
Eu preciso de paz para arrumar a bagunça que se criou dentro de mim depois de um longo período vivendo sem refletir, agindo no impulso, pagando pra ver. Eu preciso aprender a desatarrachar os pesos que carrego nas minhas botas. Eu preciso aprender a me livrar do que não é essencial, do que não é prioritário, do que não é. Eu preciso me livrar da sujeirinha que foi escondida embaixo do tapete. Eu preciso aprender a limpar o campo, retirar ervas daninhas e me livrar do que eu não quero ver crescer na minha horta. Preciso semeá-la com amor próprio e auto estima, eu preciso vê-la florescer, mesmo que para isso suje minhas mãos. O terreno é inequívocamente fértil, mas precisa ser trabalhado. E é serviço braçal e diuturno. É serviço de camponês e depende das intempéries do clima.
Talvez esse momento reflexivo dure muito mais do que eu esperava porque eu tenho muito mais para limpar que imaginei. Talvez eu perceba que há coisas que simplesmente não posso absorver. Talvez eu termine por descobrir que tudo é mesmo efêmero e que as certezas que me moveram ontem foram levadas como água da chuva para longe de mim. Talvez nem haja certezas nem garantias nessa vida. Talvez eu esteja mesmo perdida e cambaleante, tateando no escuro e esperando que me salvem desse breu de mim. Talvez eu seja até mais forte do que imagino e consiga superar fácil esses vínculos de dependência que criei. Talvez eu descubra que o caminho certo era justamente o inverso do que eu escolhi e que minha única alternativa seja dar meia volta. Ou não.
Eu não sei, mas a minha ponderação em dar um passo, qualquer passo, para frente ou para trás, já é uma atitude.
4 comentários:
É Cele... nesses momentos em que a tormenta provoca essa enxurrada que nos despe de todas as nossas certezas e seguranças é que eu me encontro. E nesse momento eu não tenho mais vontade de seguir, de continuar, de semear mais uma vez. Tudo é difícil, tudo dói, tudo lembra o trabalho que tive, da colheita que iria ter, e veio uma praga e acabou com tudo, consumiu meus investimentos, esforços, dedicação e com eles muitas das minhas esperanças. Deveria ter direcionado estes esforços a mim. Mas você sabe tanto quanto eu que perder a quem se ama, independente da forma como aconteça, nos deixa frágeis, nos parte ao meio, nos reduz a menos do que somos. Eu não me sinto forte, embora saiba que levantar de manhã já é alguma coisa, amar os meus ainda é alguma coisa. Sigo fazendo o que fazia, me cuido, passo meus cremes, tudo. Mas faço isso sem gosto, sem ter por que. Apenas faço. Essa sensação de automático me incomoda, me faz sentir como se eu tivesse sido forçada a sair no meio da maratona. Mas se ajo assim é porque não consigo fazer diferente. A dor é tanta que a gente desliga, entra em coma e ainda está tecnicamente plena de todas as capacidades físicas e mentais. Não está.
Obrigada pelo comentário de ontem. Talvez a maior força de todas seja justamente a gente admitir que não é forte coisa nenhuma, é apenas o que dá pra ser. Beijos.
Também acho que já é uma atitude, Cele.
Respeite-se, leve o seu tempo, sem culpa.
Beijo grande,
Bela - A Divorciada
já dizia um caba aí: tudo é questão de manter a mente quieta, a postura ereta e o coração tranquilo.
ou n, né?
rsrsrrsr e beijos no coração.
Marcele,
mais dia menos dia a gente descobre que cada um tem seu tempo, somos únicos, nossos sentimentos e vivências fazem entender e fazer um pouco do que somos.
E vc descreve muito bem isso.
beijo!!
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