terça-feira, 31 de agosto de 2010
Sobre as cicatrizes
Tenho algumas cicatrizes no corpo. Quedas na infância, briga com irmão-escorregão-bujão de gás no queixo, esconde-esconde e ladeira. Tenho cicatrizes cirúrgicas, partos, implantes. Tenho cicatrizes que denunciam o que eu sou e o que eu fiz. Representam tanto: histórias engraçadas da minha vida; o maior amor do mundo; auto-estima... Cada cicatriz é um pedaço do que eu sou. Não quero escondê-las nem expô-las. Não é preciso. O que elas são estampa o meu rosto. Mas o que mais carrego, com o que mais convivo são as cicatrizes que não se vê a olho nu. São as da alma que moldam a pessoa que me tornei. São as cicatrizes no de dentro que nos fazem assim ou assado. São muitas. Algumas abertas e sangrando. Outras bem fechadas, quase não se vê. Umas me cortaram de ponta a ponta e latejam. Outras me deixaram os sentidos dormentes. São as minhas cicatrizes que me fazem entender que sobrevivi e posso contar. São as cicatrizes que me possibilitaram crescer. Elas são aquilo que une os caquinhos em que me despedaçei. Efetivamente, são a marca da mácula. Que se tornem dormentes, o quanto antes. É só o que desejo.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Cartas para você XVII
Thi,
Na próxima semana, receberei as chaves do apê novo. Eu assinei a documentação toda. Eu fui ver a obra. Eu pedi orçamentos aos marceneiros. Eu tô pesquisando preços de tudo. Eu tô cuidando da vidinha que terei com nossos pequenos na "casa nova", como o Matheus diz. Em pouco mais de um mês, estaremos lá, Thi, e a nossa vida, nosso casamento, nossa rotina, nosso dia-a-dia vai ficar na "casa velha", que hoje, parece um depósito, cheia de caixas para empacotar minha vida, minhas melhores recordações, meu tempo com você
É isso que eu tenho feito. Decidido o que levar, empacotado livros, utensílios domésticos, brinquedos, documentos. Estou me desfazendo do supérfluo, do desnecessário, do que não cabe. Como a gente junta coisa na vida, né, mozinho? Estar arrumando tudo, também colabora (e muito) para a sensação de que a mudança vai acontecer. Não consigo para de pensar que é um livro que eu tô terminando de ler. E é como aquelas histórias que você começa e não quer que termine e não consegue soltar e quando acaba quer ler de novo. E dói, sabe? Terminar de ler dói, não poder ler de novo dói, como também dói assimilar a definitividade de tudo isso.
Não sei porquê, mas tenho me lembrado tanto de você estes dias. Não são lembranças de momentos nossos, não são frases ou palavras suas; são flashs de sua presença na nossa casa. Lembro de você sentado na mesa da sala estudando. Lembro da sua expressão quando concentrado no texto. Lembro de você assistindo aos DVDs do Medcurso. Lembro da sua feição deitado na rede no nosso quarto com o Thomás. Lembro da sua maneira de parar em pé com o braço dobrado sobre a barriga e de como isso fazia com que você parecesse ainda mais com seu pai. Lembro tanto de você, das coisas que eram só suas, do seu jeito de ser...
Não sei como vai ser minha vida no mais pra frente, mas sinto que o depois disso começa com essa mudança. E depois da mudança, eu não sei mais. Quis tanto correr pra que esse dia chegasse que agora que ele está aí, dando às caras, eu não sei o que fazer com o resto dos meus dias. Eu vou pensar quando eu estiver lá, mozinho. Sei que vai dar certo e que o sorriso vai continuar estampando meu rosto e o dos pequenos. Sei que deve ter muita mais coisa boa esperando pela gente no caminho. Sei que, de alguma maneira, você vai se fazer presente em cada um dos nossos dias e isso, por si só, já é motivo para estar em paz e ser feliz. Sei que a vida é do jeito que a gente encara, do jeito que a gente enfrenta. Estamos enfrentando, mozinho!
Ainda saudade. Ainda amor.
Também amo você demais!
Moreninha
Na próxima semana, receberei as chaves do apê novo. Eu assinei a documentação toda. Eu fui ver a obra. Eu pedi orçamentos aos marceneiros. Eu tô pesquisando preços de tudo. Eu tô cuidando da vidinha que terei com nossos pequenos na "casa nova", como o Matheus diz. Em pouco mais de um mês, estaremos lá, Thi, e a nossa vida, nosso casamento, nossa rotina, nosso dia-a-dia vai ficar na "casa velha", que hoje, parece um depósito, cheia de caixas para empacotar minha vida, minhas melhores recordações, meu tempo com você
É isso que eu tenho feito. Decidido o que levar, empacotado livros, utensílios domésticos, brinquedos, documentos. Estou me desfazendo do supérfluo, do desnecessário, do que não cabe. Como a gente junta coisa na vida, né, mozinho? Estar arrumando tudo, também colabora (e muito) para a sensação de que a mudança vai acontecer. Não consigo para de pensar que é um livro que eu tô terminando de ler. E é como aquelas histórias que você começa e não quer que termine e não consegue soltar e quando acaba quer ler de novo. E dói, sabe? Terminar de ler dói, não poder ler de novo dói, como também dói assimilar a definitividade de tudo isso.
Não sei porquê, mas tenho me lembrado tanto de você estes dias. Não são lembranças de momentos nossos, não são frases ou palavras suas; são flashs de sua presença na nossa casa. Lembro de você sentado na mesa da sala estudando. Lembro da sua expressão quando concentrado no texto. Lembro de você assistindo aos DVDs do Medcurso. Lembro da sua feição deitado na rede no nosso quarto com o Thomás. Lembro da sua maneira de parar em pé com o braço dobrado sobre a barriga e de como isso fazia com que você parecesse ainda mais com seu pai. Lembro tanto de você, das coisas que eram só suas, do seu jeito de ser...
Não sei como vai ser minha vida no mais pra frente, mas sinto que o depois disso começa com essa mudança. E depois da mudança, eu não sei mais. Quis tanto correr pra que esse dia chegasse que agora que ele está aí, dando às caras, eu não sei o que fazer com o resto dos meus dias. Eu vou pensar quando eu estiver lá, mozinho. Sei que vai dar certo e que o sorriso vai continuar estampando meu rosto e o dos pequenos. Sei que deve ter muita mais coisa boa esperando pela gente no caminho. Sei que, de alguma maneira, você vai se fazer presente em cada um dos nossos dias e isso, por si só, já é motivo para estar em paz e ser feliz. Sei que a vida é do jeito que a gente encara, do jeito que a gente enfrenta. Estamos enfrentando, mozinho!
Ainda saudade. Ainda amor.
Também amo você demais!
Moreninha
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Meme
Então, eu vi no Beijomeliga (link no blogroll) esse meme, em que a gente deve falar nove coisas que as pessoas nem imaginam sobre nós mesmos. Será que eu tenho esse monte? Será que minha vida é assim, tão interessante?
1 - Minha mãe tem mania de novela mexicana (só pode!). A primeira opção para o meu nome era Taís Emília! Aí, né, você fica com esse troço na cabeça, pensando nas rimas possíveis e na bagaça que seria ter um nome desconjuntado assim. Mas para não escapar da breguice, ela resolveu optar por Marcele Caroline e, para não escapar das rimas, chamou minha irmã de Manuele Carine, entendeu? Só para constar: meu irmão se chama Tiago Luiz.
2 - O Thiago diagnosticou esquizofrenia infantil em mim. Quando eu era criança e ainda não existia esses negócios de internet banking, as pessoas enfrentavam loooongas filas nos bancos para pagar suas contas. Com meus pais não era diferente. Para aliviar a barra pesadíssima da babá, muitas vezes, eles me levavam junto. Eles, não; ela, minha mãe me levava junto pra fila do banco. Agora, imaginem vocês, o que uma criança de 4, 5 anos tem pra fazer numa fila quilométrica num banco!!! NA_DA!!! Mas eu, caros senhores, brincava por hoooooras com bolas, chaves e bonecas imaginárias que minha mãe me "dava". Ela dizia que estava estimulando minha imaginação e o Thiago dizia que isso é caso de esquizofrenia. Então, minha doença tem diagnóstico e espero que eu tenha sido curada com os solavancos da vida mesmo.
3 - Eu falava pelos cotovelos, quando criança. Por isso mesmo, nem posso reclamar do Matheus. Eu sentava num batente embaixo da pia da cozinha e conversava por horas com a minha mãe. E eu também adorava escrever histórias mirabolantes sobre seres extraterrestres e sobre crianças muito legais chamadas Marcele, Tiago e Manu. MInha mãe guarda até hoje um caderno de folhas coloridas com histórias e desenhos dessa época. Ela guarda também um outro livrinho, dos meus tempos de GEO, com redações selecionadas dos alunos, com algumas histórinhas minhas.
4 - Eu tenho amigas de infância, porque eu morava num condomínio enorme e fiquei lá até me casar. As mesmas pessoas que brincaram comigo de barbie e de pega-pega e de joão-ajuda-de-patins, tomaram os primeiros porres, dividiram os primeiros ficantes e me acompanham na vida, até hoje. Estavam todas lá no janeiro trágico. E continuam constantemente na minha vida. Bem como a turminha do CLF. Amigas de loooonga data com uma pretensão para os próximos meses que tem feito meu coração palpitar. Com estas meninas de sempre, não tem marido, faculdade, distância, briga, tempo que dê jeito. É pra vida inteira.
5 - Eu era boa aluna de verdade. Eu passei no concurso do Colégio Militar e eu também passei na Escola Técnica (hoje nem mais CEFET é, sei nem como é que chama mais). Do primeiro desisti porque achava a farda ri-dí-cu-la e disse pra minha mãe que não ia estudar lá nem a pau. Da segunda porque eu não podia abrir mão do segundo grau normal, então ia para o colégio de manhã e para a escola técnica de tarde e pro curso de inglês no finalzinho do dia. Essa rotina não deu pra mim! E eu também estudei numa turma especial suuuuper esculhambada. A gente tinha aula de 13:30 às 20:40 e dois intervalos às 15:10 e às 18:50. No segundo intervalo, a gente saía pra beber e não voltava mais! Foi por isso que não passei na UFC de primeira! Mas isso me proporcionou um semestre de Unifor e o Serviço Social na UECE.
6 - A faculdade foi o que todo mundo sempre me disse que seria. Inesquecível. Grandes Amigos. Estudar numa faculdade pública e centenária foi extremamente enriquecedor pra mim. Entrar em contato com gente de todo jeito, tão diferente e tão igual. E aquele email que circula na net dizendo que você aprende a dormir em sala, a fumar, a beber, a gazear aula etc etc etc é tudo verdade. Saudade do tempo em que eu era o futuro do Brasil! Eu engravidei, sem querer (dolo eventual), no último semestre da faculdade (isso todo mundo sabe) e não puder tomar o porre que eu queria na minha festa de formatura. Porém, eu não deixei de entrar aos pulos, mesmo com uma barriga de quase 7 meses!!! Minha formatura foi linda e inesquecível.
