sábado, 23 de abril de 2011

Cartas para você XXVI

Mozinho,

Hoje eu fui à Caponga com os pequenos. Hoje, depois de muito, muito, muito tempo mesmo, eu resolvi ir. Acho que a última vez, até então, deve ter sido na Semana Santa do ano passado, quando eu me dei conta do pânico de dirigir na estrada e de que eu não suportava estar lá sem você. Dessa vez, já tendo ido à Serra dirigindo, achei que fosse ser fácil. Achei que a distância temporal faria o dia ser leve. Ledo engano.

Estacionei o carro já com um engasgo, um nó na garganta, um aperto no peito. Aquele ambiente era a sua cara, era seu remanso, era seu descanso, era onde você se sentia em casa. Não mudou muito desde que você se foi, mas agora tem uma foto sua pendurada no corredor. Foto do sorriso matador. Foto do seu olhar doce. E aí, mozinho, foi muito difícil estar ali. Foi difícil estar naquele ambiente sem você. Eu me peguei inúmeras vezes esperando você aparecer, você vir me acordar na rede, você assar o churrasco e colocar o coraçãozinho de frango na minha boca. Eu esperei você rolar no chão com os meninos. Ah, Thi, como eles cresceram desde que você se foi...

Eu tentei conversar com as pessoas, rir das palhaçadas da Guigui, me divertir, mas eu simplesmente não consegui parar de pensar em você e também não consegui deixar de sentir o quão injusta essa merda de vida é sem você aqui. A pista foi duplicada quase até Pindoretama, eu nem faço mais ideia onde era a propriedade da família do seu avô e fiquei lembrando de quantas vezes, ao passar por lá, você disse que levaria seu avô para reencontrar os parentes. Seu avô está aqui, firme e forte, e você não. Os nossos amigos estão casando, comprando imóveis, comemorando conquistas, aniversários e você não está mais aqui para se alegrar com eles, para sorrir de mãos dadas comigo, para beber até dar trabalho e me arrancar gargalhadas.

Eu tentei me apegar à alegria dos pequenos, ao quanto eles gostam daquele espaço, daquele chuveirão no jardim; mas eu acabava me lembrando do seu jeito de se remexer quando ouvia um forró tocando e do jeito que você me conduzia quando a gente dançava. Tão lindo você dançando forró, mozinho! Eu me peguei lembrando de você rindo até engasgar das brincadeiras obscenas da Guigui, da sua vontade de ficar na beira do mar, do seu jeito de primeiro provar o almoço com um prato robusto e depois comer de verdade com um prato imenso. Eu lembrei das escatologias das manhãs e das muitas vezes em que dormimos na mesma rede naquela mesma varanda.

Foi muito difícil para mim estar ali sem você, mozinho. As pessoas todas continuam fazendo as mesmas coisas que sempre fizeram e eu me sentia partida ao meio, despedaçada, com essa dor lancinante, que, em determinado momento, eu simplesmente não consegui mais conter e me levou às lágrimas na frente de todo mundo.

Eu me pergunto quando é que vai parar de me revirar assim. Eu me pergunto o que mais eu preciso fazer para ser tudo suportável. Eu me pergunto quando é que eu vou deixar de sofrer porque eu não quero esse peso para sempre. Eu sinto tanto sua falta agora, Thi, que eu mal consigo escrever. As lágrimas caem sem controle e eu paro inúmeras vezes para me controlar. Eu queria tanto que nada disso tivesse acontecido, eu queria tanto ter você comigo, que eu me envergonho em contar que, num lapso de insanidade, eu barganho com o meu inconsciente.

Eu sei que hoje é mais suportável do que já foi, eu sei que agora passa mais rápido e dura menos tempo, mas nesses momentos em que a saudade me dá um caldo, eu demoro a recuperar o ar e continuo aqui, como quem se levanta depois de ser embolado por uma onda, com olhos ardendo de tanto chorar.

Amo você demais!

Moreninha

15 comentários:

Idê Maciel disse...

... amo você filha, incondicionalmente e sempre. Mais que perfeito é o meu sentimento, contingo sempre e que Deus te proteja, dê força e ilumine teu caminhar e tuas lutas.

Alana disse...

