Sabe quando se está a poucos metros da linha de chegada e, mesmo exaurido pela corrida toda, você se sente aliviado por ver o fim ali tão próximo?!?! Sabe quando se sobrevive a um naufrágio e depois de alguns dias nadando em alto mar, finalmente, se consegue ver a costa?!?! Sabe quando depois de várias horas em trabalho de parto a criança simplesmente nasce?!? Sabe quando se é tomado pela sensação de alívio e paz depois de um período longo de angústia e dor e sofrimento?!?! Pois bem. Era exatamente assim que eu me sentia até ontem. Era essa sensação de que pronto, acabou. 2011 estava ali batendo na minha porta e, enfim, esse 2010 triste, pesado, doído estava indo embora.
Mas aí, vem a rasteira, vem o baque, vem essa dor em erupção de novo, vêm essas lágrimas que não consigo conter, vem esse peso nos ombros, essa sensação ruim de que nada nunca mais vai ficar no lugar, essa dor de barriga que teima em me afligir como se fosse o janeiro trágico em replay. Vem na cabeça a imagem da minha amiga parecendo um farrapo humano, dobrada, envergada por essa dor, com olhos perdidos, dopada e a vaga ideia de como eu estava naquele dia de janeiro. Vem junto uma sensação de vazio, de que não passa, de que não cura, de que é impossível superar porque a vida traiçoeira sai pregando peças para me lembrar do quanto dói.
O choro rompe meu peito e sai despedaçado, cortante, crispado, quase impossível de controlar. Eu choro como se janeiro fosse, eu choro como se fosse comigo de novo. Eu choro porque eu não consegui dizer nada que confortasse minha amiga, que agora carrega consigo o peso da mesma palavra: viúva. Eu choro para esvaziar a falta que eu ainda sinto dele, para secar de novo, para limpar esse buraco que nada preenche, esse buraco-cicatriz que não para de sangrar. Eu choro sem ombro, sem mão, sem companhia, sem ele. Eu choro por mim e por ela, por estes tristes desígnios de duas mulheres que viviam a felicidade. Choro por esta revolta aqui dentro que não passa, essa irresignação, essa avalanche de sentimentos...
Eu queria poder dormir agora e acordar em 2011. Eu queria fugir dessa puxada de tapete. Eu queria rir da piada de humor negro, receber um" tcharã! brincadeirinha!" que me fizesse ter ódio do palhaço mas me devolvesse a sensação de que não-é-nada-disso-que-você-está-pensando. Eu queria um motivo para acreditar de novo, porque tá ficando difícil. Eu queria de volta as pessoas que me tomaram este ano. Eu queria retroceder. Eu queria ser feliz daquele jeito torto. Eu queria continuar escrevendo uma história de trás pra frente. A minha história, cheia de vacilos e perdões, cheia de amor e de compreensão, cheia de alegria. Eu não queria estar aqui neste momento e eu não queria viver nem ver isso acontecer comigo nem com ela nem com ninguém.
E, se essa dor que me arrebate agora não for embora logo, eu só peço paciência e um pouquinho de compreensão. É que quando eu achava que nada mais poderia acontecer no pior ano da minha vida...
4 comentários:
Força Cele e Ju!!
Fica bem, minha querida...força e fé na vida que ainda temos. Nessas horas, só Deus para nos oferecer conforto. Um beijo grande no seu coração lindo!
Cele: alguém muito novo mas muito sábio, do meu cotidiano, me disse para "sentir". Sentir tristeza, cansaço, dor, solidão, frio, vontade de chorar, apatia, dor, dor, dor. Esse era o meu momento para tudo isso e se alguém não entendesse o problema era do outro, não meu!
Acho que ele falou isso porque só assim somos capazes de emergir, novamente. Já pegamos todas as pérolas que estavam beeeem lá embaixo, guardamo pertinho do coração e voltamos à tona.
Então, se você tem mais pérolas para colher, amiga, vá! Chore, sofra, grite, viva essa dor (não DESSA dor) enquanto ela está aí, mesmo. POrque um dia, ah... um dia, ela vai embora pra nunca mais voltar!
Bjos e bençãos.
Mirys
Marcele, nada que eu disser vai te confortar. Porém, preciso dizer algo: Isso tudo é dificil de aceitar sim, revolta sim, mas faz parte da vida. E não pense que suas provações são maiores e piores do q as do vizinho... A nossa vida aqui na terra é pra gente evoluir, e todas as pedras que encontramos pra nos atrapalhar nesse caminho de evolução fazem parte mesmo. Eu sei q dói e sei que muitas tragédias deixam marcas pra uma vida inteira...
Mas me responda; afinal quem nunca perdeu alguém que ama? Se não perdeu ainda vai perder...Isso é natural da nossa vida, apenas é difícil de aceitar.
Mas particularmente eu tenho uma certeza, o reencontro é certo!
Acredito muito nisso, aliás, preciso acreditar pra amenizar essas dores.
Tente ficar bem.
Um abraço!
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