7 - Eu casei com meu 5º namorado, o 2º sério. Mas fui a única namorada da vida dele. Eu sou amiga de todos os meus ex. De alguns, muito amiga mesmo. Depois de um tempo, as raivas e rancores acumulados no relacionamento não fazem sentido nenhum e, se eu namorei, era porque a pessoa era bacana. Viro amiga mesmo!
8 - Eu ganhei um prêmio nacional ano passado num concurso de trabalhos técnicos sobre Previdência Complementar. Tem um post falando sobre isso aqui (como eu tô postando por email, não dá pra fazer o link).
9 - Eu não planejo mais meu futuro. Eu só sei do que vou fazer até no máximo dois meses pra frente. Se você me perguntar onde vou passar o reveillon, eu vou responder: Não sei! Se você me perguntar onde vou passar o carnaval, eu vou responder: eu não sei! Se você me perguntar qualquer coisa que envolva decurso de tempo maior que dois meses, eu não saberei. Nem quero saber! Eu sei que vou estar com meus pequenos e isso me basta! Ah, sei também que vou estar feliz!
1 - Minha mãe tem mania de novela mexicana (só pode!). A primeira opção para o meu nome era Taís Emília! Aí, né, você fica com esse troço na cabeça, pensando nas rimas possíveis e na bagaça que seria ter um nome desconjuntado assim. Mas para não escapar da breguice, ela resolveu optar por Marcele Caroline e, para não escapar das rimas, chamou minha irmã de Manuele Carine, entendeu? Só para constar: meu irmão se chama Tiago Luiz.
2 - O Thiago diagnosticou esquizofrenia infantil em mim. Quando eu era criança e ainda não existia esses negócios de internet banking, as pessoas enfrentavam loooongas filas nos bancos para pagar suas contas. Com meus pais não era diferente. Para aliviar a barra pesadíssima da babá, muitas vezes, eles me levavam junto. Eles, não; ela, minha mãe me levava junto pra fila do banco. Agora, imaginem vocês, o que uma criança de 4, 5 anos tem pra fazer numa fila quilométrica num banco!!! NA_DA!!! Mas eu, caros senhores, brincava por hoooooras com bolas, chaves e bonecas imaginárias que minha mãe me "dava". Ela dizia que estava estimulando minha imaginação e o Thiago dizia que isso é caso de esquizofrenia. Então, minha doença tem diagnóstico e espero que eu tenha sido curada com os solavancos da vida mesmo.
3 - Eu falava pelos cotovelos, quando criança. Por isso mesmo, nem posso reclamar do Matheus. Eu sentava num batente embaixo da pia da cozinha e conversava por horas com a minha mãe. E eu também adorava escrever histórias mirabolantes sobre seres extraterrestres e sobre crianças muito legais chamadas Marcele, Tiago e Manu. MInha mãe guarda até hoje um caderno de folhas coloridas com histórias e desenhos dessa época. Ela guarda também um outro livrinho, dos meus tempos de GEO, com redações selecionadas dos alunos, com algumas histórinhas minhas.
4 - Eu tenho amigas de infância, porque eu morava num condomínio enorme e fiquei lá até me casar. As mesmas pessoas que brincaram comigo de barbie e de pega-pega e de joão-ajuda-de-patins, tomaram os primeiros porres, dividiram os primeiros ficantes e me acompanham na vida, até hoje. Estavam todas lá no janeiro trágico. E continuam constantemente na minha vida. Bem como a turminha do CLF. Amigas de loooonga data com uma pretensão para os próximos meses que tem feito meu coração palpitar. Com estas meninas de sempre, não tem marido, faculdade, distância, briga, tempo que dê jeito. É pra vida inteira.
5 - Eu era boa aluna de verdade. Eu passei no concurso do Colégio Militar e eu também passei na Escola Técnica (hoje nem mais CEFET é, sei nem como é que chama mais). Do primeiro desisti porque achava a farda ri-dí-cu-la e disse pra minha mãe que não ia estudar lá nem a pau. Da segunda porque eu não podia abrir mão do segundo grau normal, então ia para o colégio de manhã e para a escola técnica de tarde e pro curso de inglês no finalzinho do dia. Essa rotina não deu pra mim! E eu também estudei numa turma especial suuuuper esculhambada. A gente tinha aula de 13:30 às 20:40 e dois intervalos às 15:10 e às 18:50. No segundo intervalo, a gente saía pra beber e não voltava mais! Foi por isso que não passei na UFC de primeira! Mas isso me proporcionou um semestre de Unifor e o Serviço Social na UECE.
6 - A faculdade foi o que todo mundo sempre me disse que seria. Inesquecível. Grandes Amigos. Estudar numa faculdade pública e centenária foi extremamente enriquecedor pra mim. Entrar em contato com gente de todo jeito, tão diferente e tão igual. E aquele email que circula na net dizendo que você aprende a dormir em sala, a fumar, a beber, a gazear aula etc etc etc é tudo verdade. Saudade do tempo em que eu era o futuro do Brasil! Eu engravidei, sem querer (dolo eventual), no último semestre da faculdade (isso todo mundo sabe) e não puder tomar o porre que eu queria na minha festa de formatura. Porém, eu não deixei de entrar aos pulos, mesmo com uma barriga de quase 7 meses!!! Minha formatura foi linda e inesquecível.
7 - Eu casei com meu 5º namorado, o 2º sério. Mas fui a única namorada da vida dele. Eu sou amiga de todos os meus ex. De alguns, muito amiga mesmo. Depois de um tempo, as raivas e rancores acumulados no relacionamento não fazem sentido nenhum e, se eu namorei, era porque a pessoa era bacana. Viro amiga mesmo!
8 - Eu ganhei um prêmio nacional ano passado num concurso de trabalhos técnicos sobre Previdência Complementar. Tem um post falando sobre isso aqui (como eu tô postando por email, não dá pra fazer o link).
9 - Eu não planejo mais meu futuro. Eu só sei do que vou fazer até no máximo dois meses pra frente. Se você me perguntar onde vou passar o reveillon, eu vou responder: Não sei! Se você me perguntar onde vou passar o carnaval, eu vou responder: eu não sei! Se você me perguntar qualquer coisa que envolva decurso de tempo maior que dois meses, eu não saberei. Nem quero saber! Eu sei que vou estar com meus pequenos e isso me basta! Ah, sei também que vou estar feliz!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Sorrindo com Matheus XII
A gente na porta de casa, prestes a sair para a escola, ele e o Thomás apertando todos os botões possíveis: o do elevador, o interruptor da lâmpada do hall e a campainha que não está funcionando. Matheus vira e pergunta:
- Mamãe por que a campeã não faz blemblom?
_____________________________________________
A gente foi à praia no domingo. Lotada, né? Aí, vaga para parar o carro que é bom, só a uns 300m de distância da barraca que eu queria ficar. E vocês nem imaginam o que é parar a 300m tendo que sair carregando o pequeno no braço, sacolas, toalhas e brinquedos. Eu reclamo:
- Ai, como tá ruim de estacionar!
Ao que o Matheus responde:
- É difícil, né, mamãe, encontrar uma bagagem? (Ele queria dizer garagem)
_____________________________________________
UPDATE:
Voltando da escola agora há pouco.
- Mamãe, minha amiga G. fez muitas coisas erradas hoje.
- O que foi que ela fez, meu amor?
- Ela me arranhou, gritou com o D. e bateu no H.
- Foi mesmo? A professora brigou com ela?
- Brigou, mamãe!
- Ela é muito malvada, né?
- Não, mamãe. Ela não é malvada, ela é malcriada!
- Quem foi que te disse que ela era malcriada?
- Eu que sei! Ela faz essas coisas e, por isso, ela é malcriada.
(AMO!)
- Mamãe por que a campeã não faz blemblom?
_____________________________________________
A gente foi à praia no domingo. Lotada, né? Aí, vaga para parar o carro que é bom, só a uns 300m de distância da barraca que eu queria ficar. E vocês nem imaginam o que é parar a 300m tendo que sair carregando o pequeno no braço, sacolas, toalhas e brinquedos. Eu reclamo:
- Ai, como tá ruim de estacionar!
Ao que o Matheus responde:
- É difícil, né, mamãe, encontrar uma bagagem? (Ele queria dizer garagem)
_____________________________________________
UPDATE:
Voltando da escola agora há pouco.
- Mamãe, minha amiga G. fez muitas coisas erradas hoje.
- O que foi que ela fez, meu amor?
- Ela me arranhou, gritou com o D. e bateu no H.
- Foi mesmo? A professora brigou com ela?
- Brigou, mamãe!
- Ela é muito malvada, né?
- Não, mamãe. Ela não é malvada, ela é malcriada!
- Quem foi que te disse que ela era malcriada?
- Eu que sei! Ela faz essas coisas e, por isso, ela é malcriada.
(AMO!)
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Desmontando
Desmonte
Penduro sorriso postiço no rosto,
bochechas vermelhas, dedos que se escondem entre as pernas.
Ainda ontem tentei me amar.
Tirei o rímel, o salto, a saia,
sentei no chão, me olhei de perto.
Não sou bonita, não sou mulher, não estou segura.
Pensei que tinha asas.
Não posso comigo.
Deito, me encerro nesse quarto,
nessa cama, nesses lençóis, nessa saudade.
Me socorre, moço,
que esse meu modo é perverso demais pra um só corpo.
bochechas vermelhas, dedos que se escondem entre as pernas.
Ainda ontem tentei me amar.
Tirei o rímel, o salto, a saia,
sentei no chão, me olhei de perto.
Não sou bonita, não sou mulher, não estou segura.
Pensei que tinha asas.
Não posso comigo.
Deito, me encerro nesse quarto,
nessa cama, nesses lençóis, nessa saudade.
Me socorre, moço,
que esse meu modo é perverso demais pra um só corpo.
É que, às vezes, a vida pesa e o sorriso que está estampado é só um arremate de conveniência, de adequação social. Às vezes, o corpo enverga, e o que se quer mostrar ao grande público é o poder da plasticidade, da maquiagem, do parecer ser. Às vezes, os ombros caem, e a gente procura dentro de si a auto-estima, a alegria, as razões para seguir. Em vão. Nessas horas, a gente se despe das máscaras e das fantasias e se enterra no buraco quente onde soluços e lágrimas nos são permitidos. Não sou o que aparento ser, não sou uma mulher que foi à guerra, não sou a fortaleza que me atribuem. Eu pensei que podia voar sobre o deserto que me sobrou, mas não posso. Afundo no poço de sal que se esvai de mim e re-vivo, re-sinto, re-vejo, re-quero, e não resolvo. Saudade, saudade e dor demais num só corpo.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Sobre a galinha dos ovos de ouro
Eu não sei porque eu perco meu tempo com isso. Juro que não sei! A verdade é que existe alguém no mundo que me detesta e que tá por aí soltando farpas contra mim. Hoje a criatura teve a audácia de me chamar (mais uma vez) de esnobe e de mandar, em caixa alta, que eu me colocasse no meu lugar porque a minha galinha dos ovos de ouro já se foi. Então, eu fiz uma retrospectiva da minha vida e da minha história e venho em público, pelo meio em que ela costuma me atacar, concordar com ela, a criatura anônima que me persegue (se é que é só uma).
