domingo, 16 de maio de 2010

Cartas para você XIV

Thi,

Eu voltei lá no lugar onde as sombras são compridas, no lugar onde o céu de fim de tarde é tão bonito, no lugar onde a grama é verdinha e há centenas de flores... Eu voltei lá porque eu não estarei aqui e eu não vou querer pensar nisso no fim de semana que vem. Eu voltei lá como que para estar com você de novo, Thi, "comemorando" antecipadamente nosso "aniversário" de casamento. Porque o fato de ter tido você em minha vida é, por si só, um motivo.

Eu sentei de novo na grama e dessa vez havia seu nome na lápide, seu nome completo, a data do seu nascimento e aquela data do janeiro trágico. Estava lá na pedra branca, com todas as letras, o nome que reverbera em meus pensamentos há mais de nove anos, o nome que faz meu coração palpitar e que me fez perder noites de sono, e eu derramei muitas lágrimas. Eu chorei porque ainda dói, eu chorei porque ainda parece mentira, eu chorei porque é injusto demais, eu chorei porque a gente tinha muito o que fazer ao longo desse ano e agora eu reprogramo a vida de três pessoas sozinha.

Eu me dobrei de dor e deixei minhas lágrimas molharem seu túmulo, deixei minhas lágrimas secarem minha alma dessa dor que teima em doer tanto e incansavelmente dentro de mim. E elas caíram aos borbotões porque esse maio tem sido pesado, doloroso, sofrido demais para mim.

Pela primeira vez na vida eu passarei um aniversário longe dos meus e longe de mim, Thi. Eu não quero estar aqui, eu não quero saber do peso, da dor, da tragédia, da opinião alheia... Eu quero, pelo menos nesse dia, esquecer desse passado e esquecer que eu perdi meu rumo, perdi o lugar para onde eu ia, perdi aquele com quem eu ia... Quero esquecer que minha vida está em transição, em reorganização, readaptação... Quero esquecer por um dia só dos problemas, das pendências, das inconclusões... Quero ser só a Marcele, perdida numa megalópole sulamericana.

Eu vou para lá, Thi, com essa intenção. Eu vou para lá para abstrair e fugir também, eu assumo. Porque eu tenho encarado tudo de frente e com a cabeça erguida, mas, em alguns momentos, me esconder parece ser a melhor opção. Eu vou, fugindo, me escondendo, covardemente ou prudentemente, eu não sei. Mas eu vou.

Acho que vai ser bom para mim. Acho que voltarei melhor e mais forte para retomar a luta, com mais força ainda para nadar até a praia, com mais força ainda para correr da borda do poço, com mais força ainda para carregar os dois pequenos nas costas, com mais força ainda para ser feliz.

Eu amo você demais!

Moreninha

2 comentários:

Izabel disse...

Que vontade de lhe dar um grande abraço...caloroso,aconchegante,fraterno...mais uma linda carta!!!
Tudo vai passar,e se é isso que lhe vem à mente,nesse maio difícil...vá...
Estaremos todos em coração, pensamento e orações com você, e para vocês!!!
Grande beijo daquela que conquistaste,com sua beleza interior,exterior,com sua garra,com seu amor,com sua LUZ!

Unknown disse...

vá!
esqueça tudo o que ficou, pele menos no SEU dia!
seja a marcele, aquela menina dancante e mulher confiante.
aquela que "só sabe ser feliz"!
beijoooooooooooooooo