segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Currículo

Eu nunca quebrei nenhum osso, mas levei uma queda quando criança que fez meu dente permanente entrar de novo na gengiva.
Eu não dava trabalho para ir à escola, muito pelo contrário, ficava triste nas férias porque não encontrava minha turminha (aliás, amigos até hoje).
Eu nunca deixei de estar no quadro de honra do colégio; e, na terceira série, escondi uma prova de matemática em que tirei 3,5. Minha mãe queria tirar satisfação na escola porque minha média no boletim estava errada, mas eu não deixei e contei a história para ela muitos anos depois.
Eu nunca fumei nada. Nada mesmo. Mas cheirei lança algumas vezes. Memoráveis vezes, devo admitir.
Eu não sei mentir direito, o que implica que eu não sei fingir que gosto se não gosto.
Eu não sei ser melhor amiga de pessoas que acabei de conhecer, muito embora conte minha vida toda depois de me sentir íntima.
Eu pesei 45kg durante aaaanos e eu tive muitos apelidos carinhosos na infância e na adolescência, como: mastro, Olívia Palito, vara-pau, sibite baleado, seca do 15...
Eu tive cinco namorados na vida. Nem sei se algum deles lê isso aqui. Mas eu me sentia mais inteira, mais feliz, mais sortuda, mais mulher, mais perfeita com o último.
Eu passei por muitas fases na vida e, em todas, tive ótimas companhias. Muitas delas, permanecem na minha vida, porque eu não abro mão dos meus. Eu sou aglutinadora e fiel.
Eu não sei cantar, mas eu adoro fingir que canto mesmo assim. Eu decoro letras de músicas e versos com facilidade e depois faço associações destes com as situações do meu dia. Acontece uma coisa e eu penso numa trilha sonora.
Eu sei dançar e gosto do negócio, dei aula de forró nas priscas eras; mas agora o fôlego não é mais o mesmo de antes. Se bem que eu bem que podia voltar, né?
As pessoas dizem que eu sou espirituosa, que meu humor é inteligente e ácido e que eu faço chacota comigo mesma. É tudo verdade.
As pessoas dizem que eu sou forte, decidida, determinada, persuasiva, austera. É tudo mentira.
Eu não sei fazer cálculos e sempre odiei com todas as minhas forças química. Dizem que advogados só precisam saber calcular dez por cento, so that's me!
Eu leio muito, tudo, rapidamente. Vários e vários livros em fila de espera, mas nunca mais de um ao mesmo tempo. Quando me perguntam o que me dar de presente, eu digo: livros! Bom, pode ser maquiagem também. Ambos me farão muito feliz!
Eu não sei ser outra coisa que não otimista, positiva e esperançosa em relação a tudo na vida. As puxadas de tapete, portas e tapas na cara que levei só me fizeram perceber que isso é característica da minha personalidade.
Eu posso ser refinada e plebéia dependendo da companhia, do dia, do tempo, do lugar. Eu consigo conviver perfeitamente bem com as várias de mim que moram aqui dentro. 
Eu não gosto de cozinha nem de trabalhos domésticos, mas tenho cer-te-za de que herdei dotes culinários da mamãe. Sabe mão boa? Eu tenho.
Eu não gosto de salada nem de comidas leves e naturais. Meu negócio é pão-pizza-massa e tudo mais que engorde, mas eu não sou fã de doces. Acho que é isso que me salva da obesidade mórbida.
Eu já dormi em casa de pescador em Jeri, num quarto de 2m² com mais quatro amigos, num reveillon inesquecível.
Eu sempre durmo de maneira vexatória em viagens de avião, acordando muitas vezes depois de babar e cochilar por horas no ombro de um desconhecido.
Eu já saí de casa para uma balada sem ter como voltar, nem dinheiro para isso. E cheguei em casa muito depois da hora do almoço porque voltei a pé.
Eu já briguei com namorado em público, eu já caí em apresentação de dança na abertura do festival, eu já caí e machuquei o pulso atravessando rua, eu já bati salve todos na brincadeira de esconde-esconde e caí no chão em seguida, esbaforida de tanto que corri.
Eu já chorei de soluçar no cinema, assistindo Titanic, no São Luiz do Centro, depois de umas duas horas de fila no sol quente. Eu já chorei de soluçar assistindo Grey's anatomy. Eu já chorei de soluçar escondida no banheiro. Eu já chorei de soluçar muitas vezes na vida.
Eu já mandei recadinhos do coração no rádio e ofereci música. Eu já contratei aqueles carros de Loucuras de Amor. Eu já pedi pra voltar depois de ter dito que não voltaria nunca. Eu já disse não, quando o que eu mais queria era dizer sim. Eu já disse que entendia quando eu não entendia porcaria nenhuma. Eu já perdoei quando era imperdoável. Eu já abri mão e senti faltar o chão sob os pés. Mas eu nunca me arrependi.
Eu já saí cedo e voltei quando o sol raiou. Eu já me arrumei toda e esperei sentada, e cochilei, e me descabelei por quem ficou de vir e até hoje não apareceu. Eu já dormi grudada no telefone. Eu já fiquei no telefone conversando por tanto tempo que não tinha mais força nem para segurá-lo.
Eu nunca namorei alguém que tenha conhecido virtualmente. Mas eu tenho vários amigos virtuais. Muito do meu mundo gira aqui na tela do computador.
Eu morei no mesmo lugar a minha vida inteira e a primeira mudança que fiz de verdade ocorreu agora, quando vim para a casa nova.
Eu não sei colocar as coisas nos seus lugares. Eu não sou organizada, e me estapeio com a minha verve indisciplinada para ter controle sobre tudo de que preciso dar conta.
Eu só digo uma coisa: um dia, eu vou estar à toa...
 