Porque, né, gente? Eu passei a minha vida inteira sem fazer nada, vivendo às custas dos meus pais e nunca liguei muito para os estudos. Eu não tinha uma mesada gordissima nem motorista à disposição. Mesmo assim, minhas únicas preocupações eram maquiagens, roupas e calçados desde a mais tenra idade. Durante meu período escolar, eu fui uma aluna medíocre, dessas que passam depois da re-recuperação. Eu nunca me engagei em movimentos sociais, eu nunca quis ser comunista e revolucionária e meu ideal político era baseado na aparência física dos candidatos.
Eu também fiz uma faculdadezinha qualquer, só para garantir um diploma e cela especial no caso de. Nunca sequer perdi meu tempo lendo nada, nem escrevendo nada, nem estudando nada. Comprei minha monografia só para garantir a conclusão do curso. Corrijo, o Thiago comprou pra mim. Não quis trabalhar nem durante nem após a faculdade. A maior sorte na minha vida foi ter conhecido o Thiago que me tirou lá do Jangurussu, me deu um banho de loja, casa, comida, roupa lavada, filhos e empregada.
Porque, como todo mundo sabe, Thiago era filho da fina flor da sociedade cearense e o patrimônio familiar fez com que eu intentasse uma gravidez (golpe do baú) não planejada. A verdade é que minha vida inteira foi permeada unicamente por este anseio de ser esposa de alguém que pudesse me proporcionar luxo e riqueza. Vocês sabem, né? Na minha vida de casada, não me faltava glamour!
Aí, a galinha dos ovos de ouro se foi e eu fiquei com uma polpuda pensão do INSS que me garante viagens à Europa e roupas Dior e calçados Loubotin, como a todas pensionistas de referida autarquia. Continuo aqui arrotando riqueza porque eu sou por demais esnobe mesmo. Não quis revelar onde vou morar com os pequenos não por uma questão de segurança (todo mundo sabe que não se deve disponibilizar endereços e telefones na internet), mas não foi isso que me impediu de falar. Eu não contei porque eu tenho vergonha de sair desse lugar, chiquérrimo, requintadérrimo, sofisticadérrimo em que moro para um bairro de pobre.
Eu nunca me referi a esse apê como um recomeço, como uma conquista, como a virada de página, como uma vitória. Lá será minha ruína, minha decadência social, meu desgosto, meu embaraço... Eu vou para lá porque é o jeito. Eu vou para lá por falta de opção. Minha galinha dos ovos de ouros se foi e só me restou isso. Não sei porque eu ainda ando de cabeça erguida, de salto alto, de cabelo escovado se já não tenho mais a minha mina de ouro por perto. É realmente um absurdo eu querer tocar a vida, né? Concordo com você, criatura anônima, eu deveria passar o resto dos meus dias com sandálias da humildade e de preto eterno, debulhando lágrimas em memória ao grandioso homem-galinha com ovos de ouro que tive.
Nunca mais na história desse país, eu poderei me reerguer dessa perda patrimonial. Porque o que mais me doeu não foi a interrupção abrupta de uma história de amor, nem a dor dos meus pequenos com a ausência do pai deles, não doeu também o fato de eu não ter mais meu amigo e meu companheiro, o que mais me machucou foi não ter mais toda a riqueza, o luxo e o glamour que ele, somente ele, poderia me proporcionar!
Obrigada, criatura anônima, pelo valoroso "se toque" e, retribuindo seu gesto grandioso: VTNC!
PS: A partir de agora, ainda é possível comentar anonimamente, mas os comentários serão moderados antes de publicados. Obrigada pela compreensão!
Porque, né, gente? Eu passei a minha vida inteira sem fazer nada, vivendo às custas dos meus pais e nunca liguei muito para os estudos. Eu não tinha uma mesada gordissima nem motorista à disposição. Mesmo assim, minhas únicas preocupações eram maquiagens, roupas e calçados desde a mais tenra idade. Durante meu período escolar, eu fui uma aluna medíocre, dessas que passam depois da re-recuperação. Eu nunca me engagei em movimentos sociais, eu nunca quis ser comunista e revolucionária e meu ideal político era baseado na aparência física dos candidatos.
Eu também fiz uma faculdadezinha qualquer, só para garantir um diploma e cela especial no caso de. Nunca sequer perdi meu tempo lendo nada, nem escrevendo nada, nem estudando nada. Comprei minha monografia só para garantir a conclusão do curso. Corrijo, o Thiago comprou pra mim. Não quis trabalhar nem durante nem após a faculdade. A maior sorte na minha vida foi ter conhecido o Thiago que me tirou lá do Jangurussu, me deu um banho de loja, casa, comida, roupa lavada, filhos e empregada.
Porque, como todo mundo sabe, Thiago era filho da fina flor da sociedade cearense e o patrimônio familiar fez com que eu intentasse uma gravidez (golpe do baú) não planejada. A verdade é que minha vida inteira foi permeada unicamente por este anseio de ser esposa de alguém que pudesse me proporcionar luxo e riqueza. Vocês sabem, né? Na minha vida de casada, não me faltava glamour!
Aí, a galinha dos ovos de ouro se foi e eu fiquei com uma polpuda pensão do INSS que me garante viagens à Europa e roupas Dior e calçados Loubotin, como a todas pensionistas de referida autarquia. Continuo aqui arrotando riqueza porque eu sou por demais esnobe mesmo. Não quis revelar onde vou morar com os pequenos não por uma questão de segurança (todo mundo sabe que não se deve disponibilizar endereços e telefones na internet), mas não foi isso que me impediu de falar. Eu não contei porque eu tenho vergonha de sair desse lugar, chiquérrimo, requintadérrimo, sofisticadérrimo em que moro para um bairro de pobre.
Eu nunca me referi a esse apê como um recomeço, como uma conquista, como a virada de página, como uma vitória. Lá será minha ruína, minha decadência social, meu desgosto, meu embaraço... Eu vou para lá porque é o jeito. Eu vou para lá por falta de opção. Minha galinha dos ovos de ouros se foi e só me restou isso. Não sei porque eu ainda ando de cabeça erguida, de salto alto, de cabelo escovado se já não tenho mais a minha mina de ouro por perto. É realmente um absurdo eu querer tocar a vida, né? Concordo com você, criatura anônima, eu deveria passar o resto dos meus dias com sandálias da humildade e de preto eterno, debulhando lágrimas em memória ao grandioso homem-galinha com ovos de ouro que tive.
Nunca mais na história desse país, eu poderei me reerguer dessa perda patrimonial. Porque o que mais me doeu não foi a interrupção abrupta de uma história de amor, nem a dor dos meus pequenos com a ausência do pai deles, não doeu também o fato de eu não ter mais meu amigo e meu companheiro, o que mais me machucou foi não ter mais toda a riqueza, o luxo e o glamour que ele, somente ele, poderia me proporcionar!
Obrigada, criatura anônima, pelo valoroso "se toque" e, retribuindo seu gesto grandioso: VTNC!
PS: A partir de agora, ainda é possível comentar anonimamente, mas os comentários serão moderados antes de publicados. Obrigada pela compreensão!
Quereres
Eu não gosto do morno, do mais ou menos, do em cima do muro, do politicamente correto, do aceitável, do palatável... Eu não faço questão do homem médio, do senso comum, do ordinário, do que é esperado, do socialmente correto... Eu anseio por extremos, tudo ou nada, adrenalina, agora ou nunca, tumtumtum descompassado, certezas absolutas, verdades irretorquíveis, provas inequívocas... Eu gosto do que é intenso e estampado no rosto. Eu quero o que não dá pra disfarçar. Eu quero arrebatador. Eu quero precipício, frio na barriga, revoada de borboletas, mãos frias... Eu quero planos pra vida inteira. Eu quero olhos que se comunicam sem palavras. Eu quero mãos que se conhecem e "antessentem" o toque. Eu quero bocas que se sabem. Eu quero pernas que repousam sobre pernas. Eu quero corpos mapeados. Eu quero detalhes que valem mais que mil palavras e gestos. Eu quero o que me foi tomado. Eu quero ser feliz.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
100 SEGUIDORES!
Ok, agora é fato! Eu tenho ceeeeeem seguidores! Fazendo dancinha aqui com as mãos e dando pulinhos!
Valeu, pessoal! Obrigada pelo carinho de sempre.
PS: O autor do livro "Extremamente alto e incrivelmente perto" é Jonathan Safran Foer
"Extremamente alto e incrivelmente perto"
"O fato de ser um ateu não quer dizer que você não adoraria que as coisas tivessem um motivo para serem como são" (p.24)
"Cada momento de cada dia me quebra o coração em mais pedaços do que meu coração é feito, é claro, nunca pensei em mim como uma pessoa quieta, que dirá calada, nunca pensei nas coisas, tudo mudou, o vão que se encravou entre mim e minha felicidade não foi o mundo, não foram as bombas e prédios em chamas, fui eu, meu pensamento, o câncer de jamais superar, se a ignorância é uma benção, eu não sei, mas é tão doloroso pensar, e me diga, de que me serviu o pensamento, a que grande lugar o pensamento me levou? Penso e penso e penso, pensar já me levou para longe da felicidade muitas vezes, mas nunca ao encontro dela" (p. 28)
"É uma pena que seja necessário viver, mas é uma tragédia que possamos viver apenas uma vida, porque se eu tivesse duas vidas teria passado uma ao lado dela" (p. 149)
"Naquela noite, me senti incrivelmente perto de tudo no universo, mas ao mesmo tempo extremamente sozinho. Pela primeira vez na vida, me perguntei se a vida valia todo o esforço necessário para se viver. O que, exatamente, fazia a vida valer a pena? O que há de tão horrível em permanecer morto para sempre, não sentindo nada e nem mesmo sonhando? O que há de tão especial em sentir e sonhar?" (p. 161)
"É que ao final da minha busca eu queria ser capaz de dizer: não sei o que mais eu poderia ter feito" (p.178)
"Passei a vida aprendendo a sentir menos. Cada dia eu sentia menos. Isso é envelhecer? Ou é algo pior? Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade" (p. 199)
"É lamentável que se precise de uma vida inteira para aprender a viver" (p. 203)
"'Vou enterrar meus sentimentos bem lá no fundo' 'Como assim enterrar seus sentimentos?' 'Não importa o quanto eu sentir, não vou deixar sair para fora. Se eu tiver que chorar, vou chorar por dentro. Se tiver que sangrar, vou fazer marcas roxas. Se meu coração começar a enlouquecer, não vou sair falando isso para o mundo inteiro. Não ajuda em nada. Só piora a vida de todo mundo'" (p. 223)
--------------------------------------------------------------
Eu li em algum lugar sobre esse livro. O comentário dizia que era de uma sensibilidade incrível. A sinopse diz que é a história de um menino de 7 anos que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro. Ok, só por isso já valia a pena ler. Mas o livro é lindo! São os olhos de uma criança que vive o luto ainda, um ano depois da morte do pai, e é extremamante delicado e perspicaz. É uma criança sofrendo por algo que não consegue explicar nem entender. É uma criança passando por esse tormento e eu não pude deixar de associar aos meus pequenos e, em muitos momentos, não pude evitar as lágrimas fluírem...
