Saudade dos olhos que fechavam quando o sorriso se abria. Saudade da gargalhada fácil que, quando a piada era muito boa, terminava sempre com um engasgo e muita tosse. Saudade do perfume a invadir a casa. Saudade do esfregar irritante das mãos quando eram lavadas. Saudade da massa misturada de cores e sabores com a comida no almoço. Saudade de reclamar pelas horas no computador. Saudade de vê-lo retirar do cabideiro uma dúzia de roupas minhas reclamando. Saudade da organização milimétrica, da praticidade em resolver tudo. Saudade de reclamar da falta de estilo e da constante vontade de andar pelo mundo de havaianas. Saudade de reclamar da falta de cuidado com a própria saúde, de viver dizendo "em casa de ferreiro, espeto de pau". Saudade de reclamar das unhas roídas, da mania de mastigar plástico, de dizer que a fase oral dele seria eterna. Saudade dos inúmeros planos de viagens que fizemos, incusive pra esse janeiro, que passou me despedaçando. Saudade do aconchego, do ombro acolhedor, do cafuné que descabelava, do ronco ensurdecedor quando bebia, do barulho da porta do elevador se abrindo e a sonoridade do "BOA TARDE" feliz que ele nos dava assim que entrava em casa. Saudade do beijo estalado de todas as despedidas, ainda que com sono, ainda que com raiva, ainda que a contragosto. Saudade de ouvi-lo me chamar de bicho preguiça, de mamãezinha, de princesinha, de moreninha, de mozinho, de meu amor, de Cele... Saudade, muita saudade.
PS: Uma das cantoras que ele mais ouviu (eu também) no período recente foi Maria Gadú; e ele gostava particularmente de uma música chamada Dona Cila:
"De todo o amor que eu tenho,
metade foi tu quem me deu
salvando minh'alma da vida,
sorrindo e fazendo o meu eu.
Se queres partir, ir embora,
me olha de onde estiver,
que eu vou te mostrar que eu tô pronta.
Me colha madura do pé.
Salve, salve essa nega que axé ela tem!
Te carrego no colo e te dou minha mão.
Minha vida depende só do teu encanto.
Cila, pode ir tranquila. Teu rebanho tá pronto.
Teu olho que brilha e não pára.
Tuas mãos de fazer tudo e até
a vida que chamo de minha.
Neguinha, te encontro na fé.
Me mostre um caminho agora,
um jeito de estar sem você.
O apego não quer ir embora.
Diaxo, ele tem que querer!
Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
vai chegar a rainha, precisando dormir.
Quando ela chegar, tu me faz um favor:
dê um banto a ela que ela me benze aonde eu for".
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5 comentários:
Marcele conviver com essa saudade é complicado agora. Mas num futuro, quem sabe ão tão distante do que seu coração acha que será, ela se tornará suportável e convivível. E depois serão apenas lembranças !!!! Lembrança de tudo o que foi bom !!!!
Imagino como doe vivir com esta saudade! que Deus de ter muita força!
Só passando para lhe desejar força e coragem...
Grande abraço!!!
Daria qualquer coisa na vida,para ver diminuir sua saudade...
Quantas observações,quantos detalhes...uma hostória...
O Sr.dos cabelos longos e brancos...o Sr.tempo,será seu aliado...ele vai transformar a saudade doida,em lindas lembranças que vc terá orgulho de ter vivido.
Um gde abraço de URSA...aconchegante...
Deus está com vc,e nossa mãe Maria vai iluminar seus caminhos.
Marcele é incrível como vc descreve...chego a vê-lo sorrindo!!! bjs
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