Então, teve a missa ontem. E, dentre a surpresa pela presença de cerca de 200 pessoas e a tristeza de ver fotos dele no livrinho de mais uma missa de morte, o que mais me marcou na noite de ontem foi a maturidade do Matheus. Nesse período todo, a lucidez e a inteligência dele me surpreenderam sobremaneira. Mas ontem...
Momento 1 - A gente dividia flores para o ofertório. Aí ele chega com uma nas mãos e me diz: "Mamãe, você tem quem fingir que essa daqui foi o papai que mandou, certo?".
Momento 2 - Eu chorando muito, ele se aproxima e diz: "Mamãe, você não precisa chorar porque eu tô aqui..."
Momento 3 - "Mamãe, você nunca estará sozinha. Eu sempre vou estar com você. Se você tivesse perdido os seus filhos é que você iria se sentir sozinha..."
Momento 4 - "Mamãe, eu te amo, me dá um abraço? Pronto, agora passou né?"
Momento 5 - Em casa já, ele fez questão de dormir comigo na minha cama e sabe o que ele fez??? CA_FU_NÉ.
Lindo demais meu menino!
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Eis o texto que eu li na missa:
Durante este ano inteiro, eu busquei freneticamente maneiras de superar a realização do meu pior pesadelo. Digo pior pesadelo porque pior que isso nunca nem passou pela minha cabeça. E, após os dois piores dias da minha vida, ao voltar pra casa e me ver sozinha, com duas crianças tão pequenas e sem ele, eu não consigo mais descrever a sensação que me acometia. Eu não consigo encontrar a palavra adequada porque é maior que desespero, é maior que solidão, é maior que dor, é maior do que consigo racionalmente conceber.
Eu entrava no meu quarto e me perguntava como conseguiria viver sem ele ali, como eu conseguiria dormir e acordar na nossa cama, fazer as refeições na nossa mesa, entrar e sair da nossa casa, me deparando com a declaração de amor no espelho do banheiro, com fotos, objetos, roupas, espaços, lembranças e toda a nossa história diariamente. Eu me perguntava como conseguiria simplesmente respirar porque parecia que estavam torcendo meu peito encharcado de dor, como quem torce roupa recém lavada.
Passado um ano, eu concluo que eu não vivi aqueles dias, eu apenas sobrevivi. Inspirando e expirando, chorando convulsivamente muitas noites, tampando a boca com uma toalha e evitando, no meu mais profundo esforço, trazer sequelas ainda maiores para os dois pequenos que ele me deixou. Sobrevivi, primeiramente, justamente por causa destes dois. Mas eu não poderia nunca deixar de fazer referência aos nossos amigos, aqui incluídos todos os familiares, que me ajudaram nesse processo todo. Sobrevivi por mim e por causa de vocês também.
Passado um ano, eu ainda me pergunto se algum dia essa dor vai parar de doer, se esse talho será só uma cicatriz que já não sangra, se essas reviravoltas de sentimentos se acabarão... Passado um ano, eu espero pelo momento em que será só uma boa lembrança, doces recordações que deixaram um gostinho de queria-muito-mais... Porque sempre que eu penso que a vida tá ficando leve e amena, eu esbarro na covinha da bochecha direita do Matheus ou no dedão do pé bolotinha. Quando eu penso que já nem lembro, o Thomás faz uma gracinha ou se lambuza todo com chocolate. Quando eu acho que está superado, eu sonho com os sonhos que planejamos juntos. Quando eu sinto a vida seguindo um rumo novo, outro, diferente; sempre me vem à cabeça que qualquer coisa seria muito melhor com ele por perto.
E, assim, dando muitos passos para frente e alguns para trás, eu sigo minha vida, me sentindo ainda muito ligada a ele porque ele permanece vivo nesses dois pequenos, com a certeza de que nem essa distância de tempo-espaço será capaz de destruir ou apagar a história linda que construímos.
Por fim, uma música poema diz exatamente o que eu queria dizer pra ele:
"Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...
Que é que eu vou fazer pra te deixar?
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E um silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...
Que é que eu vou fazer pra te lembrar?
Como tantos que eu conheço e esqueço de amar
Em que espelho teu sou eu que vou estar
a te ver sorrindo?
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
QUE NENHUM ADEUS VAI APAGAR..."
(Pra te lembrar - Caetano Veloso)
Thi, nenhum adeus vai apagar seu sorriso lindo dos nossos corações!
17 comentários:
Eu sempre me emociono quando leio o seu blog. Que lindo esse texto, que doa menos... que dor se transforme em saudade. e força, sempre. demasiado. Aponta pra fé e rema...