8 comentários:

Felicidade vem em 1º... disse...

Me identifiquei tanto com esse seu curriculo q vc nem imagina....

Vc é sim uma mulher de muita força e determinação...Te admiro muito por isso. Beijos

Mirys Segalla disse...

Estar a toa, Cele, pra que????

O negócio é isso mesmo, mulher: viver, viver, viver e viver. Acertando ou errando (só não vale errar feio, tipo beber-dirigir-machucar alguém), o que vale é viver!!!

Comecei lendo e pensando: "nossa... incrível... somos mesmos MUITO parecidas", mas terminei assim: "meus sais! ela é MUITO diferente de mim. Eu jamais teria coragem de fazer isso! Que pena..." kkkk

Então, continuo seguindo meu "lema" de uns 15 ou 16 anos: o que vale é ter história para contar para os netos. E essas você já começou a colecionar!!!

Bjos e bençãos.

Mirys

Anônimo disse...

No bom e velho cearês: "Se garante, ó!"
Mil beijos de sua leitora- admiradora.

Janaína

Melyssa Alves disse...

Oi Marcele! Tudo bem? Tão bom ler este seu texto, me identifiquei com tanta coisa nele. Muitas afinidades vou descobrindo ao saber um pouco mais de você. Me vi em muitas feses citadas e em muitas situações também. Engraçado isso, poderíamos ter sido mais proximas enquanto vizinhas não é?! Que Deus lhe abençoe hoje e sempre. Sempre leio! Bjosssssss

Anônimo disse...

Humana, demasiadamente humana.

Coisa rara, querida...

Beijo, Bruna.

Unknown disse...

Vc lembra que voltou comigo de táxi da Estação Futuro (vc tava sem carona, me viu e pediu), e que eu tive de arrastar a Daniele da Tia Rita pro táxi (ela queria ficar lá)?

Eu ia voltar de ônibus sozinho, mas vc olhou pra mim com uma cara de "me ajude" que não resisti. Além disso, CJN é CJN 4ever!

Bj daqui de Brasília,
Celso.

Cele disse...

Celso,

É claro que me lembro!!! Claro! Claro! Claro! Hauhauaha! E tô impressionada de saber que você me lê.

Obrigada por aquele dia!
Obrigada por agora tb!

Abraço!

Unknown disse...

Leio, pois só leio coisa boa. Aliás, minha esposa te lê também.

Tava pensando se sabia outras histórias suas, mas preferi deixar você mesma contá-las.

Bj!