Porque sim, vocês sabem, eu também não acredito em Deus. Não dessa maneira que está aí posta. Não do jeito que me ofereceram. Mas eu também queria muito saber que há uma razão para isso, uma explicação convincente e irretorquível. Sim, também tem dias que meu coração se esfarela. Não é mais todo dia, não é mais todo tempo. Mas ele se esfarela vezenquando e eu me pergunto se ainda vou sentir aquela felicidade plena, de peito aberto, no lá dentro do de dentro de mim. E pensar nisso dói. Como doem tantas coisas outras pelo simples fato da tragédia ter acontecido.
A criança no livro não quer ser feliz sem o pai, mas eu quero ser feliz. E eu acho que o incrível e o que faz valer a pena o esforço de viver é justamente a possibilidade de sentir e de sonhar. A tragédia mesmo não é a morte em si, não é perder alguém; a tragédia mesmo é que muita gente só descobre o que importa depois de uma vida inteira vazia, marcada pela busca incansável por bens, dinheiro, status, poder, aparências e se privando de sentir, de se apegar, de se envolver para não sofrer... Eu não quero sentir menos. Pelo contrário. Eu não quero me proteger nem da tristeza nem da felicidade. Eu quero tudo! Eu sempre quis!
E se em algum momento, em algum dos loopings, tudo ficar de pernas para o ar, eu vou chorar pra fora e para dentro; eu vou sangrar e fazer marcas roxas; eu vou deixar o coração enlouquecer e falar disso aqui nesse blog (só lê quem quer); e depois, eu vou tentar de novo, sem me proteger de novo, sentindo e sonhando como sempre. É que ao final da minha busca eu queria ser capaz de dizer: não sei o que mais eu poderia ter feito.
"Cada momento de cada dia me quebra o coração em mais pedaços do que meu coração é feito, é claro, nunca pensei em mim como uma pessoa quieta, que dirá calada, nunca pensei nas coisas, tudo mudou, o vão que se encravou entre mim e minha felicidade não foi o mundo, não foram as bombas e prédios em chamas, fui eu, meu pensamento, o câncer de jamais superar, se a ignorância é uma benção, eu não sei, mas é tão doloroso pensar, e me diga, de que me serviu o pensamento, a que grande lugar o pensamento me levou? Penso e penso e penso, pensar já me levou para longe da felicidade muitas vezes, mas nunca ao encontro dela" (p. 28)
"É uma pena que seja necessário viver, mas é uma tragédia que possamos viver apenas uma vida, porque se eu tivesse duas vidas teria passado uma ao lado dela" (p. 149)
"Naquela noite, me senti incrivelmente perto de tudo no universo, mas ao mesmo tempo extremamente sozinho. Pela primeira vez na vida, me perguntei se a vida valia todo o esforço necessário para se viver. O que, exatamente, fazia a vida valer a pena? O que há de tão horrível em permanecer morto para sempre, não sentindo nada e nem mesmo sonhando? O que há de tão especial em sentir e sonhar?" (p. 161)
"É que ao final da minha busca eu queria ser capaz de dizer: não sei o que mais eu poderia ter feito" (p.178)
"Passei a vida aprendendo a sentir menos. Cada dia eu sentia menos. Isso é envelhecer? Ou é algo pior? Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade" (p. 199)
"É lamentável que se precise de uma vida inteira para aprender a viver" (p. 203)
"'Vou enterrar meus sentimentos bem lá no fundo' 'Como assim enterrar seus sentimentos?' 'Não importa o quanto eu sentir, não vou deixar sair para fora. Se eu tiver que chorar, vou chorar por dentro. Se tiver que sangrar, vou fazer marcas roxas. Se meu coração começar a enlouquecer, não vou sair falando isso para o mundo inteiro. Não ajuda em nada. Só piora a vida de todo mundo'" (p. 223)
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Eu li em algum lugar sobre esse livro. O comentário dizia que era de uma sensibilidade incrível. A sinopse diz que é a história de um menino de 7 anos que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro. Ok, só por isso já valia a pena ler. Mas o livro é lindo! São os olhos de uma criança que vive o luto ainda, um ano depois da morte do pai, e é extremamante delicado e perspicaz. É uma criança sofrendo por algo que não consegue explicar nem entender. É uma criança passando por esse tormento e eu não pude deixar de associar aos meus pequenos e, em muitos momentos, não pude evitar as lágrimas fluírem...
Porque sim, vocês sabem, eu também não acredito em Deus. Não dessa maneira que está aí posta. Não do jeito que me ofereceram. Mas eu também queria muito saber que há uma razão para isso, uma explicação convincente e irretorquível. Sim, também tem dias que meu coração se esfarela. Não é mais todo dia, não é mais todo tempo. Mas ele se esfarela vezenquando e eu me pergunto se ainda vou sentir aquela felicidade plena, de peito aberto, no lá dentro do de dentro de mim. E pensar nisso dói. Como doem tantas coisas outras pelo simples fato da tragédia ter acontecido.
A criança no livro não quer ser feliz sem o pai, mas eu quero ser feliz. E eu acho que o incrível e o que faz valer a pena o esforço de viver é justamente a possibilidade de sentir e de sonhar. A tragédia mesmo não é a morte em si, não é perder alguém; a tragédia mesmo é que muita gente só descobre o que importa depois de uma vida inteira vazia, marcada pela busca incansável por bens, dinheiro, status, poder, aparências e se privando de sentir, de se apegar, de se envolver para não sofrer... Eu não quero sentir menos. Pelo contrário. Eu não quero me proteger nem da tristeza nem da felicidade. Eu quero tudo! Eu sempre quis!
E se em algum momento, em algum dos loopings, tudo ficar de pernas para o ar, eu vou chorar pra fora e para dentro; eu vou sangrar e fazer marcas roxas; eu vou deixar o coração enlouquecer e falar disso aqui nesse blog (só lê quem quer); e depois, eu vou tentar de novo, sem me proteger de novo, sentindo e sonhando como sempre. É que ao final da minha busca eu queria ser capaz de dizer: não sei o que mais eu poderia ter feito.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Se tudo o que punge, tudo o que devora o coração no rosto se estampasse…
A gente tem essa mania de pensar que conhece as pessoas. A gente faz questão de rotular, (pre)conceituar, separar de acordo com aquilo que encontramos aí no mundo. A gente cria toda uma personalidade com base em pequenas pistas que nos são dadas. Estas pistas são as roupas, o cabelo, a maquiagem, os gestos e as opiniões alheias a respeito de alguém. Porque sempre tem alguém com alguma opinião formada sobre outrem. Eu também sou assim, tenho opinião sobre quase tudo, sobre as pessoas também. Agora eu sei que no resto do mundo não é assim. É cultural, é nosso. Aqui, a gente entende uma pessoa por aquilo que salta aos olhos.
A gente se perde quando percebe que a pessoa não é nada daquilo que a gente projetou. "Ele é juiz, usa terno, parece um homem sério"; mas na verdade é uma criança de paletó, não sabe assumir compromisso algum, não sabe se portar em público, não consegue conversar. "Ela é uma perua fútil"; não sabemos que esconde um amor enorme dentro de si. Nem vocês que me leem me conhecem. E eu me mostro todos os dias aqui. Sou julgada porque escrevo, porque me exponho, porque quero ser feliz seis meses depois que meu marido morreu, porque quero sair de casa, porque quero beber, porque quero encontrar um novo amor. "Novo amor?!?!? Num era nem pra você estar pensando nisso! Você deveria priorizar os seus filhos!".
Eu escuto, eu me deparo com, eu sofro e faço julgamentos todos os dias. Mas a gente num sabe o que cada um traz dentro de si. Ninguém nunca sabe o fardo pesado que cada pessoa carrega. A dor que me parece desimportante pode ser insuportável para alguém. Pra mim, pode parecer um chilique alguém chorar porque o cachorro morreu, mas eu nem sei o que aquele animalzinho significava na vida do outro. Eu não sei, nunca tive um. Para os anônimos descarados que me leem e me criticam pode parecer um acinte eu querer ser feliz, mas eles não sabem a barra que eu aguentei.
Tudo que transparece é apenas a superfície da imensidão profunda de sentimentos que cada ser carrega em si. Tudo que é visível, é temporário, é efêmero, é fruto do esforço para parecer. É na dor e na solidão que os verdadeiros eus emergem. Sob as circunstâncias mais adversas a que somos obrigados ou levados, sobra apenas o que há de verdadeiro – e o que ninguém vê - dentro de si e também nas relações.
Olhos vermelhos, manchas pretas ao redor dos olhos, cabeça baixa e ombros encolhidos são só a postura de quem carrega uma dor insuportável. Mas manter o olhar firme e limpo, a maquiagem em dia, a cabeça em pé também não quer dizer o contrário. Eu já disse que aguentei o tranco em pé e de salto e me doeram por demais a cabeça, os ombros, o coração e os pés. Depois disso, um olhar mais ameno sobre os outros me foi dado. Porque a dor de cada um é invisível e, na maioria dos casos, silenciosa.
A gente se perde quando percebe que a pessoa não é nada daquilo que a gente projetou. "Ele é juiz, usa terno, parece um homem sério"; mas na verdade é uma criança de paletó, não sabe assumir compromisso algum, não sabe se portar em público, não consegue conversar. "Ela é uma perua fútil"; não sabemos que esconde um amor enorme dentro de si. Nem vocês que me leem me conhecem. E eu me mostro todos os dias aqui. Sou julgada porque escrevo, porque me exponho, porque quero ser feliz seis meses depois que meu marido morreu, porque quero sair de casa, porque quero beber, porque quero encontrar um novo amor. "Novo amor?!?!? Num era nem pra você estar pensando nisso! Você deveria priorizar os seus filhos!".
Eu escuto, eu me deparo com, eu sofro e faço julgamentos todos os dias. Mas a gente num sabe o que cada um traz dentro de si. Ninguém nunca sabe o fardo pesado que cada pessoa carrega. A dor que me parece desimportante pode ser insuportável para alguém. Pra mim, pode parecer um chilique alguém chorar porque o cachorro morreu, mas eu nem sei o que aquele animalzinho significava na vida do outro. Eu não sei, nunca tive um. Para os anônimos descarados que me leem e me criticam pode parecer um acinte eu querer ser feliz, mas eles não sabem a barra que eu aguentei.
