domingo, 28 de fevereiro de 2010

Reflexão

Basta uma curva na estrada para que tudo que tinhamos por certo desmoronar. Basta um segundo para todos os tijolos de nossas certezas ruírem. Basta uma confirmação para ver um buraco se abrir na sua terra firme. Basta a notícia da tragédia reverberar para se dar conta de que não somos nada, não temos nada, nada é certo. Basta saber que a vida está de cabeça para baixo para ver gente fugindo pela janela. Basta enfrentar uma grande dificuldade para enfim reconhecer quem é chuva de verão e quem é forte construção. Basta um segundo, uma curva, uma confirmação e uma tragédia para a vida não ser mais nada do que se programou e, ainda assim, reconhecer o poder e a grandeza de se ter verdadeiros amigos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Voltando a rir com Matheus IV

- Matheus, sabia que eu te amo muito? Muito mesmo? Assim bem enooooorrrrrrme!
- Ah, mamãe, mas o meu te amo é muito mais grande que o seu!

Cartas para você III

Thi,

Essa noite eu sonhei muito com você. Muito mesmo, acho que a noite toda. Você não veio esclarecer minhas dúvidas, nem me contar o porquê. Você não veio me dizer o que há depois da morte. Você não veio me mostrar como sair do fundo do poço. No sonho, Thi, você não tinha morrido. Você me dizia que tinha viajado para Venezuela (acho que era isso) para ajudar um amigo que estava doente e que não ligou nem falou nada porque não tinha dado tempo. Acho que o sonho não representava esse mais de um mês depois. Acho que era só uns quinze dias.

Eu quebrava tudo na nossa casa, de um jeito que nunca vi, fiquei completamente louca de raiva. Gritava perguntando como me deixara pensar que você havia morrido. Dizia que todos os seus amigos choraram a sua morte, que tinha gente me ajudando a pagar as contas, que seus cartões estão todos em atraso e que me ligam diariamente para fazer cobrança, que seus filhos choraram muito e sentiram muito sua falta, que eu quase não sabia mais o que dizer ao grandão, que eu quase pensei que a morte era a melhor saída, que sua mãe mal consegue sorrir, que sua irmã perdeu o norte, que o nascimento do Arthur também foi marcado por uma tragédia. Eu gritava, gritava, gritava.

Você andava de um lado a outro da casa, entrava nos cômodos, e dizia pra mim: "Está tudo bem, não está? Agradeça às pessoas!". E eu permanecia sem entender, fazendo milhões de perguntas sobre a Venezuela, sobre o amigo a quem você foi ajudar, sobre como você não conseguiu avisar... Essas coisas, Thi, você não respondia. Mas era tão bom saber que você estava vivo e de volta, que eu acordei chorando aliviada e desesperada ao mesmo tempo.

Ah, meu amor, como eu queria que você estivesse aqui!


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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Sem saber que o para sempre sempre acaba"

A gente pede para ser para sempre, mesmo que seja enquanto durar. A gente pede para ser para toda vida. A gente pede para viver junto até que a morte nos separe. A gente pede para ter a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida. A gente quer ser o último primeiro (eu fui os dois, o último e o primeiro). A gente quer que seja assim. E eu realmente desfrutei de tudo isso e não consigo (ainda) sentir alegria. Ninguém está preparado para que a tragédia ocorra no meio do caminho. Ninguém está preparado para ver o amor se acabar numa curva da estrada. Ninguém está preparado para o último dia, para dizer adeus tão bruscamente. Muito menos eu.

Sempre achei que pudesse acontecer comigo. Sempre me angustiei com a possibilidade dos meus filhos não se lembrarem de mim. Disse a ele um sem número de vezes que queria morrer antes, porque não tinha estrutura física-psíquica-financeira-didática para criar nossos filhos sozinha. Disse a ele e a mais alguns o que eu queria que fosse feito acaso acontecesse comigo. Deixei escrito determinações e providências no caso de. E cá estou eu, vivendo sem ele, sobrevivendo e caminhando dentro do meu pior pesadelo.

Depois de ver minha vida virar de cabeça para baixo, eu sigo. Eu fico juntando meus pedaços com minhas próprias mãos, costurando a pele em carne viva com agulhas invisíveis, eu fico me agarrando nas duas herançase nas lembranças dele e tento olhar sempre para o muito depois disso. Porque eu sei que lá no muito depois disso a gente vai sorrir, e vai lembrar com carinho, e vai falar dele sem peso e sem dor, e vai ficar feliz por ter sido para sempre e até que a morte nos separe. Eu sei que, sim. Eu sei que lá no muito depois disso, eu ainda conseguirei ser feliz, que minha vida será reconstruída, que os pequenos estarão bem. Eu sei que lá na frente, não vai mais doer. Vai ser uma cicatriz, uma marca, um pequeno trauma. Eu sinto isso.

Mas hoje, amanhã, enquanto isso, é doloroso e muito desesperador. E eu sigo pensando nas providências que ele tomaria, em como ele faria, o que ele resolveria, o que diria, o que desenrolaria se estivesse aqui. Eu sigo fingindo que tenho a força dele, para poder ir em frente com ele em mim. O que parece força, é falta de opção. O que parece determinação, é fingimento. O que parece Marcele, é Thiago. Eu sigo assim para poder seguir. E é só assim que eu consigo.



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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cartas para você II

Thi,

Eu não sei onde você está: se aqui do meu lado, segurando minha mão, me ajudando com esse desespero que às vezes toma conta; se lá do outro lado, ou lá em cima, observando de longe e torcendo e cruzando os dedos e fazendo o que pode, resolvendo tudo; se não está mais em lugar nehum, só em lembranças e doces recordações que se repetem e se repetem na minha memória e na de tanta gente que quis (e quer) tanto bem a você. Eu não sei mais. É bom pensar que você ainda existe em algum lugar e me ouve, e me vê, e me ajuda. É bom pensar que você está do lado da sua tão querida vovó Cema ou da Tia Zuleide, ou de outras pessoas que se foram antes de você. É bom pensar que daí você entende tudo, o porquê, a razão e que você vai me ajudar a chegar ao depois disso sem mais percalços e sustos. É confortante pensar assim.

Eu não sei onde você está, eu não sei se está, mas ainda assim eu escrevo para você. Escrevo para dividir tudo isso que me parece absurdo e que parece piada sem graça ou enredo de novela das oito, mas é exatamente a minha vida. Eu escrevo para não me perder de mim mesma e daquilo que a gente planejou e sonhou. Eu escrevo como se fosse possível, através deste processo de expulsão, encontrar respostas e saídas e motivos para seguir em frente. A maior razão de todas já existe incrustada em dois seres que têm nomes de santos, como na música do Renato Russo. Mas eu ainda preciso de motivos para sorrir, para sair de casa, para ser feliz de novo. Na verdade, Thi, eu preciso de você.

Quando essa precisão fica muito dolorosa, eu me agarro ao que eu tenho de você em mim, aos nossos momentos, aos inúmeros sorrisos divididos, às lembranças dos seus carinhos, das suas palavras e das suas inúmeras lições, que hoje me parecem tão importantes. Eu me apego também aqueles dois mini-Thi, um que é a sua cara e o outro que é o seu espírito e, sabe, eles me fazem sorrir e seguir. Eu me apego aos seus escritos, seus emails, suas dedicatórias nos livros, suas músicas, suas fostos pela casa, para lembrar das coisas de que você gostava. Eu me apego a você sem querer deixar que você vá embora de mim.

