terça-feira, 16 de novembro de 2010

Acontece

No meio do medo e da dor, no meio do sofrimento e da luta diária com leões, no meio do looping da montanha russa; pequenos toques de alento, pequenas demonstrações da presença constante, confiança que crescia como se nascida também estivesse logo após a saída do útero. No meio do turbilhão e de todas as defesas construídas em torno de si a fim de se proteger, de agir de maneira racional, de evitar maiores problemas porque já lidava com coisas demais; havia algo que parecia calmaria, contra o qual não sabia como se defender, com o qual a razoabilidade era argumento de retórica. No meio da escuridão no de dentro de si; havia uma luz que irradiava a certeza de que os melhores dias ainda estão por vir. No meio do pior momento da vida, havia algo que fazia florescer primaveras no caminho por onde passava, fazia com que os dias parecessem sempre verão, fazia o em torno de si ficar colorido e radiante, fazia surgir a sensação de paz. Algo que dispensava classificações e nomenclaturas e terminologias e elucubrações. Algo que, porque espontâneo, era doce, com uma pitada de perenidade, de caminho cruzado, de vidas que se abraçam apertado com desejo de não mais largar. No meio do momento em que a solidão mais pesava, havia uma troca, uma compreensão, uma doação daquele tipo que se faz sem perceber, por querer e com prazer. Havia algo de presente surpresa e encantamento recíproco. Havia algo que possibilitava falar tudo sem precisar dizer nada e entender perfeitamente silêncios e ausências. Havia algo que parecia reconhecimento, espelho, identificação. Havia algo que fazia crescer a vontade de tornar tudo mais leve, com ar de brincadeira, com gosto de superação, com fim de felicidade. Havia algo que dava a sensação de que era tudo mais fácil só porque existia. Algo que cheirava a cuidado e carinho, que aquecia a alma e fazia cócegas no coração. Algo que tornava o riso fácil, terno, doce. Algo que sobrevivia às armadilhas que a racionalidade plantava para tentar (em vão) demonstrar o quanto era impossível. Algo que escapava ileso aos embates com o medo. No meio de tudo e quando a concretude atingiu todos os sentidos, algo transpareceu no olhar, irradiou no sorriso, deslizou pelas mãos, aguçou os sentidos, revelou cheiros e intenções, deixando evidente o que até então estava ressabiado. Porque algo assim é fluído, é líquido e escoa pelas brechas das máscaras e dos tijolos que colocamos como se barreiras fossem. Algo assim sai transformando a vida, iluminando tudo, invadindo espaços, preenchendo os vazios. Depois que surge, traz a percepção de que não pode ser ignorado, esquecido, preterido, amordaçado, aprisionado. É algo do tipo que explode, que transborda, que grita, e que parece possível, mesmo ante todas impossibilidades; parece perfeito, mesmo com tantas imperfeições; parece fácil, mesmo com todas dificuldades; parece certo, mesmo com tantos erros; parece óbvio, mesmo com tantos ocultos. É algo do tipo indisfarçável e que, assim que chega, já se sabe que veio para ficar. Porque quando algo assim acontece, simplesmente acontece.

Um comentário:

Mirys disse...

Cara Marcele:

Descobri seu blog, hoje, por causa do da Andréia (viuva verde). Me correspondo com ela desde que ela começou...

Infelizmente, descobri que temos muito em comum: um grande amor, dois filhos vindos disso, um casamento bem bacana, um aniversário em novembro, um acidente em janeiro...

Ainda não consegui entender sua história toda (porque não encontrei um post que explique o que aconteceu), mas continuo lendo!

E como acabamos de passar mais um 9.11, espero que você esteja bem! De coração, mesmo! Porque eu bem sei o quanto dói...

Mas, também não me entrego, não!
Quando quiser, confira por você mesma (www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com).

Bjos e bençãos.

Mirys

OBS: tomara que você esteja se referindo a um novo alguém especial... isso seria um alívio para tantas e tantas outras de nós...