sábado, 20 de novembro de 2010

Dez meses

Faz dez meses que o mundo virou de cabeça pra baixo. Faz esse tempo todo que eu ando com a vista empoeirada, sem conseguir olhar direito para o que me cerca, nem encher o pulmão de ar puro. Faz dez meses que eu ando meio perdida, tateando no escuro. E, nesse tempo, as certezas que eu tinha sempre foram precedidas por "não". Eu soube desde o primeiro momento o que eu não aguentava fazer, o que eu não suportava, o que eu não queria, o que eu não era capaz... Se me perguntassem o que eu queria, o que faria ou o que eu suportava; eu não sabia. Acho que ainda não sei. Mas eu sempre soube todos os nãos.

Saber o que eu não queria e o que eu não aguentava foi muito bom nesse processo todo. Ajudou muito nas escolhas dos caminhos que segui. Mas não foi só isso. Eu também fugi de tudo aquilo que me causava a dor. Claro que eu só podia fugir do que estava sob meu controle. Foi assim que eu passei a maior parte das datas comemorativas do ano. Foi assim que eu me desfiz das roupas e sapatos dele (cinco meses depois). Foi assim que eu tirei a aliança do dedo. Pode parecer tapar o sol com a peneira, porque ano que vem as datas se repetirão, as fotos permanecerão e eu vou topar com muita coisa dele pelo meu caminho ainda, inveitavelmente. Mas ó, com quatro meses dói muito mais que com um ano e quatro meses. Foi assim que eu consegui: escondida do foco de dor.

Todavia, se me perguntassem agora o que me manteve de pé, eu acho que foi mesmo essa vontadezinha aqui dentro de mim de ser feliz. Ainda que sem ele. Ainda que tendo sobrevivido ao meu pior pesadelo. Ainda que com uma saudade que mais parece uma doença. Ainda que com um peso enorme nas costas. Ainda que tudo. Alguém me mandou, num comentário aqui do blog, uma passagem do filme "PS: Eu te amo" em que o cara fala que ela foi toda a vida dele e que ele será só mais um capítulo na história dela. E é assim que eu penso. Ainda tenho muitas outras páginas a preencher. Pode ser que este tenha sido o capítulo mais feliz da minha existência inteira, mas virão outros e eu quero estar inteira, aberta e pronta.

O que mais ouvi nestes dez meses foi que eu era muito nova para passar por tudo isso. Sou sim. Sou mesmo. E, embora eu tenha perdido muito, ganhei auto-conhecimento, auto-confiança, perspectiva do que realmente importa, visão maior de mundo e das pessoas que me cercam. Ganhei amigos novos e usados e herdados. Ganhei liberdade, não no sentido de poder fazer o que quiser. Mas ganhei essa sensação de que poucas coisas na vida poderão me fazer sofrer mais que isso, então, por que não tentar?

Pode parecer loucura: mas foi quando eu me despedaçei em caquinhos que eu me tornei mais inteira. E isso me faz muito melhor hoje. Não sei ainda se há alguém no comando, nem sei se essa tragédia tem uma razão de ser; mas eu sei que passar por isso vai me tornar mais capaz ainda de ser feliz, do jeito que eu quero: no superlativo máximo possível.

3 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí! Força!
bjusss

Danieli Paiva disse...

Senti a sua tristeza em mim! Força e sorte nessa sua caminhada...

Mirys Segalla disse...

Cele: você está certíssima - fomos quebradas em 1.000.000 pedaços, mas pudemos analisar cada um deles, jogar fora o que não era legal, pegar uns novos na prateleira e colar tudo de novo, para recomeçar, como pessoas mais fortes, mais seguras, com mais VIDA!

Como diz a música: there´s more room in a broken heart!

Let it be, sweet girl! Let it be!... Someday, someone will fall in love with this new girl, stronger, more beautiful, better in so many ways!

Mirys

PS - você já leu o post do dia da doação das roupas pra mim? SE estiver em condições, leia http://diariodos3mosqueteiros.blogspot.com/2010/05/4-meses-depois-as-coisas-dele-diario-da.html