segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Onze meses

O Anjo Mais Velho - Teatro Mágico
http://www.youtube.com/watch?v=dnga63bL0p4

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu
deixei de acreditar
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto...

depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar


E, num susto, o fim de ano chega; e, num susto, onze meses se passaram. Onze meses dessa ausência que faz silêncio em todo lugar. Onze meses e ainda dói. Tudo. Muito. Onze meses e eu ainda olho para foto dele, da formatura, vestido de médico, com o sorriso arrasador e pergunto: "Por que você teve de morrer, hein, Thi?"

Junto com esse ano infeliz que vai embora, vai se encerrando também o primeiro ciclo, o primeiro ano, o primeiro tudo sem ele. E, por mais que eu anteveja a carga pesada do janeiro trágico que faz aniversário; acredito que tudo vai ter a sensação de eu-já-passei-por-isso. Ainda dói demais, é fato. Ainda é inacreditável. Ainda me deixa mortificada por dentro. Matheus ainda me faz perguntas difíceis, onze meses depois. Ainda pergunta pelo pai e ainda tem muitas lembranças mesmo que 1/4 da vida dele tenha passado desde o acidente. De algum modo, o que nos resta é olhar para frente, é superar a dor e deixar crescer a sensação de que ele está lá do outro lado, ajudando a gente; e eu aqui, aos trancos e barrancos, segurando as pontas da lucidez.

Eu tenho um compromisso com o que ele foi, com o exemplo que ele é para os nosso filhos. Tenho um compromisso com a história dele. Eu sei que muitas coisas vão se perder no redemoinho da memória, mas eu não quero que os pequenos percam nem a imagem nem as histórias do pai. E é desse jeito que eu quero levar minha vida: parte com essa saudade, com os verbos conjugados no pretérito perfeito e no futuro do pretérito; outra parte com essa força que vem não sei de onde, com coragem, com esperança.

Eu não sei pra onde a gente vai nessa estrada tortuosa em que fomos jogados há onze meses. Eu não sei o que há no futuro e talvez seja essa incerteza que gere toda a magia. Eu só vou torcendo para que seja tudo melhor, tudo mais tranquilo e em paz. Que seja doce.

2 comentários:

Mirys Segalla disse...

Nem me fale, Cele... nem me fale...

Meus onze meses se completam em breve (graças a TUDO, não no dia de natal) e me pergunto a mesma coisa: como cheguei até aqui? Como consegui caminhar tanto, sem pernas (nem braços, nem cabeça, nem coração)?

Como dizia Chico Buarque (adaptado na última palavra) "se no silencio das noites eternas já misturamos tanto nossas pernas, me diz, agora, com que pernas hei de continuar?"

Bjos e bençãos.

Mirys - pensando e orando por você!
Fique bem!

O Divã Dellas disse...

Ninguém consegue sentir a dor do outro... Por que a cada um é dado somente o seu.
Tantas perguntas sem respostas, tantos 'porquês' soltos no ar, tantas dores...
Momentos em que a gente conhece o fundo do poço, sente a lama nos pés e questiona duvidosamente: 'Deus'?
Mas a vida vai muito além de nossa visão limitada.
E quando temos filhos, temos força dobrada... Mães são guerreiras... Se todo o resto dói, então que os filhos sejam o maior proposito.
Deus... Esse sabe de tudo e sabe do que a gente precisa. É difícil, mas o mais sábio é encostar a cabeça no ombro dEle e confiar.
Paz pra vocês.
E sabedoria para reconstruir, seguir.
Amém.
Cinthya