Mas tem dias, Thi, que não dá tempo nem de lembrar direito, como ontem. E quando eu deito na cama, exausta, com dor nas costas, eu tomo um susto ao perceber que não deu tempo. E nesse momento, eu peço de novo para você aparecer para mim, nos meus sonhos, para me dizer como é aí, onde você está; para me dizer o porquê; para me contar o que aconteceu e o que eu devo fazer de agora em diante. Eu peço com força, Thi. Essa noite eu tenho certeza de que você me atendeu, mas eu não me lembro de quase nada do sonho com você (então pedirei muitas outras vezes). Mas uma coisa, talvez porque tenha sido o que você repetiu mais, eu vou fazer: agradecer a toda essa gente, meu amor, que tem ajudado a mim e aos pequenos. Você não sabia, nem eu, que era (éramos) tão queridos.

Eu também te amo!

Moreninha



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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Notas Fiscais

Pessoas queridas que me leem,
A campanha para arrecadação de Notas Fiscais permanece. Preciso de todas as notas que vocês conseguirem juntar, porque o repasse é de apenas 0,5% do valor registrado na NF. Só valem as notas com valores acima de R$ 5,00, daqui do estado do CE. Não vale nota de combustível.
Vocês podem fazer com que elas cheguem até mim (prefiro) ou depositarem nas urnas da SEFAZ com o meu número. Acredito que em toda Pague Menos tem urna da SEFAZ.
Muito obrigada mesmo a todo mundo que tá ajudando de todas as formas possíveis!



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Cartas para você

Thi,

Ontem o Matheus voltou a falar, lembrar e chorar. Ele me disse que estava com saudade do papai que está no céu. Disse que você era o Sr. Incrível e que o Sr. Incrível voa, então você deveria descer do céu voando, de volta à nossa casa. Ele se lembrou daquele dia, em que eu disse a ele que ele será adulto, que terá filhos e uma esposa, e que a mamãe vai ficar velhinha e morrer. Ele se lembrou da sua promessa de que ninguém da nossa família iria morrer, só os monstros e os alienígenas. Ele se lembrou especialmente de quando chegou em casa aos prantos e você o consolou, dizendo que iria abraçá-lo e beijá-lo para sempre e disse: "mamãe, ele nem vai mais fazer isso!". Eu disse a ele que eu vou, que vou abraçá-lo e beijá-lo por mim e por você para sempre, mas isso não foi suficiente para conter as lágrimas dele. Ele repetiu e repetiu e repetiu que queria que você morresse, que fosse pro céu cuidar do dodói do papai do céu, mas que voltasse. Que voltasse logo porque ele está com saudade. E, nesse momento, mozinho, eu nem sabia mais o que falar porque o aperto no peito e o nó eram grandes demais. Então, eu só fiquei abraçada com ele, chorando com ele, até a gente conseguir mudar o assunto.

Às vezes, os dias são sofridos demais. Às vezes, os dias passam só com a presença da ausência a nos acompanhar. Assim, a gente vai. Eu só penso no lá na frente, como um maratonista sonhando com a linha de chegada. Que ela esteja próxima, meu amor, bem próxima de mim.


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O último email

No último email, ele não deixou de dizer que me ama.
 




From: Thiago Castro
To: marcelealencar
Subject: Re: Solicitação de Autorização de Publicação
Date: Tue, 19 Jan 2010 22:17:00 -0300



É isso meu amor: aos poucos vamos construindo nossa vida profissional! Vamos ter calma que o tempo vai nos fazendo cada vez mais felizes!
Amo vc,
Thi
----- Original Message -----
Sent: Tuesday, January 19, 2010 2:16 PM
Subject: FW: Solicitação de Autorização de Publicação

Olha que chique bebeim!!!
Tô radiante!!!

Marcele






From: lisiane - plenum
To: marcelealencar
Subject: Solicitação de Autorização de Publicação
Date: Tue, 19 Jan 2010 14:12:49 -0200



Segue arquivo anexo, solicitando sua autorização para publicarmos artigo de sua autoria. Aguardamos resposta.
Gratos 



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TODOS OS DIAS

Os dias são permeados por uma saudade que me acompanha aonde quer que eu vá. Ela vai comigo, fazendo-se presentes em todas as trivialidades do meu dia. No ângulo que vejo o banheiro, ainda na cama. No chuveiro, na pilha de roupas penduradas, na bagunça sobre a pia. Na mesa de café posta sem nada no seu lugar habitual. Na saída de casa com as crianças, sem ter o nosso beijo. Na hora do almoço, sem seu telefonema ou mensagem pra dizer que não ia dar tempo. No fim de tarde, sem seu telefonema dizendo que estava chegando em casa ou que estava na brinquedoteca com nossos pequenos. Na hora que entro em casa e percebo a cadeira em frente ao computador vazia. E óbvio: na nossa cama enorme e não mais inclinada porque não sofre mais com seu peso.
Mesmo assim, mesmo constatando cada ausência sua em cada momento do meu dia, percebo você presente na covinha que se forma na bochecha direita do Matheus. Na simpatia absurda e no bom humor matinal do Thomás. Eu vejo você presente nessa força, nessa vontade de correr atrás de tudo, que me tira da cama todos os dias. Eu sinto você quando estou andando pelo mundo, batendo o salto no asfalto, quando seguro as lágrimas, quando engulo seco e sigo em frente. Eu sinto você presente nos nossos amigos, na boa vontade de tanta gente. Porque só você seria mesmo capaz de tudo isso. Só você.
No fim do dia, eu durmo exaurida, pesado. Mas, sempre, antes de cair na inconsciência, eu peço baixinho para você aparecer nos meus sonhos. TODOS OS DIAS!


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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Aprendendo a voar sozinha...

I'LL SPREAD MY WINGS AND I'LL LEARN HOW TO FLY
I'll do what it takes till I touch the sky
Make a wish, take a chance, make a change, and breakaway
OUT OF THE DARKNESS AND INTO THE SUN
But I won't forget all the ones that I love
I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway

Buildings with a hundred floors
Swinging with revolving doors
MAYBE I DON'T KNOW WHERE THEY'LL TAKE ME BUT
GOTTA KEEP MOVIN ON, MOVIN ON

Fly away, breakaway

I'LL SPREAD MY WINGS AND I'LL LEARN HOW TO FLY
THOUGH IT'S NOT EASY TO TELL YOU GOODBYE

I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway
Out of the darkness and into the sun
But I won't forget the place I come from
I gotta take a risk, take a chance, make a change and breakaway


(breakaway - kelly clarkson)

Meus 20/02

Em 2006 e em 2008, no mesmo dia 20/02, eu descobri que estava grávida dos pequenos. Nesses dois 20/02, eu era só alegria. Ontem o 20/02 foi só de saudade, doída, latejante, mas ainda assim, quase feliz.