Tudo que transparece é apenas a superfície da imensidão profunda de sentimentos que cada ser carrega em si. Tudo que é visível, é temporário, é efêmero, é fruto do esforço para parecer. É na dor e na solidão que os verdadeiros eus emergem. Sob as circunstâncias mais adversas a que somos obrigados ou levados, sobra apenas o que há de verdadeiro – e o que ninguém vê - dentro de si e também nas relações.
Olhos vermelhos, manchas pretas ao redor dos olhos, cabeça baixa e ombros encolhidos são só a postura de quem carrega uma dor insuportável. Mas manter o olhar firme e limpo, a maquiagem em dia, a cabeça em pé também não quer dizer o contrário. Eu já disse que aguentei o tranco em pé e de salto e me doeram por demais a cabeça, os ombros, o coração e os pés. Depois disso, um olhar mais ameno sobre os outros me foi dado. Porque a dor de cada um é invisível e, na maioria dos casos, silenciosa.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Decidido
Todo mundo tem dúvidas. A gente sempre hesita antes de decidir. Porque escolher uma coisa significa abrir mão de outra, ou pior: de outras. Escolher siginifica pegar uma das opções e deixar todas as outras escaparem. Escolher quer dizer que você achou que aquilo ali era o melhor que tinha à disposição. Nem sempre a melhor opção, mas a mais viável, a mais fácil. Vai saber os quesitos que levam à tomada de uma decisão. É pessoal. Cada um, cada um. Escolher nunca é fácil. Escolher é um processo doloroso. Escolher faz queimar o tutano. Escolher causa sofrimento, frio na barriga, um destempero, algumas lágrimas...
Mas aí a gente decide ou alguém decide pela gente - quando não conseguimos tomar uma decisão; ou a vida cumpre seu papel dando rumo às pendências. Enfim a decisão se concretiza, e passa o tempo, e a gente percebe que não poderia mesmo ter sido diferente. Por mais dor que tenha causado, por mais sofrimento e frio na barriga e noite acordado e lágrimas derramadas e tudo mais.
Mas a delícia no processo de decisão é quando você decide por sua conta e risco, entre todas as opções viáveis, você esolhe uma. Você - adulto, responsável, razoável, ajuizado - escolhe algo, decide por aquilo, opta. Depois de passado um tempo, percebe que fez a escolha certa, que foi maduro por decidir aquilo, que foi prudente em tomar as rédeas da história antes que fosse tarde demais. Você se sente orgulhoso por não ter deixado a vida ou outrem fazer isso por você. Se sente seguro para o futuro, para encarar as muitas outras decisões que virão. A delícia estar em se descobrir capaz. Decidir, decidido!
Mas aí a gente decide ou alguém decide pela gente - quando não conseguimos tomar uma decisão; ou a vida cumpre seu papel dando rumo às pendências. Enfim a decisão se concretiza, e passa o tempo, e a gente percebe que não poderia mesmo ter sido diferente. Por mais dor que tenha causado, por mais sofrimento e frio na barriga e noite acordado e lágrimas derramadas e tudo mais.
Mas a delícia no processo de decisão é quando você decide por sua conta e risco, entre todas as opções viáveis, você esolhe uma. Você - adulto, responsável, razoável, ajuizado - escolhe algo, decide por aquilo, opta. Depois de passado um tempo, percebe que fez a escolha certa, que foi maduro por decidir aquilo, que foi prudente em tomar as rédeas da história antes que fosse tarde demais. Você se sente orgulhoso por não ter deixado a vida ou outrem fazer isso por você. Se sente seguro para o futuro, para encarar as muitas outras decisões que virão. A delícia estar em se descobrir capaz. Decidir, decidido!
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Deveria ser
"Se a morte tem um oponente, não é a vida, é o amor. É a única coisa que pode fazer alguma diferença diante da magnitude da morte, da onipresença da morte, da longevidade da morte: sim, porque a morte, a partir do momento que ocorre, passa a ter um período de duração infinito, e antes de virmos ao mundo ela também já existia nessa mesma infinitude de trás pra frente. Onde estávamos antes de nascer? De certa forma, mortos também. Nossa vida é apenas uma brecha de tempo entre duas ausências acachapantes. E para justificar esse breve intervalo de vida e enfrentar a soberania da morte, só mesmo amando." ("O contrário da morte" - Martha Medeiros In: Doidas e Santas)
E eu concordo. É isso mesmo. É só por amor que vale à pena. É só o amor que justifica estar em pé, respirar, levantar da cama todo dia... Não falo só de amor sexual, mas eu falo de amor, em sentido amplo. O que me fez sobreviver foi um amor latejante. O que move as pessoas no mundo são amores, ou sua versão exagerada: a paixão. Mas estamos todos aqui nessa brecha de tempo para isso. E se não for para se jogar em tudo, pra quê então?
É disso que eu falo o tempo todo e ninguém entende. A gente tá aqui pra amar e ser feliz. Só isso. Simples assim. Não precisa de um motivo transcendental. Não precisa de uma vida após a morte para que esse gerúndio seja valioso. E se conseguirmos viver uma vida inteira de amor, será uma vida intensa, será uma vida primorosa, será uma vida inesquecível, seremos pessoas adoráveis, memoráveis, invejáveis... Seremos felizes, enfim! É esse o tal dO SEGREDO?!?! Acho que sim.
Porque o resto é perecível, é descartável, é renovável, é mutável; mas o amor torna qualquer coisa banal em extraordinária. Deveria ser só esse nosso objetivo. Deveria ser só isso nosso pedido para o gênio da lâmpada. Deveria ser só esse nosso anseio. Deveria ser...
E eu concordo. É isso mesmo. É só por amor que vale à pena. É só o amor que justifica estar em pé, respirar, levantar da cama todo dia... Não falo só de amor sexual, mas eu falo de amor, em sentido amplo. O que me fez sobreviver foi um amor latejante. O que move as pessoas no mundo são amores, ou sua versão exagerada: a paixão. Mas estamos todos aqui nessa brecha de tempo para isso. E se não for para se jogar em tudo, pra quê então?
É disso que eu falo o tempo todo e ninguém entende. A gente tá aqui pra amar e ser feliz. Só isso. Simples assim. Não precisa de um motivo transcendental. Não precisa de uma vida após a morte para que esse gerúndio seja valioso. E se conseguirmos viver uma vida inteira de amor, será uma vida intensa, será uma vida primorosa, será uma vida inesquecível, seremos pessoas adoráveis, memoráveis, invejáveis... Seremos felizes, enfim! É esse o tal dO SEGREDO?!?! Acho que sim.
Porque o resto é perecível, é descartável, é renovável, é mutável; mas o amor torna qualquer coisa banal em extraordinária. Deveria ser só esse nosso objetivo. Deveria ser só isso nosso pedido para o gênio da lâmpada. Deveria ser só esse nosso anseio. Deveria ser...
domingo, 15 de agosto de 2010
Tudo muda o tempo todo no mundo II
">"Tudo muda o tempo todo no mundo..."
Eu era filha, eu era mãe, e hoje sou pai e mãe.
Eu era namodeira, era esposa, hoje eu sou viúva.
Eu era independente, eu tinha quem dependesse de mim, e hoje quem dependa exclusivamente de mim.
Eu assumia riscos, eu assumia as consequencias e continuo com o fardo de ambos nas costas.
Eu era comunista, eu era consumista, hoje sou economista.
Eu era ingênua, eu babava com a ingenuidade, hoje eu ensino perspicácia.
Eu corria riscos, eu protegia os pequenos dos riscos, agora eu me arrisco.
Eu me preocupava com provas finais, em ter dinheiro no final do mês, e agora eu preciso de muito mais que dinheiro, eu preciso de tempo.
Eu virava noites em baladas, depois embalando, e hoje viro as noites organizando a vida.
Eu bebia para sorrir, eu sorria para bebês, e agora eu bebo pra esquecer meus "pobremas" e sentir diminuir o peso nas costas.
Eu andava de bicicleta e sigo guiando quatro rodas.
Eu nadava na piscina do prédio, eu levava às aulas de natação, e hoje eu vou ensinar a nadar na piscina do prédio.
Eu corria na praia, eu construía castelos de areia e hoje eu tenho que fazer diamante com a areia que sobrou nas mãos.
Eu não canso de repetir: a vida mudou e eu não sei mais onde é meu lugar, mas eu vou seguindo em frente até encontrar.
sábado, 15 de agosto de 2009
"Tudo muda o tempo todo no mundo..."
Eu era filha, hoje sou mãe.
Eu era namoradeira, hoje sou esposa.
Eu era independente, hoje tem quem dependa de mim.
Eu era inconsequente, hoje assumo todas as consequencias.
Eu era comunista, hoje sou consumista.
Eu era ingênua, hoje babo com a ingenuidade.
Eu assumia riscos, hoje eu protejo os pequenos deles.
Eu me preocupava com provas finais, hoje, em ter dinheiro no fim do mês.
Eu virava noites em baladas, hoje viro noites embalando.
Eu bebia para sorrir, hoje eu sorrio para bebês.
Eu andava de bicicleta, hoje eu vou guiando quatro rodas.
Eu nadava na piscina do prédio, hoje eu levo às aulas de natação.
Eu corria na praia, hoje eu construo castelos na areia.
Eu não canso de repetir: a vida mudou e eu encontrei o meu lugar.
Eu era namoradeira, hoje sou esposa.
Eu era independente, hoje tem quem dependa de mim.
Eu era inconsequente, hoje assumo todas as consequencias.
Eu era comunista, hoje sou consumista.
Eu era ingênua, hoje babo com a ingenuidade.
Eu assumia riscos, hoje eu protejo os pequenos deles.
Eu me preocupava com provas finais, hoje, em ter dinheiro no fim do mês.
Eu virava noites em baladas, hoje viro noites embalando.
Eu bebia para sorrir, hoje eu sorrio para bebês.
Eu andava de bicicleta, hoje eu vou guiando quatro rodas.
Eu nadava na piscina do prédio, hoje eu levo às aulas de natação.
Eu corria na praia, hoje eu construo castelos na areia.
Eu não canso de repetir: a vida mudou e eu encontrei o meu lugar.
Domingo, 15 de Agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
Mea culpa
Eu disse na última carta pra ele que tinha conseguido sozinha. Mas é mentira. Eu admito. Não fiz absolutamente nada sozinha. Eu não teria conseguido sem tanta ajuda de tanta gente. Eu não estaria de pé, respirando e sorrindo sem essa multidão de amigos feitos e herdados que hoje me cerca. Eu jamais conseguiria estar aqui sem as nossas famílias e sem a minha "marida". Eu não teria feito sem as visitas, as ligações, as pessoas que me tiraram de casa à força, sem as minhas meninas de sempre, sem tudo isso que vocês leitores me proporcionaram. Eu só estou aqui por causa de muita gente como a gente, que é capaz de rir, de chorar, de se emocionar e de ajudar. Eu só cheguei e chegarei onde quer que seja porque eu tenho pessoas comigo e porque eu tenho vocês!
