Durante muito tempo, eu vivi no fantástico mundo do futuro do pretérito. Minha vida corria dura e real e, em paralelo, o futuro do pretérito desenhava em minha mente situações e diálogos com gostinho de saudade. Com certa frequência, eu me mudava para lá e me perdia em devaneios cujas ações tinham os verbos terminados sempre em -ia.
O fantástico mundo do futuro do pretérito tem milhares de encantos. Nele, a gente pinta a vida das cores que a gente quer e revive os melhores momentos do que ficou pra trás. Nele, a gente pode ter de novo o que perdeu, sentir de novo o frio na barriga, sorrir e amar de novo. Nele, a gente pode criar momentos perfeitos, situações perfeitas, ternura e amor. Nele, a gente pode deixar a vida ser sempre doce, porque não há limites no fantástico mundo do futuro do pretérito.
Porém, há também um contraponto, um peso, um senão. Lá no fantástico mundo do futuro do pretérito, tudo é precedido por uma partícula condicional. Não há nenhuma ação que não gere uma oração subordinativa condicional. No meu caso em particular, não se tratava de partículas condicionais viáveis, possíveis, plausíveis. Não era o caso de uma condição futura certa, um termo final a ser alcançado. A partícula condicional que me alçava para lá tinha a conotação do impossível.
E aí, quando você percebe que não, que nunca mais o fantástico mundo do futuro do pretérito será conjugado no presente do indicativo; você entende imediatamente o que o sofrimento é capaz de fazer com a mente das pessoas. Esse choque de realidade arrasta para a vida real qualquer um que anseie permanecer por lá. E tendo retornado, resolvi abandonar as viagens para lá. Reconheço que muitas vezes era sensação de conforto, era sentimento que eterniza. Mas, a bem da verdade, era também fuga da lucidez e da racionalidade que sonhei pra mim.
Eu não vou mais ao fantástico mundo do futuro do pretérito. Até porque, sempre que a gente pensar como seria se; qualquer coisa, qualquer situação, qualquer momento se torna muito triste e pesado e sofrido pelo simples fato que não.
9 comentários:
Um dos seus melhores textos. Pela epifania do título, talvez.
Bjs,
LuTTy
Cele:
O grande problema é que quando a gente coloca um "se" no começo da frase, geralmente, a gente coloca um "final feliz" no fim dela.
E vem a vida e bate a porta na cara do final feliz... e é duro, amiga! É muito difícil!
Mas, quem sabe, depois daquela esquina, tenha um outro final feliz para a gente?
Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com
Marcelle! Estou passando So para Te dizer q vc e uma pessoa muito preciosa e importante!!!! Que vc tenha um otimo dia!!!! Bj de uma amiga aqui de SP!!!! Dani Hildebrand
Com paciência a gente vai encontrando meios mais palpáveis de amenizar a dor.
Você tem duas grandes riquezas!
E eles são lindos!
Beijos, Marcele.
Força, menina! Tem muita gente que ora por você.
Cinthya
Estava precisando disso hoje, de poder ouvir/ler,isso. Tenho mania de futuro do pretérito e como disse, é sofrido, quero mais não.
Viver o hoje já!!!Vamos!
Lidiane Dantas
Cele,
Também viajei muito por esse "fantástico mundo" como vc diz.
Mas, o mundo real nos chama de volta.
Quem sabe um dia o mundo real se tornará fantástico novamente?!
bjs para vc e seus pequenos
Lu.
Eu também já passeei e até finquei parada pelo pretérito do perfeito durante muito tempo....
É bom, a gente sonha, mas não recomendo e nem quero mais.
A sensação que dá é que quando o real chama a gente cai de um prédio de sei lá quantos andares, e dói...
Hoje busco viver o hoje, o agora e atrás de ter e buscar a felicidade.
Mais um lindo texto, beijo!!!
Belo texto, apesar de triste.
Adoro a forma como você transcende o "fantástico mundo das letras" para dizer exatamente o que você sente.
Beijo.
Ih somos duas. Eu vivo no futuro do pretérito. Marcele, ainda torcendo muito por você e já me animando com todo aquele fundo lindo do seu novo blog. Vai dar tudo certo.
Beijo
Kézia
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