Voltando a rir com Matheus III

- Mamãe, compra uma lua pra mim?
- Meu amor, não se vende lua.
- Mas mamãe eu PRECISO de uma lua.
- Para quê você precisa de uma lua?
- Pra poder ser astronauta!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Lembranças para a missa de um mês

Era um sorriso constante, cativante e verdadeiro. Era olhinhos que quase fechavam quando a gargalhada sonora saía. Era um excelente e disputado dançarino de forró. Era um chicleteiro, um micareteiro de marca maior. Era a melhor companhia para qualquer lugar, para uma mesa de bar, para uma noitada, para farra na casa alheia. Era um amante da praia, principalmente da Caponga. Era disciplinado, milimetricamente organizado, precavido, diligente e extremamente resolutivo. Não havia entraves, não havia problema que o abalasse, não havia coisa que ele não resolvesse ou tentasse. Ele fazia sempre tudo o que podia. Era o exemplo de filho que eu quero dar para os nossos filhos. Era o melhor pai, o mais apaixonado, o mais carinhoso, o mais atencioso, o mais dedicado. Era o melhor namorado. E ainda era o melhor namorado depois que se tornou marido. Era a pessoa mais carinhosa, mais compreensiva, mais do bem, mais de paz. Era um médico não de pessoas, hoje eu compreendo isso, mas de almas. Por isso mesmo, psiquiatra. Por isso mesmo, tanta gente veio dividir com a gente como ele salvou-lhe a vida. Era o melhor amigo, um verdadeiro irmão para tanta gente, que eu não sei como ele conseguia agradar a tantos. Mesmo ausente, era presente. Era tão querido por tantos que eu só posso crer que não podia mesmo ser desse mundo. Queria tanto bem a tantos, que toda semana acrescentava 4 ou 5 nomes à nossa lista de casamento. Queria o mundo todo, queria todo mundo, queria tudo ao mesmo tempo, queria mais tempo, queria mais e o céu foi o limite.


Não devemos mais chorar. Temos muito mais motivos para sorrir que para sofrer. Essas crianças que ele nos deixou merecem saber, conhecer e reconhecer a felicidade que o pai delas disseminou.

Do Orkut de novo

Sorte de hoje: O pessimismo nunca ganhou nenhuma batalha.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PRAZOS

Eu sou uma pessoa que se impõe prazos. Não fico muito tempo estagnada nas coisas. Remoer ou insistir em algo infinitamente não é do meu feitio. Se tem uma coisa que eu aprendi na vida, foi isso: às vezes, simplesmente não adianta persistir, as coisas não vão acontecer como planejamos. Este momento é um exemplo óbvio do que digo, mas também já apliquei esta regra para coisas bem menos óbvias.

Então, amanhã faz um mês. A dor ainda lateja, as lágrimas ainda caem vezenquando, a falta dele ainda é gritante dentro do nosso lar, a voz dele ainda reverbera na minha mente. Sim, eu ainda sofro. Mas eu não vou mais permanecer nesse sofrimento. Amanhã faz um mês e é chegada a hora de ir em frente. É claro que me permitirei ainda sofrer pontualmente, mas não mais cotidianamente.

Esse blog daqui para frente mudará de tom. Muito obrigada aos que permanecem.

Voltando a rir com Matheus - II

Eu: Ô pezinho lindo, esse!!! Dá pra mamãe, dá?
Matheus: Não, mãe. Se eu der, vou virar o saci pererê!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

I'm a survivor

Sabe quando você sobrevive a um naufrágio a trocentos quilometros da costa e mesmo cansado, abatido, desesperado, com cãimbras e fortes dores musculares, mesmo tendo perdido pessoas queridas, mesmo sem ter o que comer e o que beber, você simplesmente tem que continuar nadando, tem que continuar se mexendo??? Ainda que não saiba se está indo para o lado certo ou nadando em círculos; ainda que o sol a pino amoleça as ideias ou a água gelada demais enrijeça os músculos; ainda que escute bichos não identificados à espreita; ainda que não haja visão de nenhum ser humano; você simplesmente TEM QUE continuar nadando.

Pois então, eu estava num cruzeiro transatlântico e agora só me resta nadar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Voltando a rir com Matheus

- Mamãe, nós somos pobres?
- Agora nós somos pobres, meu amor.
- Por que agora nós somos pobres?
- Porque o papai não está mais aqui e ele é que tinha dinheiro.
- Mas mamãe você tem aquela coisa de dinheiro, num tem?
- Que coisa, Matheus?
- Aquela coisinha, mamãe.
- Que coisinha?
- ah, mamãe, você tem uma carteira, então você tem dinheiro!

Resignação

Eu vou resolver as burocracias de salto alto, cabelo escovado, maquiagem no rosto, brincos e anéis. Eu vou a todos os lugares a que preciso ir. Eu levo os pequenos para brincar em parquinhos, restaurantes e na praia. Eu não uso o preto. Eu não ando de cabeça baixa. Eu não choro na frente das pessoas, eu não fico com a voz trêmula quando falo sobre isso. Eu reconto o que eu soube do dia do acidente, eu admito o caos financeiro e, se o interlocutor tiver paciência de ouvir, eu detalho toda a nossa história e nosso amor, sem lágrimas.

Mas quando eu fico sozinha, quando eu entro no carro, quando vou tomar banho, quando acordo de madrugada, eu esmoreço, eu choro de soluçar, eu fico com os olhos inchados, eu banho o lençol, a roupa, a toalha... Eu viro uma criança que não ganhou o presente que pediu ao Papai Noel. Eu me revolto com o mundo, com a injustiça, com Deus. Eu me revolto comigo e com o Thi também (Por que ele tinha de correr tanto? Por que ele tinha de ser tão imprudente?). Eu procuro respostas onde não tem. Eu procuro saídas milagrosas. Eu endoido pensando que bem que poderia existir um jeito de voltar no tempo e impedir que ele fosse, e demorar um pouco mais no telefone, ou ir com ele controlando a velocidade, ou...

Não há mais o que fazer. E eu vou deixando a vida me levar... Nessa quarta-feira de cinzas, o cinza invadiu meu lar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Deserto

Uma só pessoa nos falta e o mundo mais parece um deserto. Um poeta já disse isso, eu concordo. é carnaval. As pessoas brincam, pulam, bebem. No meu mundo, é só sombra e cinza.

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Pessoas, me desculpem minha falta de fé. Tem momentos que eu só quero desabafar mesmo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

2010 pode acabar

No sábado de carnaval, uma amiga querida sofreu um acidente de carro e está internada na UTI do São Matheus. No domingo de Carnaval, a madrasta da minha mãe, a quem nos referíamos como avó, faleceu em virtude de complicações renais. E aí, eu penso que se Ele realmente existe, só pode estar frescando muito com a minha cara.

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queria agradecer às pessoas que se empolgaram com a doação das notas, lembrando que elas devem ser depositados com o número (0428121) em destaque nas URNAS DA SEFAZ.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Lições de Matheus

Todos os dias ele me ensina um pouco de como seguir em frente. Hoje de manhã não foi diferente.

Matheus com a mãozinha no peito:
- Olha, mamãe, eu tô sentindo meu coração bater!
- É mesmo? Posso sentir também?
- Pooode. Sabia, mamãe, que é o papai lá no céu batendo dentro de mim? Ele bate no seu coração também, sabia?
- É mesmo!??!?
- É, ele bate dentro do coração de toooooodo mundo.


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Tem muita gente me perguntando como ajudar a gente, o que pode ser feito... Enfim, é difícil assumir isso, mas nesse momento vivemos um caos financeiro aqui em casa. Como eu sei que poucos podem ajudar financeiramente, eu me cadastrei naquela promoção "sua nota vale dinheiro", do Governo do Estado do Ceará. Aqui em casa, antes do acidente, a gente já fazia isso, de mandar nossas notas fiscais. Agora então, todas as notas serão bem-vindas. Se você mora no CE, é só escrever o número 0428121 (bem visível) na sua nota, com valores acima de R$ 5,00, e depositar nas urnas espalhadas pela cidade (Farmácia Pague Menos tem). Se esquecer o número, ou não puder depositar na urnas, é só fazer com que as notas cheguem até mim.