Beijos
Sinta-se abraçada.
Cinthya
Aqui estou eu, novamente. Voltei aqui pra ver se tinha algum texto novo, e tinha!
Você se expressa tão bem que acabamos quase sentindo o que você sente. Espero que tudo na sua vida dê certo e que os pequenos te dêem muitas alegrias nessa vida! Tudo de bom pra vc...
É Marcele, mesmo em meio à tragédia não tem como não se sentir abençoada com filhos tão maravilhosos. Quanto ao texto está singelo, sincero e profundamene tocante. Beijão!
Janaína
É Marcele, mesmo em meio à tragédia não tem como não se sentir abençoada com filhos tão maravilhosos. Quanto ao texto está singelo, sincero e profundamene tocante. Beijão!
Janaína
É Marcele, mesmo em meio à tragédia não tem como não se sentir abençoada com filhos tão maravilhosos. Quanto ao texto está singelo, sincero e profundamene tocante. Beijão!
Janaína
É Marcele, mesmo em meio à tragédia não tem como não se sentir abençoada com filhos tão maravilhosos. Quanto ao texto está singelo, sincero e profundamene tocante. Beijão!
Janaína
Cele,
Lembrei de vc ontem, do seu dia de janeiro trágico após os longos 12 meses.
Força e paz para vc nessa jornada q eu bem sei o quanto é difícil.
Te mandei um email tb.
bjs mil
Lu.
De vez em quando entro no blog e leio posts anteriores para saber como vc está. Normalmente não comento, mas mesmo me mantendo oculta, fico na torcida acompanhando seus altos e baixos nesse ano que passou. Vc pode até não perceber a incrivel forma como encarou os fatos e estar levando a vida e é por isso que a cada dia aumenta aí o numero de fãs.
É, minha amiga, 1 ano se passou e vc sobreviveu sim... dignamente, surpreendentemente mesmo com todos os percalços que a vida comumente traz. Força, força, força
Sinta-se abraçada, sou sua fã!
Mais uma vez: Obrigada por compartilhar isso conosco.
Roberta Varela
Essa música é de cortar o coração...
Bjs
Marcele,
essas palavras do Matheus me causaram arrepios e a certeza de que essa criança linda transbordante de senbilidade e carinho é a prova viva de que Deus está ao seu lado. Ele nunca te deixará desamparada, Marcele! O Thiago pode não estar mais aqui presente pra te ajudar na educação dos pequenos, pra assumir as contas no fim do mês, pra te proteger das tempestades, mas tenha a certeza de que muitas outras bênçãos estão sendo, e serão, derramadas na vida de vocês! O amor dele sobrevive e vive cada vez mais presente na sua vida! Sua caminhada é dura e dificil mas com um cafuné desses você chega em qualquer lugar!
Um abraço forte!
Rafa
Incrível pensar o impacto que as datas, seja elas quais forem, tem em nossas vidas. E a data de um ano pode ser considerada uma espécie de certificado de sobrevivência. Isso porque dá aquela sensação que já se passou pelo menos uma vez cada das coisas sem ele, aniversário, fim de ano...E é assim que essa dor vai se transformando cada vez mais em saudade, mas uma saudade que dá força para continuar e até mesmo de sorrir, de rir, de gargalhar e de ver que a vida é mesmo um presente. bjs, ciça
O Matheus, apesar de tão pequeno, tenta transmitir todo o amor que tem no coração para te confortar! coisa linda... um abraço forte nos três!!
http://www.comerbemnutri.blogspot.com/
Incrível a sensibilidade do Matheus! Você tem muitos anjos ao seu redor, Marcele! Eles sempre estarão ao seu lado, de mãos dadas, trilhando a estrada da vida! Um forte abraço e que 2011 seja doce e ameno!
Daila
Muitas emoções seu blog trás e sempre leio, mas de todas ( e olha que leio muito), o momento 3 do Matheus foi o que mais emocionou. Estou aqui chorando, por que o que temos de melhor são os filhos e só de imaginar a perda de um filho isso mata, imagina ela concreta. Marcele senti vontade de ir à missa e te dar um abraço. Mas sinta aqui meu carinho e admiração. Logo vai passar essa dor. Grande abraço. E parabéns pelos presentes que ele deixou para você, seus pequenos.
Lidiane Dantas
Muito lindo o texto; o amor permanece, a saudade também e há superação e muito carinho. Abraços.
A maturidade das crianças nos surpreendem. Por essas atitudes é que me questiono: não é possível que não tenhamos outras vidas. Esse espírito é muito evoluido, não corresponde à idade cronológica dessa vida.
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