Marcele, não vai parar de doer nunca. A saudade não vai passar, porque o Thiago sempre vai fazer parte da sua vida. Com o tempo, apenas esses momentos de intensa dor se tornarão mais espaços, mas ainda doerá, mas você ainda vai pensar em como poderia ter sido, em como seria a vida com o Thiago ali. A única coisa que você pode fazer é aprender a conviver com a saudade, de forma que ela não doa tanto. Sei que é difícil, mas tenta pensar no Thiago com carinho, com ele estando bem, com a felicidade dele. Isso também é importante, para que ele também não olhe para vcs com tanto sofrimento. Beijos!

Alê Crisóstomo disse...

Seria maravilhoso se tudo pudesse voltar ao normal... Seria, sim...

Anônimo disse...

Poxa como eu entendo tudo que vc escreve !!!
Mais te desejo tudo de maravilhoso , e acredite ,tudo isso irá passar .

Um garnde beijo.

Unknown disse...

Puxa, me deu um nó na garganta amiga. A intensidade de suas palavras comovem. Você já pensou em ser escritora e transformar esta sua luta diária em uma linda história de superação de uma linda e forte mulher que recebeu de Deus a graça de ser amada e a missão de levar adiante seus sonhos e os sonhos de Thiago? ele ficaria cheio de orgulho de vc. Muita força e sabedoria para compreender que Deus não nos dar nos dar uma missão acima de nossas forças. Deus abençoe a vc e seus filhos. bjs

Mirys Segalla disse...

Cele...

Não tenho nada pra te dizer... além de "eu sinto muito". Se você precisar de mim e eu puder ajudar, de qualquer maneira, estou aqui!

TJ! Sempre!

Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com

Nana disse...

Faço minhas as palavras da Mirys....

Fiz um balanço geral das férias. Confira. Bjs e fik c Deus.

Alessandra disse...

Não há nada que possa ser dito. Apenas saiba que estou sempre mandando uma boa energia para você, mesmo sem te conhecer.
Um beijo

Lu disse...

Cele querida,
Estou por aqui sempre!
bjs mil de quem te entende PERFEITAMENTE
Lu.

Débora disse...

Eu também como a Mirys só posso dizer, sinto muito...muito mesmo.

Sua dor também é minha dor diária, claro que os sonhos, as idealizações, o que poderia ser e não foi é diferente porque vc perdeu seu amor e eu perdi minha irmã.Mas a saudade e a dor da perda são iguais.

Criar seus filhos sozinhas não deve estar sendo fácil, mas deve ser mais fácil que criar(como tenho criado minha sobrinha) com palpite de vô, vó, pai (dela), namorado(meu), cachorro, papagaio e periquito...

Como a vida é difícil!!!

Um beijo e muita paz pro teu coração!!!!!

Débora.

Sônia Cristina disse...

Maarcelle,

não consegui ler seu post até o final...não deu!
mas volto!
Eta dor que conheco de tráz pra frente, de frente pra tráz!

voltarei querida!

Silvana Alves disse...

é impossível ler e não chorar...

Isabelle disse...

Marcele,
Dessa vez acho q literalmente não li suas palavras, mas as senti.
Sem mais.
Um abraço!!!! ;)

Anônimo disse...

Estou aqui aos prantos, como se a sua dor fosse minha. Nunca perdi uma pessoa tão próxima, nem consigo imaginar como seria perder o pai do meu filho, mas suas palavras me fazem ver o quanto eu preciso valorizar a vida e as pessoas que amo. Que o conforto que desejo a você alcance seu coração.

Izabel Bezerra disse...

Cele querida!
Acredite...vai passar...ou melhor...vai mudar.
Thiaguinho será sempre,um amor de verdade,pai de suas jóias raras.Mas tenha certeza,seu coraçãozinho belo,encontrará motivos para contagiar sempre.Nós aqui,que te admiramos,de perto,de longe...estamos e estaremos SEMPRE...orando,torcendo...o AMOR faz maravilhas,milagres,e você...SABE amar e fazer sentir-se verdadeiramente amado.Lembra?
PS:Lá de cima,ao lado do Pai maior, tem uma LINDA ESTRELA,a iluminar os seus caminhos e os caminhos dos pequenos grandes homens!
Bjokas no coração!