Agradeço demais mesmo!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Aos leitores

Tem muita gente agora passando por aqui. Gente que eu conheço bem, gente que eu conheço, gente que eu sei quem é, uns amigos do Thiago e muitos conhecidos dele também, mas tem gente que nem mora aqui em Fortaleza, que caiu por acaso no blog. Obrigada aos que permanecem. Eu escrevo para mim, como terapia, como exorcismo, como expulsão da dor, mas eu escrevo também para vocês. Adoro cada comentário que recebo. Cada vez que alguém me diz palavras de conforto, ou manda uma energia boa, ou um pensamento positivo, ou torce por mim ou pelos meus pequenos, ou dá uma ajuda, ou se oferece, é um peso a menos da tonelada que carrego. Por tudo que vocês representam neste momento, eu interrompo os posts para algumas palavras:

Mulher da Peste,
Essa era uma de nossas músicas e eu repeti muitas vezes o verso: "Se tivesse mais alma para dar, eu daria. Isso pra mim é viver!"

Izabel,
Nunca esperei receber tanto carinho de alguém. Muito obrigada!

Sofia,
Que bom saber que voces estão comigo. Já passamos por tantas, hein?

Anna Camila, Anna Caroline, Kamyla, Monica (CL), Flavia, Cassia, Juna (Narinha), Barbara (porque eu sei que me lê, mas não comenta) e demais anônimos: obrigada pelo carinho e pelo conforto, pela leitura dos meus pedaços extirpados.

Nunca poderei agradecer o suficiente.


PS:Laila, lembro de você sim! A Laila me pediu, mas para quem mais quiser falar algo impublicável, meu email pessoal: marcelealencar@hotmail.com

POR FAVOR, NÃO DEIXEM DE COMENTAR!

No convite para o nosso casamento

Na primeira página do livro "DESAFIO - uma poética do amor", que ele me deu em 2001, o Thi me escreveu uma dedicatória que diz assim:

"Ao primeiro e imenso amor verdadeiro da minha vida, ofereço esses versos maravilhosos que retratam um pouco da grandeza de nossos sentimentos agora unidos numa só dimensão. Amo você demais!
Thiago Castro"

Muitos anos depois, a gente escolheu este soneto para o nosso convite de casamento:

SONETO DO AMOR REALIZADO

Feliz
porque não falta
nem satura
numa vaga
de excesso
ou de carência:
há sempre um mais
que cobre até os ontens
e um menos
que garante os amanhãs.

Feliz porque
cruzados os trajetos
os dois se multiplicam
no percurso:
cravam marcas do outro
em seu querer;
ouvem ecos do outro
em seu pesar.

Sem queixa
sem recalque
sem receio
a vida é um projeto
que se cumpre
a morte é um sinete
que não ferra.

Feliz
sem egoísmo e sem alarde.
Mas mais feliz ainda
porque emitem
um raio de alegria para os outros.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Desabafando

Não tinha como não amar o Thiago, como também não há como não lamentar sua ausência. Tínhamos um amor tão lindo, com frutos nossos, que amávamos mais que a nós mesmos. Tínhamos a cumplicidade no olhar, no entendimento mudo, no piscar de olhos que significava "eu te amo", no braço dele que pousava na minha cintura e na minha perna que descansava sobre a dele todas as noite a noite toda. Tínhamos respeito um pelo outro, carinho, cuidado, ternura, que muitos casais perdem ainda no namoro... Tínhamos tantos planos de viagem, roteiros prontos esperando só a oportunidade... Tínhamos projetos a executar, sonhos a concretizar, tínhamos um futuro lindo, bem-sucedido, invejável pela frente. Éramos uma família de comercial de margarina e agora somos exemplo de tragédia... Ai, como dói!

Eu queria tanto realizar os nossos sonhos, Thi. Levar os meninos à Disney e conhcer o Leste Europeu, comprar direitinho nosso apê e decorar do jeitinho que a gente planejou junto, viajar nos fins de semana para uma praia com as crianças e levá-los aos domingos para a recreação no Parque do Cocó... Mas fazer qualquer dessas coisas sem você será um martírio para mim. Está sendo um martírio viver sem você aqui, Thi...

Todo mundo me diz, meu amor, para viver um dia de cada vez. Eu mesma me repito isso, como que para entender e absorver. Mas eu só consigo pensar no lá longe, lá para frente, em que essa dor não me esmague o peito, não me parta ao meio e, enfim, eu consiga de novo encher o pulmão e esticar a coluna.

Reconhecimento

Olha, não é mesmo fácil acordar todos os dias... Muitas vezes me dá vontade de me esconder embaixo dos eus lençóis e chorar na cama, como dizem, que é lugar quente. Eu não tenho opção, eu tenho que seguir em frente, eu tenho que correr atrás, eu tenho que criar meus filhos, eu tenho que lhes garantir uma vida digna, EU TENHO QUE. Mas diante de tanta dificuldade, tantos problemas, tanta desesperança, tanta dor, a gente tá deitado em um colchão humano, com lençóis percal 200 fios... É tanta gente se oferecendo, nos ajudando, se colocando à disposição, me ouvindo, dividindo, fazendo das tripas coração, que eu não posso sequer imaginar como posso agradecer.

Para estas pessoas e para vocês, duas centenas de pessoas, que me leem todos os dias, eu só posso dizer: MUITO OBRIGADA!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nunca fez tanto sentido...

Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta

Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta


Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...
.


Assista aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=ECuq93sB6qM

Entraves

Eu carrego em mim uma dor tão grande que, muitas vezes, eu penso que vai me consumir. Eu carrego em mim uma dor tão lancinante que eu penso que vai me partir ao meio. Eu carrego em mim uma dor tão imensa que eu não consigo acreditar que vai passar. Não consigo. Mas o pior de tudo, o que faz com que as lágrimas brotem em torrões, é me deparar todos os dias com um monte de entraves. No meio de uma tragédia dessas proporções, burocratas teimam em bloquear ainda mais (se é que isso é possível) a minha vida. Eu fico aqui, travada, com os nevos à flor da pele, com lágrimas escorrendo e tendo que esperar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pensamentos imperfeitos - replay

Faz muito tempo, eu escrevi o texto abaixo e mandei para ele por email. A resposta dele representa exatamente o que eu disse sobre a desculpa inescapável para ficarmos juntos. Era isso que ele queria antes mesmo de saber da grande notícia. Eu descobri que estava grávida do Matheus no dia 20/02/2006, quase duas semanas depois de receber essa resposta dele.
 
Eis o texto e abaixo a resposta:
 

