segunda-feira, 29 de novembro de 2010

DOR

Quando eu digo para 2010 terminar logo, a vida vem me mostrar que eu tenho muito que aprender, que não sou eu que mando em nada e que as surpresas, assim como as dores, são inevitáveis...

Domingo tranquilo, voltando de uma festinha de Natal com os pais e as crianças da turminha do Matheus, recebo um telefonema desesperado de uma amiga de escola, contando que o marido de uma das sete, daquela que casou mês passado, daquela que tava no auge da felicidade, havia falecido. A gente não sabia a causa, a gente não sabia como, mas a gente sabia o que precisava saber. E eu sabia que, embora estivesse com tudo revirando dentro de mim, revivendo o janeiro trágico, sentindo de novo aquele rebuliço por dentro, eu sabia que tinha que correr para onde ela estivesse só para dar um abraço apertado e dizer que eu sabia o que ela estava sentindo, sabia que parecia partir ao meio, mas que é possível viver depois disso.

E foi exatamente isso que fiz. Deixei os pequenos em casa com a Lalá e corri para o velório. Fui a primeira da turma a chegar e, assim que cheguei, soube logo que ele sofrera um acidente no autódromo, enquanto corria de kart. Assim que ela me viu, ela disse: "Ow, minha amiga, me diz como você aguentou porque dói demais! A gente tava tão feliz. A gente fazia tudo junto... Por que, Marcele?". E eu não consegui falar nada, só chorar, chorar, chorar abraçada a ela. O meu janeiro trágico se repete agora num novembro para ela.

Ver alguém que a gente quer tanto bem perder o chão, o rumo, o prumo, metade da vida que escolheu para si, o sentido de quase tudo, me faz entender que essa vida não faz sentido. Eu não consegui, na minha tragédia, encontrar uma só razão plausível. E, mesmo tendo desistido de encontrar, eu não consigo me convencer nem de que a missão dele estava cumprida, até porque eu acho que o que ele podia fazer no futuro era muito mais do que ele já havia feito. É devastador, é enlouquecedor, é definitivamente uma DOR por que ninguém deveria passar.

Enfrentar esse processo todo, agora como espectadora, me faz refletir demais sobre esse momento da perda. Ela também estava com a aliança dele na correntinha do pescoço, ela também trouxe um paninho para colocar dentro do caixão, ela também tinha um olhar perdido para o mundo ao redor, ela também precisou de medicamentos para suportar, ela também relutou em acreditar (embora tivesse assistido ao acidente no autódromo), ela também queria saber porque, ela também se sentia perdida e sozinha no mundo... E eu imagino que tantos outros questionamentos e sentimentos que eu tive devam estar permeando o pensamento e o coração dela.

Segurar a mão dela nesse momento é voltar ao dia um. E, muito embora eu não seja mais protagonista, a dor que me toma é tão grande quanto. É a dor de quem sabe o quanto dói. É a dor de quem passou por isso. É a dor que não cicatrizou e que eu nem sei se vai, algum dia, cicatrizar. É dor e ponto final.

PS: Força, Ju!

5 comentários:

Mirys disse...

Força Cele!!!
Força Jú!!!

E que o mais lindo da história de vocês 4 sobreviva depois de mais esse temporal...

Meninas, eu sinto muitíssimo!!!

Bjos no coração das duas.
Agora, só agora, eu queria morar no Rio para tentar dividir... porque é pesado DEMAIS...

Mirys

Cele disse...

Mirys,

Só pra ficar claro: a gente mora em Fortaleza-CE, não no Rio!

Dinorah disse...

Dizer o que para uma dor destas? Não existem palavras, não existe conselho que sirva, mas o carinho dos amigos é um lenitivo, de resto, só o tempo, só o tempo...
um abraço

Mirys Segalla disse...

Poxa, Cele: acho que ando passeando pelo blog da Mariana (contos de uma mãe polvo) demais... e ela está no RJ... e aquilo lá está uma loucura... ela manda a filha pra escola e orienta para que se o motorista da vãn escolar gritar "abaixem", ela deve abaixar a cabeça rápido. Isso não é vida!!! Não consigo me desligar dessa história...

Falar que eu queria estar em Fortaleza com vocês é sacanagem... PORQUE EU QUERIA MESMO!!!!! Passei meu último aniversário de casada aí! Comemorei num bar/restaurante muuuuito bacana, que tem umas plataformas sobre a água, na frente da praia, no fim da rua do calcadão, indo pro Norte... não sei se sabe onde é...

O Fer queria comer lagosta. Ele nunca tinha comido lagosta e eu vivia falando que era uma das melhores coisas que eu tinha comido. Paramos lá porque tinha lagosta no cardápio (e porque era lindo!), mas... não tinha na cozinha! Comemos outras coisas e foi igualmente ótimo. Saudades boas...

Bjos e bençãos, pra você e pra Jú.

Lu disse...

Cele e Ju,
Eu queria ter palavras para confortar, mas eu sei muito bem que NADA nos conforta nessa hora.
Bem, estou aqui para dividir a dor com vocês. Mesmo que virtualmente.
São as palavras de quem sente a dor na pele e só de ler a dor de outra revive e chora tudo de novo.
Desculpem o testamento.
Bjs mil