PS: Vocês viram? Quase cem seguidores!!!
PS: Vocês viram? Quase cem seguidores!!!
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
"For all those times you stood by me"
Ano passado eu disse que nascer numa sexta-feira 13, de agosto, e achar que tem sorte, era coisa de doido. Mas eu sei que ela é muito mais que isso. Ela faz piada de tudo e de todo mundo e de si mesma e ri. Tem as melhores tiradas e frases de efeito da nossa patota. Todo mundo se acaba de rir das impressões que ela tem do próprio casamento e da própria vida. Ela vive perdida em sentimentos e anseios, mas é sempre uma excelente companhia. Ela tem um quê de depressão dentro de si, que faz com que ela goste das mesmas coisas tristes de que gosto, e talvez tenha sido exatamente isso que nos fez ser melhores amigas pra sempre numa determinada fase das nossas vidas. Ela tem excelente gosto musical e um tato inexplicável para fotografia. Ela é muito inteligente, escreve bem, só não tem é disposição para se expor e massacrar a alma com essa expulsão dos sentimentos que é a escrita. Ela sabe de cada uma de nós e se mantém perto mesmo morando longe. Ela foi um pedação do meu passado. Ela é parte do que sou, como cada uma delas (as outras da patota). Ela ainda será, por muitos anos. Ela é a linda, a absoluta: Stephane!
Parabéns, fia! Cuidado aí no skydiving!
Parabéns, fia! Cuidado aí no skydiving!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Cartas para você XVI
Thi,
O tempo passou rápido. Já faz quase 7 meses. Já aconteceu tanta coisa depois de você sair do mundo. Aquele negócio que latejava aqui dentro foi embora. Aquela vontade de chorar cada vez que via uma família foi embora. Aquela sensação do mundo estar vazio foi embora. Aquele sentimento de que nunca mais eu poderia amar de novo foi embora. Restou aqui uma pancada de bem querer, de sorrisos, de vontade e de força de vontade. Ficou também uma tonelada de lembranças felizes e histórias lindas para recontar para os pequenos. Porque eu quero muito que eles saibam como você era. Eu quero que eles tenham exemplo de pai, de homem, em você também, não só naqueles que eles escolherão para te substituir.
Eu queria contar, Thi, que o desespero me deixou. As coisas voltaram aos lugares e a gente tá às vésperas da mudança pro apê novo. Será que você tá orgulhoso de mim, mozinho? Por eu ter conseguido segurar a onda? Por eu ter conseguido resolver tudo? Por eu ter mantido os pequenos sorridentes e saudáveis? Por eu ter me mantido mentalmente sã? Tá, eu sei, você diria que eu sou F alguma coisa, algum código do seu linguajar psiquiátrico, que significa doida. Mas eu fiquei em pé, sabe? Eu fui gastar sola de sapato no fórum, eu fui gritar com os burocratas, eu fui carimbar, autenticar e reconhecer firmas em papéis. Eu fui sozinha, Thi! Eu fiz o que precisava ser feito. Não sei se da maneira mais célere, não sei se da maneira mais certa, não sei se da maneira que você faria. Mas eu fiz como eu pude e deu certo. Eu fiz o que eu pude e me continuei em pé, procurando motivações e compensações no caos.
Quando a gente entrar no apê novo, mozinho, vai ser uma vida nova começando. Uma vida em que não haverá lembranças suas espalhadas pelos cômodos. Haverá ainda o seu sorriso lindo naquela foto de formatura na parede do escritório e em muitas outras espalhadas pela casa. Mas não haverá a memória da sua presença. Eu acho, Thi, que vai ser mais fácil seguir em frente, então. Porém, quando eu penso que estas recordações não estarão mais comigo, a vontade que eu tenho é não sair mais do nosso canto. A vontade que eu tenho é de conviver com seu fantasma, vontade de continuar me olhando no espelho com declaração de amor, e de continuar a abrir e fechar as portas do seu lado do guarda-roupa à procura do que era seu e não está mais lá.
Mudar é doloroso, Thi. É virar de vez a página de uma história que foi linda e da qual a gente foi arrancado à força. Mudar é dar adeus ao transatlântico, ao comercial de margarina. Mudar é começar tudo de novo, do zero. Mudar é abandonar um passado com o qual queríamos conviver para sempre. Mas é preciso, né? A gente tem que ir para lá. E a gente vai, mozinho. Vamos entrar com o pé direito no apê novo. Vamos colocar uma pimenteira na sala e pendurar um olho grego na porta, para que nada mais nos aconteça. Acho que você deve estar por aí, mexendo uns pauzinhos, dando uns jeitinhos, falando com quem de direito para que a vida seja mais fácil pra gente aqui e será!
Ainda saudade. Ainda amor.
Também amo você demais!
Moreninha
O tempo passou rápido. Já faz quase 7 meses. Já aconteceu tanta coisa depois de você sair do mundo. Aquele negócio que latejava aqui dentro foi embora. Aquela vontade de chorar cada vez que via uma família foi embora. Aquela sensação do mundo estar vazio foi embora. Aquele sentimento de que nunca mais eu poderia amar de novo foi embora. Restou aqui uma pancada de bem querer, de sorrisos, de vontade e de força de vontade. Ficou também uma tonelada de lembranças felizes e histórias lindas para recontar para os pequenos. Porque eu quero muito que eles saibam como você era. Eu quero que eles tenham exemplo de pai, de homem, em você também, não só naqueles que eles escolherão para te substituir.
Eu queria contar, Thi, que o desespero me deixou. As coisas voltaram aos lugares e a gente tá às vésperas da mudança pro apê novo. Será que você tá orgulhoso de mim, mozinho? Por eu ter conseguido segurar a onda? Por eu ter conseguido resolver tudo? Por eu ter mantido os pequenos sorridentes e saudáveis? Por eu ter me mantido mentalmente sã? Tá, eu sei, você diria que eu sou F alguma coisa, algum código do seu linguajar psiquiátrico, que significa doida. Mas eu fiquei em pé, sabe? Eu fui gastar sola de sapato no fórum, eu fui gritar com os burocratas, eu fui carimbar, autenticar e reconhecer firmas em papéis. Eu fui sozinha, Thi! Eu fiz o que precisava ser feito. Não sei se da maneira mais célere, não sei se da maneira mais certa, não sei se da maneira que você faria. Mas eu fiz como eu pude e deu certo. Eu fiz o que eu pude e me continuei em pé, procurando motivações e compensações no caos.
Quando a gente entrar no apê novo, mozinho, vai ser uma vida nova começando. Uma vida em que não haverá lembranças suas espalhadas pelos cômodos. Haverá ainda o seu sorriso lindo naquela foto de formatura na parede do escritório e em muitas outras espalhadas pela casa. Mas não haverá a memória da sua presença. Eu acho, Thi, que vai ser mais fácil seguir em frente, então. Porém, quando eu penso que estas recordações não estarão mais comigo, a vontade que eu tenho é não sair mais do nosso canto. A vontade que eu tenho é de conviver com seu fantasma, vontade de continuar me olhando no espelho com declaração de amor, e de continuar a abrir e fechar as portas do seu lado do guarda-roupa à procura do que era seu e não está mais lá.
Mudar é doloroso, Thi. É virar de vez a página de uma história que foi linda e da qual a gente foi arrancado à força. Mudar é dar adeus ao transatlântico, ao comercial de margarina. Mudar é começar tudo de novo, do zero. Mudar é abandonar um passado com o qual queríamos conviver para sempre. Mas é preciso, né? A gente tem que ir para lá. E a gente vai, mozinho. Vamos entrar com o pé direito no apê novo. Vamos colocar uma pimenteira na sala e pendurar um olho grego na porta, para que nada mais nos aconteça. Acho que você deve estar por aí, mexendo uns pauzinhos, dando uns jeitinhos, falando com quem de direito para que a vida seja mais fácil pra gente aqui e será!
Ainda saudade. Ainda amor.
Também amo você demais!
Moreninha
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Visita
Eu sei bem o que é conviver com a ausência e a saudade. Eu sei bem o que é sentir seu lar vazio. Eu sei bem o quanto é difícil encarar a vida depois que ela fica de cabeça pra baixo. Mas eu não sei o que é perder quase todo mundo da família. Eu não sei o que é não ter braços, mãos e ombros onde se amparar. Eu não sei o que é se sentir frágil e indefesa porque grande parte do que importava foi-se embora de repente.
Ontem eu fui visitar a família enlutada da minha amiga que faleceu quando eu estava na Europa. Levei o presentinho do bebê que estava há muito esperando para ser entregue no meu quarto. Ficaram o filho de 3 meses e o marido. Ficaram duas irmãs, sem o pai e a mãe, porque estes também morreram na tragédia. E eles se consolam, se ajudam, se amparam num momento em que o mundo parece vazio, em que a vida parece injusta e cruel e que não há consolo ou conforto que diminua a dor. Eu fui lá oferecer meu ombro, minha mão e meus serviços, o que eu sei fazer, o que eu puder ajudar.
Eu sei que não é nada. Eu sei que talvez eles nem se lembrem. Eu sei que é uma gota num mar de lágrimas. EU BEM SEI. Mas eu me lembro do quanto eu precisei de gente por perto e do quanto me foi útil toda ajuda. Eu fui e eu irei sempre. Depois que a gente passa por isso, depois que sente na pele, a gente entende melhor o quanto toda visita/ajuda é importante. E eu estou aqui pra isso!
Ontem eu fui visitar a família enlutada da minha amiga que faleceu quando eu estava na Europa. Levei o presentinho do bebê que estava há muito esperando para ser entregue no meu quarto. Ficaram o filho de 3 meses e o marido. Ficaram duas irmãs, sem o pai e a mãe, porque estes também morreram na tragédia. E eles se consolam, se ajudam, se amparam num momento em que o mundo parece vazio, em que a vida parece injusta e cruel e que não há consolo ou conforto que diminua a dor. Eu fui lá oferecer meu ombro, minha mão e meus serviços, o que eu sei fazer, o que eu puder ajudar.
Eu sei que não é nada. Eu sei que talvez eles nem se lembrem. Eu sei que é uma gota num mar de lágrimas. EU BEM SEI. Mas eu me lembro do quanto eu precisei de gente por perto e do quanto me foi útil toda ajuda. Eu fui e eu irei sempre. Depois que a gente passa por isso, depois que sente na pele, a gente entende melhor o quanto toda visita/ajuda é importante. E eu estou aqui pra isso!
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Sobre o futuro
Enquanto eu estava viajando, o que rolava no formspring, além da questão financeira, era saber se eu tinha ficado com alguém, se eu estava preparada para isso. Depois eu fiquei pensando e remoendo e refletindo e conversando com meus botões e me indaguei se realmente existe algum método capaz de preparar alguém para encontrar um outro alguém.