Pensamentos Imperfeitos

E, de repente, me veio essa vontade incômoda e insistente de te dizer essas coisas que pairam na minha cabeça, que permeiam meus pensamentos cotidianos. E, de repente, me veio essa necessidade estranha e indecifrável de falar acerca das coisas que me fazem lembrar, agora, que aqui dentro existe um coração que transborda de sentimento – e eu não sabia. E, de repente, me vi aqui, outlook aberto, a página em branco, essas teclas a minha frente e eu simplesmente sem saber o que dizer. Com a prolixidade e a falta de objetividade que me são comuns, tento (em vão?) te contar sobre o amor que explode em mim, que me faz ver as coisas de um modo diferente, que me move e me modifica, me transforma e me faz mulher. Fico tentando te contar que preciso do teu amor também, não que ele seja condição para a minha felicidade, não que ele seja a razão do meu viver, não que somente ao teu lado poderei ser feliz... Não que eu ache isso. Não acho! Mas preciso do teu amor como para a sensação de tranquilidade, para o sentimento de paz, para a alegria verdadeira, para o conforto seguro, para (como diria o muso Caio Fernando Abreu) que seja doce... Preciso do teu amor da exata maneira que ele me é recusado: infinito, incondicional, sem astúcias, sem desconfianças, sem cobranças, sem obrigações... Preciso do teu amor leve, fortuito, fiel, inesperado e surpreendente como me foi ofertado once. Sim, preciso do teu amor, aquele mesmo que preencheu tantos dias e que atravessou três voltas da Terra em torno do sol. Não sei mais por quantas provas finais, com peso dois, terei que passar. Não sei mais quantas vezes terei que fechar os olhos, respirar fundo e contar até 814, umas trinta e cinco vezes. Não sei quantas vezes sentirei meu coração se despedaçando a ponto de me faltar ar. Não sei quantas lágrimas ainda escorrerão. Não sei. O fato é que por este amor que escorre, pos este sentimento que explode, tudo mais parece demasiado pequeno. Tudo mais parece incrivelmente irrisório. É decisão, da qual não arredo pé! É convicção, é certeza, é resolução, é promessa de fim de ano, é projeto de vida. Eu passo pelo que tiver de passar, eu faço o que tiver de ser feito, eu aguento o que puder aguentar para confirmar o que eu sempre soube: que eu sei que vou te amar por toda minha vida.
 
De: Thiago Castro [mailto:thicamo@bol.com.br]
Enviada em: terça-feira, 7 de fevereiro de 2006 16:28
Para: Marcele Alencar
Assunto: Re: Pensamentos imperfeitos

Ai, morena!

E imagina o tamanho da minha surpresa ao ver esse seu email...
Tenho certeza de que o amor que sinto hoje por você é totalmente diferente daquele que lhe guiou por três voltas da Terra ao Sol, mas tenho também a convicção de que você também está dentro dos meus planos: se hoje quero fazer Residência Médica em Porto Alegre, São Paulo, Oiapoque, Chuí, sei lá... é com você que quero estar. É com você que quero construir algo que residência nenhuma me dará: uma família.
Mas hoje em dia algo novo também me surge: a infelicidade em ter de te dizer isso sempre... talvez por trauma, por sofrimento antigo, sei lá... acho que isso deve ser percebido e o simples de fato de dizer isso vai de encontro a toda demonstração e percepção que você deva ter...
Enfim, desculpa toda a dureza, tudo o que falo (pra não deixar transparecer nada mais que a verdade), o jeito novo (e talvez estranho) com que lido com esse seu amor tão bem percebido por mim, mas tenho também a absoluta certeza de que tudo isso irá se acalmar...
Antes eu pensava: mas ainda passaremos por tantas dificuldades... hoje me veio à mente: já estamos passando por dificuldades... e até então estamos sabendo passar por tudo isso, apesar do sofrimento...

Também te amo Morena, mas tenho que estudar...

Thi Castro


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"O fardo pesado que levas deságua na força que tens..." (Dona Cila - Maria Gadú)

Três semanas

Três semanas se passaram.

Neste mesmo horário, naquele dia, eu estava falando com você. Hoje, você não existe mais.

Três semanas se passaram e a dor ainda lateja, o sono ainda me derruba à noite, as lágrimas ainda pulam dos meus olhos, o corpo ainda se arrasta pesado, o peito ainda está apertado, as costas ainda se curvam... A vida segue no mundo todo, só a minha parece estar em suspensão ou slowmotion...

Três semanas se passaram e o estômago não revira mais e ronca com fome nas horas habituais; os meninos retomaram a escola; a Lalá prepara as comidas deliciosas de sempre sem você para raspar o prato; eu me levanto e me arrumo, uso todos os cremes e as maquiagens que entopem nosso banheiro; as pessoas já não estão lá em casa sempre e agora, sim, a ficha cai.

A ficha cai porque vem a percepção de que a porta não vai se abrir, o telefone não vai tocar, você não vai chegar mais... A ficha cai e eu continuo sendo arrastada pela vida até o dia em que eu consiga emergir desse fundo do poço e essa dor me abandone.


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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dura realidade

Antes de saber do que acontecera e enquanto eu ainda fazia ligações para o mundo todo, eu senti, eu soube. Não era certeza, não foi dito por ninguém. Mas dentro de mim eu sentia uma angústia enorme, um desarranjo que eu não consigo explicar, algo me revirava tudo por dentro, me fazia bambear as pernas, me deixava tonta... Antes de ouvir a verdade, e ainda no carro a caminho de Sobral, eu sentia um aperto no peito, um rasgo disforme, as pontadas latejantes, e simplesmente não conseguia me concentrar em nada, no que era dito, nas ligações que estavam sendo feitas, nas palavras da minha sogra e do meu cunhado... Eu sabia, mas eu não queria saber.

Quando enfim me disseram, eu não conseguia chorar, ouvir, falar, me movimentar, eu não conseguia ser. Naquele momento, eu não era. Disseram que ele teve um trauma na C1, que fez com que o cerébro imediatamente se desligasse do corpo, que ele não sentiu nada, que não estava mais lá. Quando eu soube, eu também sofri este trauma, porque meu cerébro não estava mais neste corpo e eu não conseguia nem pensar.

Passado estes dias, eu voltei a mim como quem sobrevive a uma catástrofe, como quem escapou por um fio. Eu estou aqui com tudo em carne viva, histericamente, agudamente, hiperbolicamente doendo no corpo inteiro. Estou aqui, mas na UTI, sob sedação e respirando com a ajuda de aparelhos. Eu escuto ao longe pessoas conversando, crianças brincando, amigos falando... Eu sei que sobrevivi, mas não estou vivendo e, sinceramente, nem sei se serei capaz.

Quando alguém muito querido se vai assim, de repente, deixa um buraco enorme na nossa vida. É uma página escrita só até a metade, é um beijo suspenso no ar, é uma piada que não deu tempo de contar, a viagem que não deu tempo de fazer, a festa que não deu tempo de ir... Quando alguém, que é parte do que a gente é, se vai, deixa uma dor tão lancinante que parece que estão a lhe arrancar os membros a sangue frio, sem anestesia. É uma coisa que sai rasgando dentro da gente, uma dor física mesmo.

Mas além da dor da perda, da falta, da saudade, do vazio na cama, no quarto, no lar; além de ver seu menino dizer que o papai está no céu e ter que enfrentar a vida; tem a dor da prática. Eu estou na UTI e indo a cartórios, bancos, seguradoras... Eu estou me arrastando pelo mundo e cuidando de pensão, indenizações e documentos... O pior de tudo é essa pilha de coisas a resolver. Um monte de papéis, carimbos e autenticações esperando por mim. É tudo tão difícil e doloroso. É tudo burocrático demais. Se não tivesse dois pequenos a depender disso, eu tenho certeza que desde o dia 21/01 eu estava embaixo da cama, agarrada ao lençol, na companhia das minhas muitas lágrimas retidas pela burocracia.

Mas eu não tenho opção, eu tenho que ir. E eu vou deixando lágrimas pelos caminhos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Gostava tanto de você

Uma música muito conhecida esmigalhou meu coração quando eu me dirigia ao trabalho esta tarde. Eu sempre achei que fosse uma canção que falava sobre uma desilusão amorosa. Eu sempre cantei nas minhas dores de cotovelo, mas agora ela tem outro contexto e se encaixa:
 
"Não sei porque você se foi
Quanta saudade eu senti
E de tristezas vou viver
Aquele adeus, não pude dar
Você marcou a minha vida
Viveu, morreu na minha história
Chego a ter medo do futuro
e da solidão que em minha porta bate
 
Eu corro, eu fujo dessa sombra
Em sonhos, vejo esse passado
e na parede do meu quarto
ainda está o seu retrato.
Não quero ver para não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você"
 


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Tudo é só saudade

Saudade dos olhos que fechavam quando o sorriso se abria. Saudade da gargalhada fácil que, quando a piada era muito boa, terminava sempre com um engasgo e muita tosse. Saudade do perfume a invadir a casa. Saudade do esfregar irritante das mãos quando eram lavadas. Saudade da massa misturada de cores e sabores com a comida no almoço. Saudade de reclamar pelas horas no computador. Saudade de vê-lo retirar do cabideiro uma dúzia de roupas minhas reclamando. Saudade da organização milimétrica, da praticidade em resolver tudo. Saudade de reclamar da falta de estilo e da constante vontade de andar pelo mundo de havaianas. Saudade de reclamar da falta de cuidado com a própria saúde, de viver dizendo "em casa de ferreiro, espeto de pau". Saudade de reclamar das unhas roídas, da mania de mastigar plástico, de dizer que a fase oral dele seria eterna. Saudade dos inúmeros planos de viagens que fizemos, incusive pra esse janeiro, que passou me despedaçando. Saudade do aconchego, do ombro acolhedor, do cafuné que descabelava, do ronco ensurdecedor quando bebia, do barulho da porta do elevador se abrindo e a sonoridade do "BOA TARDE" feliz que ele nos dava assim que entrava em casa. Saudade do beijo estalado de todas as despedidas, ainda que com sono, ainda que com raiva, ainda que a contragosto. Saudade de ouvi-lo me chamar de bicho preguiça, de mamãezinha, de princesinha, de moreninha, de mozinho, de meu amor, de Cele... Saudade, muita saudade.

PS: Uma das cantoras que ele mais ouviu (eu também) no período recente foi Maria Gadú; e ele gostava particularmente de uma música chamada Dona Cila:

"De todo o amor que eu tenho,
metade foi tu quem me deu
salvando minh'alma da vida,
sorrindo e fazendo o meu eu.
Se queres partir, ir embora,
me olha de onde estiver,
que eu vou te mostrar que eu tô pronta.
Me colha madura do pé.
Salve, salve essa nega que axé ela tem!
Te carrego no colo e te dou minha mão.
Minha vida depende só do teu encanto.
Cila, pode ir tranquila. Teu rebanho tá pronto.
Teu olho que brilha e não pára.
Tuas mãos de fazer tudo e até
a vida que chamo de minha.
Neguinha, te encontro na fé.
Me mostre um caminho agora,
um jeito de estar sem você.
O apego não quer ir embora.
Diaxo, ele tem que querer!
Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
vai chegar a rainha, precisando dormir.
Quando ela chegar, tu me faz um favor:
dê um banto a ela que ela me benze aonde eu for".



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domingo, 7 de fevereiro de 2010

De onde a força vem...

São tão pequenos ainda e, muito provavelmente, não terão lembrança alguma do pai que não as inúmeras fotos reveladas a encher os álbuns dispostos no armário da sala. São tão pequenos ainda e já vivem esse momento tão terrível. O menor a arrancar meus sorrisos, a tirar de mim uma alegria que eu pensava estar perdida para sempre... O maior a me fazer entender que a vida segue, apesar de doer vezenquando...

Foi assim, no percurso da escola para casa, que ele se lembrou do pai. Eis o diálogo:

- Mamãe, o papai vai estar na nossa casa quando a gente chegar?
- Não, Matheus, o papai não vai mais voltar.
- Mas mamãe a vovó Paula disse que o papai do céu tava doente e que por isso tinha levado meu papai.
- Pode ter sido por isso, Matheus... Talvez tenha muita gente doente no céu...
- Então mamãe quando eles ficarem bons o meu papai volta, né?
- Não, Matheus. A mamãe também queria muito que o papai voltasse... (olhos marejando)
... (ELE CHOROU)...
- Mamãe, eu quero abraçar você...
(Eu encosto o carro e coloco meu filho no colo)
- Mamãe, quando você ficar com saudade do papai e quiser chorar, você me abraça também, viu?
- Tá bom, meu amor, eu vou te abraçar muito.

É por eles, meu povo, é só por eles que eu ainda respiro.











A gente ainda tinha muitos sorrisos para sorrir juntos, meu amor!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Agradecimento

QUASE 200 VISITAS ONTEM! OBRIGADA!

Do Orkut de novo

Sorte de hoje: O sucesso não é o final e o fracasso não é fatal: o que conta é a coragem para seguir em frente.

E não é verdade? O importante é seguir em frente, eu sempre disse isso, apesar dos inúmeros, contantes e triviais apesares. Este especificamente me parece por demais pesado. Não contava mesmo com essa rasteira da vida. Pelo contrário... Mas eu também sempre disse que estava aqui para colocar a cara à tapa.

Meu pedido de final do ano, que até então sempre fora atendido, era só para ser feliz. Eu estava realmente muito feliz e não havia mais muita coisa a ser pedida. 2010 seria uma ano de concretizações. Tínhamos combinados tanta coisa para este ano: apê novo, festa de casamento, a mentalité... Tínhamos tanta coisa para fazer com ele que, diante dessa tragédia, eu só consigo pensar que ele pode passar correndo. Preciso de 2011!

Se 2010 veio para me arrancar dos meus sonhos de vida para me mostrar o fundo do poço, eu só quero que 2011 me mostre a escada pra sair daqui e que ele chegue logo, para ontem!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Nada convencional

O papai e a mamãe se conheceram numa festa brega no Valeu Boi. Isso não denuncia a idade deles, meus pequenos. É que a gente começou a farrear muito cedo mesmo. Lembro bem de achar o papai muito criança porque ele não bebia e, naquela idade, beber era sinal de adultice. Ele me contou muito tempo depois que achou a mamãe magrela demais (e eu era mesmo) e exibida. O tio Greg disse ao papai que a mamãe estava interessada nele, o que era mentira. O tio Greg disse à mamãe que o papai estava interessado nela, o que também era mentira. O tio Greg não se lembra de ter feito isso. Mas foi assim que o papai e a mamãe ficaram pela primeira vez e foi só isso.

Alguns anos depois, a mamãe e o papai se reencontraram, mas ela estava envolvida num relacionamento turbulento e doentio. Nos momentos em que ela emergia pra tomar ar, era o papai que ela encontrava. E foi assim que eles se reaproximaram. Dessa vez, ele não era mais criança e ela precisava mesmo encontrar um cara legal. Quando o relacionamento turbulento e doentio teve um ponto final, o papai apareceu de verdade na vida da mamãe. Foi sem querer, nenhum dos dois tinha realmente a intenção de se envolver. Mas eles se encontraram quase todos os dias do verão de 2000/2001. De encontros fortuitos, eles passaram a encontros marcados e depois eles só saíam juntos. E, antes mesmo dele se dar conta do sentimento que sentia, ela já sabia que estava apaixonada por ele. Ele repetia que deveria ser "sem paixão" e chamava a mamãe de "meritíssima".

A mamãe não queria sofrer de novo, por isso pediu pra terminar aquela história. Mas o papai não aguentou passar nem dois dias longe dela. No dia 23/01/2001, eles começaram oficialmente a namorar. Foi lindo, meus pequenos, quando ele pediu a mamãe em namoro. Eles choraram de felicidade. Era um amor tão grande, tão bonito... Eles se ajudavam, se completavam... Papai e mamãe se davam bem em tudo, escreviam cartas lindas e comemoravam sempre as conquistas de cada um. Foi nesse tempo que ele passou a chamar a mamãe de "moreninha". O tio Greg e a tia Keka começaram a namorar também e eram nossa principal companhia nas sextas no Picanha à moda. A gente sempre ia pra lá e os dois meninos bebiam rum com coca e pediam coração de boi. As vacas eram bem magras naqueles tempos, meus amores.