Porque, sei lá, eu fiquei viúva e tal, foi triste, foi trágico, foi inesperado, eu sofri feito o cão, eu achei que minha vida tinha se acabado e que eu nunca mais poderia ser feliz. Eu achei que ficaria sozinha para o resto da vida. Convenhamos que, aos 28 anos, as pessoas estão começando casamentos e não tem muita gente solteira na minha faixa etária. É totalmente diferente de ficar viúvo aos 40 ou 50 anos. Ainda é cedo, ainda é doloroso; mas nessa faixa tem montes de gente se divorciando. Eu achei que nem um homem no mundo inteiro fosse se interessar por uma mulher com uma história como a minha. Eu acreditei nisso de verdade e a terapia só me ajudou a superar o pensamento disfuncional, como diria a psicóloga.
O fato é que eu não quero ficar sozinha pra sempre. Eu quero me casar de novo. Eu quero achar alguém com quem conversar no fim do dia, com a porta do banheiro aberta e com quem rir da propaganda eleitoral. Eu quero achar alguém pra jogar minha perna sobre a perna de novo, sabe? Eu quero mesmo! Não é pra já. Ainda tem uma bagunça enorme pra eu arrumar, ainda tem umas coisas para encaixotar e levar para o porão de dentro de mim, ainda tem umas coisas pra organizar na cabeça e umas faltas pra esquecer, ainda tem uma mudança pra fazer. Mas eu quero isso no futuro. E acho que meu querer é legítimo.
Mas eu falei tudo isso só pra contar que no último sábado eu fui ao casamento do meu primeiro namorado. Foi um namoro inocente e infantil, até porque tínhamos apenas 12 anos. Mas, de qualquer forma, foi o primeiro namorado. A gente achava que era amor. E os anos passaram e a gente nunca saiu da vida um do outro. Viramos amigos de longa data e foi engraçado vê-lo me apresentar às pessoas na festa como "a primeira namorada". Pois bem. Antes de jogar o buquê, a noiva jogou um Santo Antonio que caiu certeiramente na mão de quem? de quem? Isso mesmo: na minha! Sem disputa, inteirinho, diretinho nas minhas mãos. E eu disse que queria pegar o buquê e voltei pra confusão do mulheril. O buquê veio na minha direção e eu cheguei a pegá-lo, mas disputando com uma outra moça, ela saiu com as flores despetaladas. Diante disso, eu cheguei à conclusão de que, no meu caso, só mesmo o Santo Antonio ajuda. É caso de milagre!
Porque, sei lá, eu fiquei viúva e tal, foi triste, foi trágico, foi inesperado, eu sofri feito o cão, eu achei que minha vida tinha se acabado e que eu nunca mais poderia ser feliz. Eu achei que ficaria sozinha para o resto da vida. Convenhamos que, aos 28 anos, as pessoas estão começando casamentos e não tem muita gente solteira na minha faixa etária. É totalmente diferente de ficar viúvo aos 40 ou 50 anos. Ainda é cedo, ainda é doloroso; mas nessa faixa tem montes de gente se divorciando. Eu achei que nem um homem no mundo inteiro fosse se interessar por uma mulher com uma história como a minha. Eu acreditei nisso de verdade e a terapia só me ajudou a superar o pensamento disfuncional, como diria a psicóloga.
O fato é que eu não quero ficar sozinha pra sempre. Eu quero me casar de novo. Eu quero achar alguém com quem conversar no fim do dia, com a porta do banheiro aberta e com quem rir da propaganda eleitoral. Eu quero achar alguém pra jogar minha perna sobre a perna de novo, sabe? Eu quero mesmo! Não é pra já. Ainda tem uma bagunça enorme pra eu arrumar, ainda tem umas coisas para encaixotar e levar para o porão de dentro de mim, ainda tem umas coisas pra organizar na cabeça e umas faltas pra esquecer, ainda tem uma mudança pra fazer. Mas eu quero isso no futuro. E acho que meu querer é legítimo.
Mas eu falei tudo isso só pra contar que no último sábado eu fui ao casamento do meu primeiro namorado. Foi um namoro inocente e infantil, até porque tínhamos apenas 12 anos. Mas, de qualquer forma, foi o primeiro namorado. A gente achava que era amor. E os anos passaram e a gente nunca saiu da vida um do outro. Viramos amigos de longa data e foi engraçado vê-lo me apresentar às pessoas na festa como "a primeira namorada". Pois bem. Antes de jogar o buquê, a noiva jogou um Santo Antonio que caiu certeiramente na mão de quem? de quem? Isso mesmo: na minha! Sem disputa, inteirinho, diretinho nas minhas mãos. E eu disse que queria pegar o buquê e voltei pra confusão do mulheril. O buquê veio na minha direção e eu cheguei a pegá-lo, mas disputando com uma outra moça, ela saiu com as flores despetaladas. Diante disso, eu cheguei à conclusão de que, no meu caso, só mesmo o Santo Antonio ajuda. É caso de milagre!
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
O porão de dentro
O tempo passa, sabe? Inexoravelmente. Nem preciso dizer que aprendi que não adianta nada planejar tudo direitinho. Não adianta mesmo. Não depende só da gente. Não está por nossa conta e risco. O tempo passa e a dor diminui. O tempo passa e não pesa mais. É claro que tem aqueles dias, né? É claro que tem uma montanha de lembranças e coisas guardadas dentro. Como se o peito da gente fosse um enorme porão onde a gente escondesse estas tranquerias que vão ficando dentro da gente. Uma foto, uma festa inesquecível, um sorriso, uma piada interna, um momento... Todo mundo tem uma montanha de coisa guardada dentro de si. Mas no dia-a-dia, no correcorre da vida, vezenquando, acontece alguma coisa que faz a gente voltar lá no porão e pegar aquele objeto velho e reviver aquela história e rir ou chorar, dependendo do que ficou daquilo ali. O porão da gente encerra tudo que levamos da vida e não podemos carregar conosco. Até porque seria um fardo muito pesado a gente carregar tudo nos ombros, né? Aí, a gente deixa lá e volta, quando em vez, só pra reviver.
Eu já consegui colocar quase tudo no porão. Eu já consegui voltar lá de maneira comedida e controlada, quando eu quero. Eu já consigo sorrir de coração aberto. Eu já consigo abrir os olhos para a vida. Eu já consigo acreditar que a tragédia aconteceu comigo, no nosso lar. Eu já consigo pensar na minha vida só por mim e pelos pequenos, sem ele. E eu não posso mentir que a viagem me ajudou muito a secar os resquícios da tempestade que ocorreu dentro de mim. Eu preciso admitir que retornei como que renovada, como que pronta para os finalmentes dessa batalha que é viver o luto. Falta tão pouquinho pra terminar. Eu estabeleci que a mudança para o apê novo seria o marco simbólico dessa passagem. Sábado foi a entrega oficial do condomínio. Agora falta só assinar a documentação e fazer a mudança. Bem pertinho da linha de chegada e, depois disso, eu só quero ser feliz! Voltarei ao porão sempre, porque as memórias são lindas. Mas eu vou em frente atrás da felicidade que já vem batendo na porta da casa nova!
Eu já consegui colocar quase tudo no porão. Eu já consegui voltar lá de maneira comedida e controlada, quando eu quero. Eu já consigo sorrir de coração aberto. Eu já consigo abrir os olhos para a vida. Eu já consigo acreditar que a tragédia aconteceu comigo, no nosso lar. Eu já consigo pensar na minha vida só por mim e pelos pequenos, sem ele. E eu não posso mentir que a viagem me ajudou muito a secar os resquícios da tempestade que ocorreu dentro de mim. Eu preciso admitir que retornei como que renovada, como que pronta para os finalmentes dessa batalha que é viver o luto. Falta tão pouquinho pra terminar. Eu estabeleci que a mudança para o apê novo seria o marco simbólico dessa passagem. Sábado foi a entrega oficial do condomínio. Agora falta só assinar a documentação e fazer a mudança. Bem pertinho da linha de chegada e, depois disso, eu só quero ser feliz! Voltarei ao porão sempre, porque as memórias são lindas. Mas eu vou em frente atrás da felicidade que já vem batendo na porta da casa nova!
domingo, 8 de agosto de 2010
Quase ilesa
O dia passou rápido e a ausência não pesou. A gente escondeu tanto dos pequenos que, para eles, foi só mais um fim de semana como outro qualquer. Foi proibido falar Dia dos Pais na família e eles realmente nem se deram conta da data. Fui almoçar na casa do meu avô e passamos a tarde e jantamos com meu pai, mas sem mencionar nada.
Chegamos em casa já era noite. Banho e cama para os dois pequenos, mas aqui dentro tudo revirou. E eu achava que iria escapar ilesa por este dia. Porque eu posso esconder dos pequenos, porque eu posso fazê-los pensar que é um fim de semana como outro qualquer, porque eu posso passar o dia inteiro sem lembrar, porque eu posso sorrir e até gargalhar das piadas bestas que os primos dividem na mesa do almoço; mas eu não esqueço que ele não está mais aqui, não está mais no mundo. Eu não consigo me esquecer dessa dor.
Para arrematar meu desconforto, eu descobri umas gravações de áudio no celular dele. A voz dele de novo, reverberando em alto e bom som... A voz dele fazendo perguntas, com entonação, com o carinho de sempre... Eu me lembrei de novo dos adjetivos carinhosos. Eu me lembrei de novo do "boa tarde" ao abrir a porta. Eu me lembrei de novo das nossas conversas de fim de dia. Eu me lembrei de novo como se a voz dele estivesse dentro de mim e repetisse o vocativo utilizado na última ligação que ele fez antes da tragédia acontecer: "princesinha". Eu me lembrei de novo de tudo e doeu de novo e eu chorei de novo.
"I thank the Lord above you're not here to see me in this shape I'm in."
(Roxette - Spending my time)
PS: Acho que tô precisando voltar lá no lugar onde as sombras são compridas.
Chegamos em casa já era noite. Banho e cama para os dois pequenos, mas aqui dentro tudo revirou. E eu achava que iria escapar ilesa por este dia. Porque eu posso esconder dos pequenos, porque eu posso fazê-los pensar que é um fim de semana como outro qualquer, porque eu posso passar o dia inteiro sem lembrar, porque eu posso sorrir e até gargalhar das piadas bestas que os primos dividem na mesa do almoço; mas eu não esqueço que ele não está mais aqui, não está mais no mundo. Eu não consigo me esquecer dessa dor.
Para arrematar meu desconforto, eu descobri umas gravações de áudio no celular dele. A voz dele de novo, reverberando em alto e bom som... A voz dele fazendo perguntas, com entonação, com o carinho de sempre... Eu me lembrei de novo dos adjetivos carinhosos. Eu me lembrei de novo do "boa tarde" ao abrir a porta. Eu me lembrei de novo das nossas conversas de fim de dia. Eu me lembrei de novo como se a voz dele estivesse dentro de mim e repetisse o vocativo utilizado na última ligação que ele fez antes da tragédia acontecer: "princesinha". Eu me lembrei de novo de tudo e doeu de novo e eu chorei de novo.