Depois de quase três anos, o namoro do papai e da mamãe entrou em crise. Eles brigavam muito, mas principalmente porque o papai não entendia muitas coisas da personalidade da mamãe. Ela nunca foi sorriso e simpatia, como ele. A mamãe é mais reservada, mais turrona. O papai era relações públicas, amigo de todo mundo, super carismático. Isso chateava muito o papai. Aí, a gota d'água aconteceu num fortal, em que o papai queria muito aproveitar. Eles brigaram feio, feio mesmo. Mas a briga em si não foi o ponto final. O ponto final aconteceu porque dois dias depois o papai foi para Alemanha, numa viagem de sonhos e oportunidades.

Papai passou 40 dias por lá. Nesse tempo, a mamãe remoeu muito o final do namoro e sofreu taaanto, meus pequenos. Quando o papai voltou, a mamãe não queria mais ficar com ele e foi aí que o papai sofreu. Sofreu muito, profundamente. Todo mundo sabia que ele tava sofrendo, ele não quis esconder de ninguém. Ele tentou muitas vezes reatar o namoro. Mas a mamãe não quis. Ela achava que o relacionamento deles era uma barca furada e queria vivenciar outras histórias. A mamãe achava que poderia encontrar alguém que combinasse com ela também, mas que entendesse e respeitasse o jeito dela ser. E assim, cada um foi para o seu lado, mas sem desamarrar de vez o laço que os unia.

Foram quase dois anos esticando o elástico que prendia um ao outro. Papai e mamãe fizeram uma força descomunal para desmanchar o vínculo, mas vez ou outra eles terminavam juntos. Apareceram outras pessoas na vida do papai e da mamãe, mas ninguém que tomasse o lugar que o outro tinha. Quando o papai ganhou uma bolsa para estudar 6 meses na Alemanha, a mamãe teve muito medo de perdê-lo para sempre. Medo de que ele não voltasse mais, de que se apaixonasse por uma alemã, de que ele se esquecesse dela de vez... Foi aí que a mamãe resolveu deixar de esticar o elástico e voltar para o lugar de onde tinha vindo.

Nessa época, o papai estava forte e decidido. É claro que ele não deixaria de aproveitar essa oportunidade, mas a mamãe não ficava mais longe da vida dele. Ele passou os seis meses lá e, através de emails, dizia sempre que tinha certeza absoluta de que a mamãe não era a mulher da vida dele, que nossa história tinha acabado mesmo e que ele só queria aproveitar e ser feliz. Mas a mamãe não é mulher de desistir fácil. No dia em que o papai retornou ao Brasil, a mamãe foi lá na casa dele, dá um abraço de boas vindas. Alguns dias depois, foi o Baile de Formatura do papai. A mamãe caprichou na produção e foi lá que o elástico deixou de ser esticado de vez.

O papai relutou muito, não queria ver que era com a mamãe que ele tinha que ficar mesmo, ele tinha conflitos internos. A mamãe entendia: se ele tinha dito tantas vezes e a tanta gente que não queria mais nem notícia da mamãe, como é que iria aparecer com ela??? Mas foi inevitável, meus pequenos. Era sem controle, sem limites, irrefutável, era óbvio demais, era tudo que a gente queria. Em duas semanas, papai e mamãe já se amavam como se não tivesse havido um hiato, mas ainda não sabiam como iriam mostrar isso a todo mundo. E tinha também o inconveniente do Carnaval: ele iria pra Salvador, em mais uma viagem dos sonhos; ela, para Olinda. Combinaram então para depois do Carnaval resolverem tudo.

Mas a vida, meus meninos, é mesmo uma caixinha de surpresas e lembrar isso tudo faz meu coração palpitar. A mamãe descobriu que estava grávida do Matheus na segunda-feira antes do Carnaval. Aí o motivo que faltava, a razão hors concours, a desculpa perfeita, a causa inescapável apareceu num exame de ultrassom transvaginal. O que poderia, num primeiro momento, ser motivo de desespero, foi motivo de muita alegria para a mamãe e para o papai. A gente já era uma família, a gente nunca mais vai deixar de ser!

Foi assim, meus pequenos, que nos tornamos nós. Foi assim que construímos essa família, esse amor. Não foi da maneira convencional, mas foi tão linda a nossa história. Eu conto agora para vocês, para que vocês saibam que tudo aconteceu como deveria acontecer. Apesar das lágrimas nos meus olhos, das mãos trêmulas, do engasgo na garganta, do aperto no peito e do peso enorme de tanta responsabilidade, não houve e não haverá razão para lamentar. Foi uma história de amor, meus meninos, uma história de amor para recordar, porque esse amor, rasgado pela morte prematura do pai de vocês, será eterno.




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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Conforto

Sim, há o vazio, o aperto, a saudade e muitas lágrimas... Mas no meio do caos, há muitos amigos, muita gente fazendo carinho na gente e doando tudo o que tem, mais do que pode, em alguns casos. Tem gente juntando amigos, reunindo a turma toda, estendendo os braços, sendo todo ouvidos, sendo companhia muda, sendo companhia apenas, colocando seus serviços ao nosso dispor... Tem gente fazendo ligações, mutirões, bolões... Tem gente ajudando, tem gente com a gente, meus meninos! Nós não estamos sós! Constatar isso faz com que lágrimas de dor virem lágrimas de amor.

Muito obrigada, gente! Muito obrigada!!!

Viver assim não é viver...

Eu viveria com você, não sem sofrer, mesmo se se transformasse num sujeito esquisito, rabugento, implicante, ciumento, possessivo e antipático. Eu viveria com você se se tornasse mulherengo, mentiroso, cafajeste e viciado. Eu aguentaria e engoliria em seco se tivesse de vê-lo acompanhado de outros amores e se tivesse de aturá-los por conta do vínculo que formamos através de nossos filhos. Eu viveria até longe de você, sem falar com você, sem ter o seu cuidado para comigo, para com os nossos meninos. Eu viveria a minha vida toda sofrendo sem o seu amor, sem a sua atenção. Conviveria com a indiferença, a rispidez, a ausência, a distância, o descaso, o descrédito, a decepção, a amargura... Mas, Thi, é pesado, doloroso e penoso demais viver num mundo em que você simplesmente não existe mais. Eu apenas sobrevivo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Memória

Naquele dia, ele acordou cedo como fez nas duas quartas anteriores, do mês de janeiro. Nas outras duas vezes que ele foi pra lá, eu não me lembro da nossa despedida. Tenho certeza de que ele me beijou antes de sair. Fazíamos isso sempre, mas eu não lembro.

Na quarta-feira, 20, ele não só me beijou. Ele me abraçou demorado, mexeu no meu cabelo, cheirou meu pescoço, elogiou a minha pele e meu perfume, ele deixou claro o amor por mim num número sem fim de carinhos, que eu não sabia, mas seriam os últimos e ficariam num espaço nebuloso da memória. Nebuloso, sim, porque naquele momento eu estava num estágio entre o sono e o despertar, entre o inconsciente e o consciente.

De qualquer forma, o carinho ficou em mim, bem como o vocativo e a voz que ele usou na última ligação telefônica que fez: "Princesinha". Ele me instruía para agendar coisas triviais, como consultas e compras, mas esqueceu de me instruir como conviver com essa falta que pesa tanto agora.

____________________________________

Mais de uma centena de visitas por dia. Obrigada por lerem e me ajudarem a esvaziar essa dor.


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Revirando

Faz tempo que eu escrevi, mas foi bom ler de novo. 
Foi bom porque a dor hoje é muito maior, mas o raciocínio deve ser o mesmo. 

Segunda-feira, Fevereiro 05, 2007

Sobre o tempo

A gente tá cansado de saber que o tempo é o pai de todas as curas. Só ele é remédio pra todas as feridas, as do corpo e as da alma. Só ele apaga todas as mágoas e todas as más recordações. É único responsável pelo apagão nos destroços de uma história de amor, e, por conta disso, também é responsável pela nossa sobrevivência a estas devastações românticas.

Só o tempo mesmo é capaz de soprar as folhas da nossa vida e fazer com que aqueçamos o coração com lembranças doces, amigos queridos, infâncias remotas, tempos idos de colégio e de faculdade... Só o tempo mesmo é senhor do nosso destino e faz com que, através da segurança que a distância temporal nos dá, possamos refletir com mais acuidade sobre comportamentos e atitudes tomados por impulso, sobre nossos pequenos "regrets" (quem não os tem???).

Depois de decorrido, ele pára e encara a gente. Ri das bobagens que pensamos, quando da nossa ansiedade para que ele passasse mais rápido. Ri do quanto nos descabelamos achando que não fosse dar certo e deu; do quanto choramos achando que não fosse passar e passou; do quanto torcemos pra que ele corresse depressa e depois nos arrependemos por não termos podido aproveitar tudo direito e com detalhes.

É, o tempo é um senhor de barbas brancas e com aquela extrema experiência senil. Ri muito e sempre dos nossos impulsos cotidianos, dos nossos egoísmos corriqueiros, das nossas desesperanças, dos nossos pessimismos traiçoeiros (estes, sim, capazes de nos derrubar). Ele gosta por demais dos insistentes, dos persistentes, dos teimosos, dos decididos, dos determinados e os agracia constantemente com presentes mais que esperados, conquistados.

O tempo tem aquele quê de "eu já passei por isso" e me dá lições todos os dias . Hoje mesmo ele me acordou cedinho dizendo que nunca é tarde para perceber que ele corre sempre do mesmo jeito, não adianta antecipar o final porque ele vai chegar de qualquer jeito, não adianta apertar o botão ffw... Mais importante de tudo é aproveitar os verbos enquanto estão sendo conjugados no gerúndio, porque como dizia o poeta, o passado já se foi e o futuro é por demais incerto.



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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A gente brigava também


De: Thiago Castro [mailto:paidomatheus@uol.com.br]
Enviada em: quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008 22:27
Para: Marcele
Assunto: Re:

Não estava de mal... estava apenas esperando um BOM pedido de desculpas!

Thiago

----- Original Message -----
From: Marcele
Sent: Thursday, February 28, 2008 8:52 AM
Subject: RES:

Suspeitei desde o princípio que um bom pedido de desculpas deveria ser sorvete de chocolate com calda de caramelo.

Amo vocÊ!

Marcele Alencar

De: Thiago Castro
Enviada em: quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008 17:16
Para: Marcele
Assunto: Re:

Eita que mentira grande!
Isso é que dá casar com uma adEvogada!
Se suspeitou desde o princípio e tinha tanto sorvete no congelador quanto caramelo na geladeira, por que demorou tanto? hehe




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Faz tempo...


De: Thiago Castro
Enviada em: sexta-feira, 4 de janeiro de 2008 20:57
Para: Marcele
Assunto: RE: Texto antigo

Mozinho,

Lembro- me perfeitamente da leitura desse texto em seu blog num cyber perto da minha casa em Berlin. Assim como me lembro perfeitamente de vc negando pelo MSN: dizendo que esse texto não era pra mim. hehehehe
Amo vc e suas ações: dps de um tempo, a gente sempre descobre a verdade por vc mesma! hehehe

Amo vc demais - agora no Brasil, em nosso apê e com nosso Pirroto metido a falante!
Thi



From: marcele@faelce.com.br
To: thicamo@hotmail.com
Subject: Texto antigo
Date: Fri, 4 Jan 2008 15:32:05 -0300

Mozinho,
Olha esse texto que eu escrevi faz é tempo pra você (15/11/2005). Engraçado perceber que hoje a gente ainda tem muitos destes hábitos.

Irremediável
"Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo" (O mar mais longe que eu vejo - Inventário do Ir-remediável. Caio Fernando Abreu)



Acordou com uma vontade estranha, uma saudade estranha, um incômodo indescritível. Era saudade, sim. A constatação disso tanto tempo depois gerou um sorriso nos lábios dela. Deitada ainda, procurou por alguém ao lado na cama, procurou um ombro pra se aconchegar, procurou alguém pra dizer bom dia com uma vozinha infantil, como só quem está muito apaixonado consegue fazer. Mas não havia ninguém lá. Sentiu falta de ligar todos os dias nos mesmos horários para a mesma pessoa, aquela com quem podia ficar conversando leviandades, descrevendo dias modorrentos como se uma história fascinante fosse; e ainda de ligações extraordinárias no meio da tarde da quarta-feira só pra dizer "eu te amo". É, ela tava estranha aquele dia. Sentiu falta da programação do final de semana juntos, das viagens nos feriados prolongados para aquela casa de praia, da perspectiva de uma vida inteira juntos. Lembrou-se do nome dos filhos que planejara ter. Lembrou da turma de casais e daquele barzinho de todas as sextas. Lembrou dos micos que pagaram juntos não sei quantas vezes por conta da bebida e da parada obrigatória naquela lanchonete no meio da madrugada, aos domingos ou quando batesse nela uma vontade irresistível de comer tranqueira. Lembrou da confiança incondicional, da cumplicidade, da intimidade extrema, do companheirismo, da mão pesando na perna quando no carro, do corpo pesando sobre o dela, do beijo ofegante, do abraço apertado e das lágrimas (tantas...) por ciúme, por amor demais, por saudade, por brigas inúteis... Lembrou de como se sentia ao lado dele, da sensação de que tudo ia ficar bem, por maior e pior que fosse o problema. Lembrou das aulas de química, das horas em que ficavam sentados, cada um estudando suas coisas, mas sempre por perto, ao alcance dos lábios. Riu muito da mania de doce, do festival de cosquinhas, das brigas estúpidas em Olinda e das inúmeras reconciliações. Lembrou de como ele achava engraçado as lágrimas que saltavam dos olhos dela por qualquer bobagem, um filme, uma homenagem, uma frase, um poema... Lembrou do quanto foi difícil aquela viagem que ele fez. Lembrou-se dos inúmeros aniversários, das surpresas e de uma mágoa. Porque toda história de amor tem suas mágoas. Porque toda história de amor é pra ser lembrada.

O passado continua essencialmente o mesmo e, já que não pode mais ser vivido, pede para ser lembrado...




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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Retorno à rotina

Essa pessoa que caminha nas ruas, batendo o salto no asfalto, com óculos gigantes no rosto e uma maxi-bolsa, essa pessoa é uma farsa.

Essa pessoa que dirige o carro preto, que vai e volta, que faz as refeições, que atende ligações e manda emails importantes. Essa pessoa também é uma farsa.

Não há nada de força, nem vitalidade, nem vontade, nem determinação... Não há mais quase nada nela. Restou-lhe apenas uma saudade doída e um amor imenso por duas criaturinhas que a impele pra frente, avante.