"I thank the Lord above you're not here to see me in this shape I'm in."
(Roxette - Spending my time)
PS: Acho que tô precisando voltar lá no lugar onde as sombras são compridas.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Sobre o peso
O que pesa agora não é a mais a dor de ter perdido meu marido, o homem da minha vida, meu amor. O que pesa agora não é encarar os fatos e a vida sem ele. O que pesa agora não é mais uma saudade dilacerante. Essa ainda existe, é fato. Mas é uma coisa bem mais leve aqui dentro de mim. É claro que ainda me arranca lágrimas e soluços, mas muito mais pelo que poderia ter sido e não foi e não será. Não há mais o pensamento de que não há lugar para mim no mundo. Não há mais a ideia fixa de que minha vida tinha ruído. Não há mais aquela tristeza que torcia o coração. Não há mais a sensação de não haver solo embaixo dos pés. Não há mais a dor de dobrar os joelhos.
O que pesa agora é a responsabilidade enorme de viver sozinha. Todas as contas, todos os gastos, a educação dos meninos, a empregada, carro, apartamento... Ninguém pra dividir. Ninguém pra ajudar. Ninguém pra discutir a melhor opção. Ninguém pra ajudar a decidir. Ninguém. O que pesa agora é a ausência desse meu melhor amigo, com quem eu podia falar dos problemas todos, xingar sicranos, difamar beltranos e chorar no ombro. O que pesa agora é não ter ninguém para rir da propaganda eleitoral gratuita. O que pesa agora é não ter essa parceria, essa companhia, esse companheirismo. É um milhão de toneladas na costas e eu carregando... É um milhão de toneladas sobre este corpo e eu seguindo... É um milhão de toneladas da vida.
O que pesa agora é a responsabilidade enorme de viver sozinha. Todas as contas, todos os gastos, a educação dos meninos, a empregada, carro, apartamento... Ninguém pra dividir. Ninguém pra ajudar. Ninguém pra discutir a melhor opção. Ninguém pra ajudar a decidir. Ninguém. O que pesa agora é a ausência desse meu melhor amigo, com quem eu podia falar dos problemas todos, xingar sicranos, difamar beltranos e chorar no ombro. O que pesa agora é não ter ninguém para rir da propaganda eleitoral gratuita. O que pesa agora é não ter essa parceria, essa companhia, esse companheirismo. É um milhão de toneladas na costas e eu carregando... É um milhão de toneladas sobre este corpo e eu seguindo... É um milhão de toneladas da vida.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Revanche
Aí, né? Eu vinha para o trabalho, displicente e fagueira, dirigindo com o rádio ligado. Quando, de repente, começa uma música que desde o primeiro verso me fez balançar a cabeça em sinal de afirmação. Poderia ter sido escrita por mim. Vários versos eu já coloquei aqui. Esse de que não tenho medo de sofrer, é uma constante. Não tenho mesmo. Poucas coisas poderão me fazer sofrer mais do que o que eu passei. Isso é libertador! Você pode se arriscar em tudo justamente porque sabe que aguenta o tranco. No mais, a música parece ser completamente adaptada ao meu momento. Tô esperando ele chegar para ouvir sinos tocarem.
Só não concordo com o título da música "Revanche". Poderia ser "Esperança"...
Video no you tube: http://www.youtube.com/watch?v=-iAhMYCzc…
Só não concordo com o título da música "Revanche". Poderia ser "Esperança"...
NÃO TENHO MEDO DE SOFRER
EU NÃO ME IMPORTO EM CHORAR
TUDO QUE EU QUERO É VIVER
UM SONHO LINDO
COM TANTA GENTE NESSE MUNDO
ALGUÉM SERÁ MEU BEM QUERER
PORQUE NÃO VOU ENVELHECER
TRISTE E SOZINHO
SE A DOR MARCOU SEU CORAÇÃO
OUTRO AMOR VAI TE CURAR
SAI DA SOLIDÃO
TEM MEDO NÃO
DE NOVAMENTE SE ENTREGAR
SE CAIU LEVANTA DESSE CHÃO
VIVER É SE ARRISCAR
QUANDO ELE CHEGAR
OS SINOS VÃO TOCAR
OS PÉS VÃO FLUTUAR
A BOCA VAI SECAR
A TERRA VAI TREMER
OS PÁSSAROS CANTAR O AMOR
PODE VIR DO MAR
DA TERRA OU DO AR
NAS ASAS DO AVIÃO
NA MESA DE UM BAR
PROMESSAS DE VERÃO
NO BICO DE UM BEIJA-FLOR
EU NÃO ME IMPORTO EM CHORAR
TUDO QUE EU QUERO É VIVER
UM SONHO LINDO
COM TANTA GENTE NESSE MUNDO
ALGUÉM SERÁ MEU BEM QUERER
PORQUE NÃO VOU ENVELHECER
TRISTE E SOZINHO
SE A DOR MARCOU SEU CORAÇÃO
OUTRO AMOR VAI TE CURAR
SAI DA SOLIDÃO
TEM MEDO NÃO
DE NOVAMENTE SE ENTREGAR
SE CAIU LEVANTA DESSE CHÃO
VIVER É SE ARRISCAR
QUANDO ELE CHEGAR
OS SINOS VÃO TOCAR
OS PÉS VÃO FLUTUAR
A BOCA VAI SECAR
A TERRA VAI TREMER
OS PÁSSAROS CANTAR O AMOR
PODE VIR DO MAR
DA TERRA OU DO AR
NAS ASAS DO AVIÃO
NA MESA DE UM BAR
PROMESSAS DE VERÃO
NO BICO DE UM BEIJA-FLOR
(Revanche - Leo Maia)
Video no you tube: http://www.youtube.com/watch?v=-iAhMYCzc…
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Fugindo
O desafio imediato é fugir do Dia dos Pais, é entreter as crianças com outra coisa que não a TV, que parece rodar monotemática. Nem para a escola eles estão indo essa semana para que não participem dos preparativos, dos ensaios, das manifestações pelo dia. Não quero, de jeito nenhum, em hipótese alguma, apagar da memória deles o pai maravilhoso que tiveram, o pai apaixonado por eles, o pai que rolava no chão e que matava de cosquinhas, que colocava pra dormir cantando, que os beijava com amor, que realizava os desejos, que era só coração... O que eu não quero é avivar essa ausência tão dolorida para todo mundo. O que eu não quero é que eles sintam de novo que não têm mais o pai aqui. O que eu não quero é responder de novo aquelas perguntas que eu sei que o Matheus faria. O que eu não quero é vê-lo chorar de novo. Melhor, não. Ainda é muito recente. Ainda dói demais em todo mundo. Ainda não dá, como não deu o Dia das Mães. Melhor passar à francesa pela data. Semana que vem o mundo volta ao normal.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Reconhecimento
"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara e se advinha
objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
e ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
(Hilda Hilst)
________________________________________________
"Sou uma mulher e só posso escrever. Afinal, talvez seja oportuna a tua ausência. Porque eu, de outro modo, nunca te poderia alcançar. Deixei de ter posse da minha própria voz. Se viesses agora, eu ficaria sem fala. A minha voz emigrou para um corpo que já foi meu. E quando me escuto nem eu mesma me reconheço. Em assunto de amor só posso escrever. Não é de agora, sempre foi assim, mesmo quando estavas presente.
E escrevo como as aves redigem seu voo: sem papel, sem caligrafia, apenas com luz e saudade. Palavras que, sendo minhas, não moraram nunca em mim. Escrevo sem ter nada que dizer. Porque não sei o que te dizer do que fomos. E nada tenho para te dizer do que seremos. Porque sou como os habitantes de Jerusalém. Não tenho saudade, não tenho memória. É assim que envelheço: evaporada em mim, véu esquecido num banco de igreja.
Só te amei a ti. Essa fidelidade levou-me ao mais penoso dos exílios: esse amor afastou-me da possibilidade de amar. Agora, entre todos os nomes, só me resta o teu nome. Só a ele posso pedir o que antes te pedia a ti: que me faça nascer. Porque eu preciso tanto de nascer! De nascer outra, longe de mim, longe do meu tempo. Estou exausta. Exausta, mas não vazia. Para estar vazia é preciso ter dentro. E eu perdi a minha interioridade.
Vês como fico pequena quando escrevo para ti? É por isso que nunca poderia ser poeta. O poeta se engrandece perante a ausência, como se a ausência fosse seu altar, e ele ficasse maior que a palavra. No meu caso, não, a ausência me deixa submersa, sem acesso a mim."
(Mia Couto - Antes de nascer o mundo. P. 131-132 - Com cortes e marcações meus)
Aflição de não ser, amor, aquela
que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara e se advinha
objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
e ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
(Hilda Hilst)
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"Sou uma mulher e só posso escrever. Afinal, talvez seja oportuna a tua ausência. Porque eu, de outro modo, nunca te poderia alcançar. Deixei de ter posse da minha própria voz. Se viesses agora, eu ficaria sem fala. A minha voz emigrou para um corpo que já foi meu. E quando me escuto nem eu mesma me reconheço. Em assunto de amor só posso escrever. Não é de agora, sempre foi assim, mesmo quando estavas presente.
E escrevo como as aves redigem seu voo: sem papel, sem caligrafia, apenas com luz e saudade. Palavras que, sendo minhas, não moraram nunca em mim. Escrevo sem ter nada que dizer. Porque não sei o que te dizer do que fomos. E nada tenho para te dizer do que seremos. Porque sou como os habitantes de Jerusalém. Não tenho saudade, não tenho memória. É assim que envelheço: evaporada em mim, véu esquecido num banco de igreja.
Só te amei a ti. Essa fidelidade levou-me ao mais penoso dos exílios: esse amor afastou-me da possibilidade de amar. Agora, entre todos os nomes, só me resta o teu nome. Só a ele posso pedir o que antes te pedia a ti: que me faça nascer. Porque eu preciso tanto de nascer! De nascer outra, longe de mim, longe do meu tempo. Estou exausta. Exausta, mas não vazia. Para estar vazia é preciso ter dentro. E eu perdi a minha interioridade.
Vês como fico pequena quando escrevo para ti? É por isso que nunca poderia ser poeta. O poeta se engrandece perante a ausência, como se a ausência fosse seu altar, e ele ficasse maior que a palavra. No meu caso, não, a ausência me deixa submersa, sem acesso a mim."
(Mia Couto - Antes de nascer o mundo. P. 131-132 - Com cortes e marcações meus)
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Eu também
"...O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito,uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista. Sou antes de tudo uma exaltada, com alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"
(Florbela Espanca)
(Florbela Espanca)
domingo, 1 de agosto de 2010
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